quinta-feira, 15 de maio de 2008

Entrevista - André Matos


Introdução por Guilherme Vasconcelos
Entrevista por Guilherme Vasconcelos e Giácomo Degani


Consagrado como uma das maiores vozes do metal nacional e internacional, André Matos, 36, dispensa grandes apresentações. Responsável por trazer influências clássicas e de ritmos regionais brasileiros ao Heavy Metal nacional, ele elevou o estilo a novos patamares desde a gravação do seu primeiro álbum com o VIPER em 1987, quando tinha apenas 15 anos. Desde então, teve passagens bastante destacadas pelo ANGRA - banda em que obteve maior sucesso - e pelo SHAMAN. Agora em carreira solo, André Matos está em turnê para divulgar Time To Be Free, o seu mais novo álbum. Aproveitando a presença do músico em Salvador, o Universo Heavy Metal e o Nascedouro Musical foram até o Shopping Salvador, no dia 26 de Abril, para fazer esta curta - foi o que deu para perguntar em 7 minutos -, mas valiosa entrevista.


UHM E NM: Como e qual foi o seu primeiro contato com a música e, mais especificamente, com o Heavy Metal?

Matos: Com a música foi quando eu comecei a estudar música ainda criança. Eu tinha dez anos. Comecei a estudar piano e gostei. Segui estudando e não demorou muito tempo para eu ter contato com o rock não. Com onze, doze anos, eu já comprei o meu primeiro disco de rock, que foi o Fair Warning do VAN HALEN, e já quis montar a primeira banda. Com treze, eu já fiz o primeiro show com o VIPER.

UHM E NM: Já era uma turnê realmente? Ou um show isolado?

Matos: Não. Naquela época era muito difícil uma banda de moleque fazer um show, então a gente conseguiu assim numa sorte, numa data, em um festival que tava tendo. E a partir daí começou... E foi um começo muito legal. Era muito cedo para todos nós. Eu tinha treze e os outros catorze ou quinze. Na verdade, era quase uma brincadeira. Em vez de montarmos um time de futebol, montamos uma banda.

UHM E NM: E houve algum tipo de resistência por parte da sua família quando você decidiu seguir a carreira artística?

Matos: Não, não. Pelo contrário, a minha família sempre me apoiou bastante, incentivaram. Sempre quando eu ia fazer show eles estavam presentes, assistindo. Disso eu não posso reclamar. O apoio de minha família sempre foi total.

UHM E NM: Quais são suas principais influências musicais e em quais vocalistas você mais se inspirou?

Matos: Bem... Música Clássica que é minha formação. Eu sou formado em Música Clássica [N.T.: Ele é Bacharel em Regência Orquestral e em Composição Musical, além de possuir habilitação em Canto Lírico e em Piano Erudito]. Mas, fora isso, eu gosto muito de bandas como QUEEN, por exemplo. Para falar de bandas mais pesadas, talvez, a gente pode começar a mencionar o DEEP PURPLE, pode mencionar o IRON MAIDEN, o JUDAS PRIEST. Houve vocalistas que desde cedo influenciaram bastante na minha formação. Eu citaria o Rob Halford (JUDAS PRIEST), Freddie Mercury (QUEEN), Bruce Dickinson (IRON MAIDEN), Ian Gillan (DEEP PURPLE), o Dio (BLACK SABBATH, RAINBOW), o Ozzy, o Geoff Tate (QUEENSRYCHE), o Eric Adams do MANOWAR que eu gosto muito...

UHM E NM: Qual a sua opinião sobre o público Headbanger? Você acha que ele é ainda muito conservador? Por exemplo, o “Holy Land” [N.T.: Álbum do ANGRA de 1996 do qual André Matos participou] sofreu muita resistência por conta de fusões com ritmos regionais brasileiros.

Matos: Isso está mudando. Na época do Holy Land, que já tem mais de dez anos, a gente enfrentou uma grande resistência por tentar fazer uma coisa diferente. Curiosamente, hoje, o Holy Land é considerado por muitos, inclusive por mim, o melhor CD do ANGRA. Então eu acho que...

Entrevista é interrompida por uma garotinha de aparentemente três ou quatro anos que veio pedir autógrafo para o vocalista.

