terça-feira, 24 de junho de 2008

Kamelot - Ghost Opera


Ghost Opera segura o brilhantismo de Epica (2003) e The Black Halo (2005) – dois dos melhores álbuns lançados nos últimos dez anos na música pesada – e mantém incólume a carreira de uma banda que há algum tempo já se acostumou com a excelência. A multidimensionalidade artística – isto é, o entrecruzamento entre música e outros segmentos do campo artístico -, uma característica que impulsionou o Kamelot para vôos musicais mais altos, é, mais uma vez, o segredo da rica e original sonoridade do quinteto.

Ouvir um álbum do Kamelot significa vivenciar uma das experiências emocionais mais singulares que se pode ter. Talvez nenhuma outra banda – com exceção do Dream Theater – seja capaz de proporcionar ao ouvinte um leque tão vasto de sensações e emoções. O Kamelot transita com absurda naturalidade entre a mais raivosa agressividade e a mais pura delicadeza, entre o mais desesperado grito e o mais doce sussurro.

O sucesso desta multidimensionalidade é garantido por dois fatores: a combinação mágica entre música clássica e Heavy Metal – estilos que se complementam por conta de suas aparentes disparidades – e a mistura inovadora entre música pesada, teatro e literatura clássica, algo que, pelo que se tem notícia, nenhuma outra banda ainda foi capaz de fazer. Sem exagero, pode-se até dizer que o Kamelot está encabeçando a criação de um novo subgênero cuja principal característica é a convergência entre os três segmentos artísticos supracitados.

Nos primeiros minutos de Ghost Opera, já é possível identificar a proposta da banda de impactar e conquistar o ouvinte através das mais discrepantes sonoridades. Solitaire, uma pequena introdução, abre com o refinamento de um violino melancólico e choroso. A seguir, Rule the World, ao mesmo tempo em que despeja peso na guitarra distorcida do talentoso Thomas Youngblood e na pulsante bateria de Casey Grillo, é marcada também por uma delicadeza e suavidade dignas de nota.

É essa fórmula, que consiste na contraposição e na mescla entre o peso e a calmaria e entre o metálico e o clássico, que o Kamelot segue durante todo o álbum. E se ela não se esgota e nem mostra sinais de fadiga em nenhum momento, é porque a banda, além da interminável criatividade para compor refrões marcantes e de um aprimorado senso melódico, sempre inclui experimentações e novos elementos para enriquecê-la e alimentá-la. Exemplos não faltam: o piano clássico de The Human Stain e da belíssima balada Anthem – que lembra a igualmente bela Abandoned de The Black Halo -, os efeitos vocais de Blücher e os vocais femininos líricos de Amanda Sommerville em Love You To Death, Mourning Star e na faixa-título. Entretanto, nenhum desses elementos contribui tanto para manter a fórmula viva e indefectível quanto dois personagens: o vocalista Roy Khan e o tecladista Oliver Palotai.

Khan, que em certos momentos lembra bastante os vocais operísticos do mestre Geoff Tate, é o grande responsável pelo salto de qualidade iniciado em Epica e pela reputação que o Kamelot vem construindo nos últimos anos. Seu timbre invejável, sua versatilidade e sua capacidade interpretativa – ainda mais potencializada ao vivo com movimentos cênicos e efeitos visuais, como ficou explícito no DVD One Cold Winter’s Night – dão à música do Kamelot uma profundidade, uma dramaticidade – vide a beleza incomensurável das linhas vocais da faixa-título e de Anthem – e uma teatralidade que destacam o grupo em meio a uma miríade de bandas insossas porque pouco emotivas.

Se Khan, uma das melhores novidades da música pesada, é a carga emocional do quinteto, Oliver Palotai é o requinte e a sofisticação. Seu trabalho, que já era elogiável em discos anteriores, ganha proporções maiores em Ghost Opera, álbum em que a veia clássica da banda é mais explorada. Os teclados, em conjunto com as orquestrações a cargo do competentíssimo produtor Miro, sem nunca soarem pomposos demais, criam camadas que ora realçam o peso da cozinha formada por Glenn Barry e Casey Grillo e da guitarra de Youngblood, ora fazem uma contraposição, suavizando as canções.

Ghost Opera é uma aquisição obrigatória para todos que desejam estar a par do que há de mais moderno e inovador no mundo do metal. Mais do que isso, é a chance de conferir de perto a evolução até o ápice criativo de uma excelente banda. Daqui em diante, com pelo menos três álbuns extremamente elogiados por crítica e público, já não é mais possível falar dos grandes nomes da música pesada sem, no mínimo, fazer uma menção honrosa a este quinteto norte-americano. É por discos como Ghost Opera e por bandas como o Kamelot que o Heavy Metal ainda emociona, encanta, fascina e sobrevive.

Tracklist:
1. Solitaire
2. Rule The World
3. Ghost Opera
4. The Human Stain
5. Blücher
6. Love You To Death
7. Up Through The Ashes
8. Mourning Star
9. Silence Of The Darkness
10. Anthem
11. EdenEcho

Ano:2007

Duração: 43:48

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