terça-feira, 27 de maio de 2008

Iron Maiden no Brasil - A matéria do Fantástico

O Iron Maiden esteve no Brasil no início de Março para fazer shows referentes à Somewhere Back in Time World Tour em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Como a passagem do sexteto inglês - sexteto, viu Sérgio Martins? - causou bastante rebuliço - todos os shows foram sold out -, a grande mídia não poderia fazer de conta que o Heavy Metal não existe, como costuma fazer. Quer dizer, das grandes redes de televisão, só a Globo e a Record produziram reportagens sobre a passagem da banda. A sucursal da Record em Porto Alegre produziu uma matéria para exibição em um telejornal local. Já a Globo produziu duas, ambas de alcance nacional: uma veiculada no Jornal da Globo e a outra no Fantástico. Analisemos esta última, a cargo do jornalista Álvaro Pereira Júnior.


Primeiro, o vídeo:






Agora, o primeiro equívoco da matéria.

"O mundo do rock se divide em dois. Um deles gira a toda velocidade, novidades surgem a cada segundo, está em renovação constante. Mas o outro mundo do rock está parado e é nesse mundo em que nada muda que reina absoluta uma banda inglesa de metal pesado: Iron Maiden"

É assim que, de forma bastante infeliz, Álvaro Pereira Júnior - pupilo de Sérgio Martins? - começa a sua reportagem. Bem, dizer que o heavy metal é um gênero musical estático e imutável só revela o despreparo, o desconhecimento e, principalmente, a preguiça do jornalista. O Heavy Metal é, possivelmente, uma das vertentes do rock que mais evoluiu desde o seu surgimento. Prova disso são as suas inúmeras segmentações - doom metal, thrash metal, metal neoclássico, metal tradicional, metal melódico, metal progressivo etc - que, apesar de terem uma essência em comum, apresentam características próprias. Além disso, os músicos de Heavy Metal estão, sem dúvida alguma, entre os mais inquietos do mundo do rock. Grande parte deles está sempre se aperfeiçoando e buscando novas influências para a sua música. O rock pesado já se fundiu ao jazz, à world music, à música clássica, a ritmos regionais brasileiros, a ritmos indígenas, ao hardcore, ao punk, ao progressivo e outros. Ou seja, é justamente o contrário do que afirma Álvaro Pereira Júnior.

Para completar, o jornalista ainda confronta o Heavy metal com um outro mundo do rock - segundo a reportagem, esse seria o mundo dinâmico e inovador - formado por bandas como Arctic Monkeys, Oasis e The Libertines. Ora, quem já escutou o som praticado por esses grupos sabe que até hoje eles não conseguiram expandir seus horizontes musicais para além de um rock básico e direto. Essas bandas é que são mais do mesmo. São, em termos musicais, muito mais conservadoras e antiquadas do que a maioria - claro que há exceções, vide o Motörhead - das bandas de Heavy Metal.

Por último, o segundo equívoco que, na verdade, é uma repetição localizada do primeiro.

"Muitos músicos entraram e saíram, mas o som [do Iron Maiden] não mudou : 100% metal."

Não é possível que uma pessoa, em sã consciência e que tenha uma discoteca minimamente considerável, não seja capaz de perceber diferenças ululantes entre álbuns como Iron Maiden (1980) e A Matter of Life And Death (2006) ou entre Powerslave (1985) e The X-Factor (1995). É realmente mais fácil homogeneizar, generalizar, estereotipar do que analisar as diferentes fases pelas quais a banda passou. Requer menos esforço e facilita a compreensão da reportagem. Aliás, será que antes de falar que o som do Maiden permaneceu parado no tempo - uma baboseira colossal -, o jornalista se deu ao trabalho de ouvir pelo menos dois álbuns do sexteto inglês?

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OBS: Há pouco tempo, a Globo transmitiu os shows do Rolling Stones, do U2 e do The Police quando essas bandas aqui estiveram. E por qual razão não transmitiu o show do Maiden em São Paulo se, como ficou comprovado ao final da matéria supracitada, filmou a apresentação?

Um comentário:

Son Akira e Sasha Spider, plutonianos perdidos, sem planeta, e, agora, editores-chefes da tribuna mais revolucionária da órbita terrestre! disse...

Sobre a matéria da Fantástico, sinceramente, surpreendo-me com qualquer surpresa negativa em relação a tudo que o "cult-blasé" Álvaro Pereira Jr. produz. Toda segunda-feira ele dá shows(mais impressionantes que o vocal poderoso de qualquer Bruce Dickinson ou Ronnie James Dio) de arrogância e precoceito em sua coluna na Folha de São Paulo. Em se tratando deste cidadão, ele foi bastante compreensivo e minucioso diante do que já escrevera. Chegou ao cúmulo de dizer, por exemplo, que(PASMEM!) "os fãs do Djavan eram mais inteligentes do que os do Iron Maiden"!