quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Da série: Farsas do Rock n' Roll - O Cansei de Ser Sexy já cansou no segundo disco


Thiago (El Cid) Cardim

Publicado originalmente no Whiplash


Nota: 3

Desde aquela mal-fadada apresentação que presenciei no TIM Festival de 2004, sinto calafrios toda vez que ouço falar o nome Cansei de Ser Sexy. Aliás, quem me conhece sabe que sinto uma espécie de rejeição imediata por estes hypes automáticos, estas bandas que, do meio do nada com coisa nenhuma, todos os críticos começam a erguer ao status de cult obrigatório, nos fazendo engolir garganta abaixo – haja vista o recente “fenômeno” Mallu Magalhães.

No caso do CSS, no entanto, foi ainda pior. Eles começaram a construir uma carreira internacional, tornando-se darlings da imprensa inglesa e capa da prestigiada (?) revista NME. Há quem defenda que, meses depois, sua sonoridade pouco lembrava aquela desastrosa apresentação aqui no Brasil. Pra mim, era balela. O CSS continuava sendo um electro rock tosco, tocado por músicos que, essencialmente, não sabiam tocar – com exceção do líder Adriano Cintra, veja bem. A diferença é que, depois de tanto falatório, os integrantes da banda largaram a postura despretensiosa e se convenceram de fato de que eram rockstars do primeiro escalão, com direito a toda a arrogância que vem no pacote. Mas não estamos aqui para discutir isso, não é mesmo?

Eis, então, que chega o segundo disco, “Donkey”. E...uau, que mudança! Daquelas surpreendentes. A produção é mesmo de primeiro nível, a sonoridade ficou muito mais indie rock do que electro, a parte instrumental teve uma melhora visível. E o que aconteceu nesta transformação milagrosa, meus caros? Catso, o CSS perdeu a personalidade! Como num passe de mágica! Eu não gostava daquele CSS do primeiro disco, vá lá. Mas aquele era o CSS. Inegavelmente. Impossível não reconhecer. Em “Donkey”, o grupo se transformou em uma bandinha britânica default, template, básica, igual àquelas dezenas que saem do forno brit-rock todas as semanas. Juro que eu preferia que eles tivessem continuado toscos. Pelo menos dá para falar mal com propriedade.

A grande ironia é que, justamente em seu segundo disco, considerado a barreira definitiva para mostrar a que veio de fato uma banda, o CSS inventou de se reinventar. Chamou um produtor figurão como Mark “Spike” Stent (Björk, Madonna, Radiohead) para mixar a bagaça e, tentando mostrar amadurecimento musical, agora a banda quer provar que pode ser rock ‘n’ roll. Quando se escuta músicas como “Give Up”, “Left Behind” e o single “Rat Is Dead (Rage)”, por exemplo, a única sensação que se têm é que se tratam de covers. Sim, releituras de músicas que, com toda certeza alguém já gravou antes. Mas... não. São canções inéditas. Pasme.

A primeira tem um gostinho do brit-rock que tomou as paradas de sucesso mundiais na década de 90. A segunda leva um cheirinho facilmente reconhecível de new wave. E a última tem lá a sua guitarra raivosa com ecos nítidos no grunge. O humor? A irreverência? A esperteza? A novidade? Passaram longe.

Sobreviventes a uma mudança radical que os transformou de “a” banda em “uma” banda, as canções “Move” e “Let’s Reggae All Night” são as únicas que carregam uma sensação de evolução direta com relação ao trabalho do primeiro álbum, auto-intitulado. Ambas são dançantes, com efeitos anos 80 meio kitsch, funcionando como elo de ligação entre a bobagem mal e porcamente executada anteriormente com um mundo de estúdios e mesas de produção melhor acabados.

O mais interessante, acreditem ou não, é que eu não sou o único a ter esta opinião! Na verdade, embora meus textos costumem divergir freqüentemente do que acha a imprensa internacional – em especial aquela que gosta de se considerar “indie” – desta vez estamos todos de acordo. Até mesmo os fãs costumeiros do entourage de Lovefoxx não entenderam muito bem o que aconteceu no processo. A proposta ficou borrada.

Mas esta não é a minha grande questão. Pra mim, a pergunta que não quer calar é: depois de ver a reação morna que “Donkey” recebeu na imprensa, derrubando-os de seu status de queridinhos da vez, qual será o próximo passo do CSS? Voltar ao que era antes? Mudar o percurso evolutivo para um terceiro disco? Ou inventar uma nova direção? Nem arrisco um palpite. Mas...há. Estão aí cenas do próximo capítulo que eu adoraria ver.

Line-Up:Lovefoxx – Vocal Ana Rezende – Guitarra e TecladoCarolina Parra – Guitarra, Bateria e Backing VocalLuiza Sá – Guitarra e Teclado Adriano Cintra – Baixo e Backing Vocal

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Comentários do blog

1- Qual será a próxima banda de British Rock a ser abraçada e descartada pela mídia ávida por salvadores do rock?

2- Mais uma vez enfatizo que guitarras e riffs bem definidos são condições de existência do Rock. O riff é a simbolização do desacordo, da inadequação, da rebeldia, da revolta. De novo: sem riffs e guitarras bem definidos, em primeiro plano, não há Rock. Há Pop. Portanto, o que se chama de British Rock ou Indie Rock - a independência começa no nome e termina nele - não passa de um Pop sofrível e acomodado, infenso a evoluções e a flertes com outros estilos musicais. Logo, o que precisa de salvação - se é que precisa mesmo - é o Pop ou, pelo menos, esse segmento do Pop.

O Rock respira e respira bem, sem ajuda de aparelhos. Que o diga o Ac/Dc, o Metallica, o Nevermore, o Kamelot, o Almah, o Pain of Salvation, o Joe Satriani, o Testament, o Dream Theater, o Symphony X....