(Risos nossos e do vocalista)


Matos: Então eu acho que isso que também fez o SEPULTURA com o Roots [N.T.: Álbum lançado em 1996 e que também foi um tanto quanto incompreendido em razão da fusão do Heavy Metal com ritmos tribais, utilizando instrumentos como berimbau e tambores] provocou um choque na época, mas foi mudando um pouco a cabeça do pessoal. Hoje, eles são mais abertos. Convenhamos, até em função da internet e da globalização existe acesso a um número infinitamente maior de informações. Isso foi abrindo a cabeça das pessoas. Hoje, eles são, vamos dizer assim, menos pragmáticos em relação a isso. Mas, naturalmente, você tem que respeitar os limites do estilo. Não dá também para fazer qualquer coisa. É uma liberdade dentro daquilo que eu me propus até hoje.

UHM E NM: E a Internet? Como você vê essa nova ferramenta?

Matos: A Internet é, realmente, a mídia do futuro, do presente já e do futuro. É uma mídia muito atraente. Eu acho que pode ser um bom meio de divulgação. Na verdade, ela tem seu lado bom e seu lado ruim. O lado bom é que ela fornece uma boa divulgação a custo baixo, e o lado ruim é que ela incentiva a não-venda de CDs e a pirataria e essa coisa toda. Hoje em dia, a gente está vendo quais são as conseqüências disso, vendo que não é só uma brincadeira. Mas, no geral, acredito que haja muito mais aspectos bons do que ruins, pois é graças à Internet que se tem uma democratização muito maior na música, principalmente no que se refere a bandas iniciantes.

UHM E NM: Você ainda compra CD?

Matos: Eu não baixo nenhuma música. Eu não tenho nenhum programa de baixar música. Eu sou um cara mais tradicionalista nesse sentido. Eu nasci em uma geração que ainda tinha esse costume. Mas com as gerações mais novas eu já não sei como vai ser.

UHM E NM: Você, em recente entrevista ao site Metal Clube, disse que o VIPER prosperou em uma época em que nada era fácil no Brasil. E hoje, é mais fácil para uma banda de metal se inserir na indústria musical e obter reconhecimento?

Matos: De fato, não dá para comparar com a época do VIPER [N.T: Início dos anos 90]. Era muito difícil e muito raro, principalmente, em termos de Brasil. Mas já nas épocas do SHAMAN e do ANGRA houve uma melhora no mercado para este tipo de música. Eu acho que isso é uma coisa que sempre tem altos e baixos. O importante é a gente saber que o nosso estilo tem um público underground, um público fiel e é o que sempre sustenta as bandas. Eu não digo financeiramente, mas, sim, em termos de suporte e apoio. É isso que a gente tem, sempre, que prestar atenção e respeitar muito, independente do mercado estar mais aquecido ou menos aquecido para esse tipo de música.

Nova interrupção. Agora, a assessora de imprensa diz que só poderemos fazer mais uma pergunta por conta de compromissos do cantor. Nossa insistência em fazer mais duas ou três perguntas não surge efeito. A assessora se mostra irredutível.

UHM E NM: Para terminar. Quais novas bandas de metal você tem ouvido e quais delas você destacaria?

Matos: Olha, as bandas que eu gosto de Heavy Metal não são tão novas assim. Eu ouço muita coisa velha, discos antigos. Eu acho que tem certas coisas que são imbatíveis e atemporais. Das coisas mais recentes que apareceram, eu acho que os mais originais, que talvez nem sejam tão recentes, mas que fazem música mais atual, mais original é o RAMMSTEIN e o PARADISE LOST. Nada a ver com o que eu faço, mas eu tenho muito respeito por essas duas bandas.

5 comentários:

Túlio disse...

Excelente entrevista. Que seja a primeira de muitas.

ninguém disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ninguém disse...

Primeira entrevista já com um dos ícones, vai ter sorte assim no INFERNO! heheheh
Só senti falta mesmo do incremento que você havia planejado para última pergunta... culpemos a assessora de imprensa por isso!

jéssica. disse...

Mesmo sem ter feito todas as perguntas que vc queria - devido à interrupção de uma simpática garotinha e da assessora de imprensa - a entrevista ficou muito legal, Guilherme!
Só faltou o devido crédito a uma pessoa importantíssima que estava lá nesse dia para dar um apoio psicológico: Jéssica Rezende.

Carlene Fontoura disse...

gostei muito da entrevista. achei as perguntas relevantes. na verdade, gosto do seu blog, lembra momentos antigos meus quando o heavy metal fazia parte do meu playlist. parabéns!!