sexta-feira, 23 de maio de 2008

Helloween - Keeper Of The Seven Keys 1


Sem conseguir obter êxito nos papéis de vocalista e guitarrista do Helloween, Kai Hansen passa a se dedicar apenas à segunda função. Para o posto de vocalista é recrutado o jovem – com apenas 18 anos na época – Michael Kiske, peça que se mostraria fundamental no processo de reconstrução da banda. É a partir daí que a abóbora alemã começa a alçar vôos mais altos rumo ao estrelato mundial. É com o Keeper of The Seven Keys Part I (1987) que o Helloween abandona o irregular Thrash Metal Melódico do primeiro CD - Walls of Jericho (1985) - e inicia o desenvolvimento do que mais tarde seria alcunhado de Heavy Metal Melódico.

Se alguém me pedisse para definir esse álbum com uma só palavra, esta seria clássico. Muito clássico. Músicas extremamente sinceras, cheias de feeling, pegada e o que considero mais de meio caminho andado para se compor uma boa canção: riffs sensacionais. Tudo isso sem contar as letras, um dos maiores diferenciais do grupo na época. Quando o cenário metálico era dominado pela rabugice e pelo mau humor das bandas de Thrash, o Helloween surge como uma banda divertidíssima, alegre e até pueril, infantil. Suas letras, além de serem verdadeiros convites à felicidade e de serem mais eficientes que qualquer livro de auto-ajuda – para que ler Augusto Cury se Kai Hansen, principal compositor da primeira parte de Keeper of The Seven Keys, é bem mais poético e menos pretensioso? –, criam uma identificação imediata com os ouvintes mais sensíveis ao dialogar naturalmente com as melodias marcantes e cantáveis, marca registrada do quinteto.

Initiation é a breve introdução – quantas bandas de Metal Melódico começaram seus discos com introduções instrumentais? – que prepara o ouvinte para a sucessão de clássicos. A up-tempo I’m Alive abre o petardo com seu refrão deveras simples e contagiante e com os agradáveis solos melódicos, deixando claro que os alemães beberam bastante em fontes maidenianas, principalmente no que se refere à presença constante das twin guitars e dos vocais altos e cristalinos.

Segue-se A Little Time, a primeira contribuição de Kiske para a banda e a única nesse disco. Música bem direta, sem grandes variações e que tem na melodia vocal o seu diferencial criativo. Particularmente, prefiro a versão dessa canção no Live In The Uk (outro CD obrigatório), muito mais pesada e encorpada em termos guitarrísticos e sem os hiatos instrumentais da versão original.

Com Twilight of the Gods, começam a aparecer os ótimos riffs. Além deles, um dos grandes méritos dessa faixa é a soberba performance do tenor Michal Kiske, dono de um alcance altamente invejável e de uma tremenda facilidade em atingir notas altíssimas sem soar repetitivo, como acontece com muitos vocalistas (o James Labrie do Dream Theater em Images and Words, por exemplo) que acham que cantar em agudos o tempo inteiro é sinônimo de virtuosismo. Outro ponto bastante positivo dessa canção é a fantástica melodia vocal do bridge, que, além de ser bem melhor do que o cadenciado refrão, é a principal responsável pela excelência da música.

Como quase todo bom álbum de melódico que se preze, o primeiro Keeper também tem a sua belíssima balada. É A Tale That Wasn’t Right, cuja letra um tanto quanto depressiva e melancólica destoa do restante do álbum. Destaque mais uma vez para Kiske, que, como qualquer vocalista de alto nível, não apenas canta, mas também interpreta, conferindo maior densidade e dramaticidade à faixa. Sem pieguice, claro.

A seguir vem o melhor riff com o espetacular hit Future world, canção que deve obrigatoriamente constar em qualquer lista respeitável de melhores músicas de metal de todos os tempos. Sua letra, que flerta com a utopia socialista e, mais precisamente, com a obra-prima A Utopia de Thomas Morus, projeta um mundo futurístico em que o amor, a fraternidade e a solidariedade são os sustentáculos da sociedade. Em termos musicais, o destaque é, de novo, Kiske. Ouça e você perceberá que qualquer elogio é não só insuficiente, mas também incapaz de descrever o brilhantismo da sua performance.

Na épica e apoteótica Halloween, que dura mais de treze minutos, fica explícito o perfeito entrosamento entre os guitarristas Michael Weikath e Kai Hansen. Solos inspirados, duetos embasbacantes, arranjos de uma criatividade ímpar e variações climáticas impensáveis. Halloween tem tudo isso e mais um pouco. Tem o falecido Ingo Schwichtenberg em uma verdadeira aula de como aplicar a técnica e o virtuosismo em favor da música e não como trampolim para exibicionismos individuais. Ele, que sempre criou linhas de bateria pulsantes e ousadas, deveria servir de exemplo a tantos outros bateristas de metal melódico que têm contribuído enormemente para a banalização do bumbo duplo e do próprio estilo, cada vez mais preso a clichês e a fórmulas saturadas. Outro que se distancia (ou se distanciava) da geração de músicos robotizados do melódico é o baixista Markus Grosskopf. Não contente em ser apenas um coadjuvante, ele concebe linhas de baixo assaz inovadoras e forma, junto com o baterista supracitado, uma cozinha indefectível. Como é prazeroso escutar uma música que, mesmo sendo tão longa para os padrões radiofônicos, não soa burocrática em momento algum.

Com a primeira parte dos Keepers, o Helloween começou a moldar um estilo que, posteriormente, viria a perder a sua áurea e a sua essência não só por conta da incorporação da mecanização e da rabugice impostas pelas demandas mercadológicas – vide o The Dark Ride (2000), do próprio Helloween – , mas também em função das inúmeras cópias e imitações que surgiram com o passar dos anos. Se você quiser ouvir e apreciar um Heavy Metal Melódico autêntico, genuíno e sincero, é altamente recomendável começar pelas duas primeiras partes dos Keepers. Inevitavelmente, tudo que veio depois, em termos de Metal Melódico, foi incomensuravelmente influenciado por estas duas obras-primas.

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Curiosidades


Michael Kiske foi escolhido para ser o vocalista da banda depois de interpretar a música Queen Of The Reich, do Queensrÿche.

O primeiro Keeper vendeu cerca de 500.000 cópias até hoje.

Quase todas as canções do Keeper 1 são creditadas a Kai Hansen. O outro principal compositor da banda, o guitarrista Michael Weikath, estava com problemas psicológicos na época e não gravou sequer as bases – todas a cargo de Hansen –, participando apenas dos solos.

Keeper of the Seven Keys 1 tem duas versões. A mais simples e mais antiga tem um encarte pobre e conta com faixa Judas, originalmente gravada em Walls Of Jericho, mesmo que não haja nenhuma menção à existência dessa música no encarte. A outra versão é mais completa, batizada de Expanded Edition. Esta, além de possuir um encarte mais recheado com várias fotos da época e capas de singles, tem quatro faixas adicionais, entre elas as regravações com a voz de Kiske de Starlight e Victim Of Fate, ambas do álbum de estréia.

2 comentários:

Srta.Chichierchio disse...

Ah Oii..
teu blog ta massa...
gostei msmo
eu curto essas paradas de Heavy Metal então ..
rsrsr
bom eu to começando um blog agora e dar uma olhada nos demais acho que é construtivo..
é issoo..
Tchau

Guilherme Vasconcelos disse...

valeu pelos elogios!