segunda-feira, 21 de abril de 2008

Os "equívocos" da Veja (1)



O famigerado pasquim chamado Veja, na sua edição 2024 de 5 de Setembro do ano passado, cometeu um grande "equívoco" ao falar sobre a banda de Thrash Metal estadunidense Megadeth. Aliás, erros e "equívocos" são bastante comuns quando a grande mídia se aventura a falar de Heavy Metal. Contudo, deixemos os outros casos de lado e nos concentremos nesse caso específico da Veja.

Na matéria intitulada "A direita do Rock", da autoria do jornalista (?) Sérgio Martins, há algumas das práticas indecorosas que notabilizaram a revista mencionada: descontextualização de declarações, interpretações equivocadas e maldosas e até invenção de fatos. Não, você não leu errado: o jornalista responsabiliza o Megadeth pela letra de uma música que nunca fez parte do seu repertório. Mas vamos por partes.

O objetivo da matéria em análise era mostrar uma suposta contradição entre os discursos de certas personalidades do mundo do rock e suas atitudes. Para tanto, Sérgio Martins toma como exemplo principal o líder e guitarrista do Megadeth, Dave Mustaine, que, segundo o jornalista, teria abandonado seus ideais liberais e progressistas para se tornar um conservador de primeira linha. É aí que a Veja começa a mostrar sua verdadeira face.

Para exemplificar a tal afirmação, o Sr. Sérgio Martins se vale da letra, de caráter bélico e xenofóbico, de uma música que denunciaria a faceta conservadora de Dave Mustaine. O problema é que a tal letra não consta em nenhum dos 11 álbuns de inéditas da carreira do Megadeth e muito menos no novo álbum, United Abominations (2007), como erroneamente afirma a matéria. Detalhe: o nome da música, informação que facilitaria a sua identificação, não é revelado por Sérgio Martins. Só para não deixar o hiato, a canção é de autoria de Clint Black, músico country, e atende pelo nome de "Iraq and Roll".

Além dessa falha imperdoável, a matéria está repleta de comentários superficiais, infantis e que se tornam até cômicos em função do desconhecimento e do despreparo do autor para falar sobre o tema. Em uma passagem, o jornalista afirma que o Megadeth "se notabilizou por tocar rock acima da velocidade permitida". Pergunta: Qual a velocidade permitida para se tocar rock?

Não, o Megadeth não se notabilizou pela velocidade com que toca seus instrumentos. Consagrou-se, antes, por seu estilo inconfundível, por suas letras ácidas e sarcásticas, pela técnica de seus membros, pela capacidade de unir um peso invejável e melodias memoráveis numa mesma canção, pela criatividade em criar riffs inimagináveis e por fazer poucas concessões às modas ciclicamente fabricadas e capitaneadas pela indústria musical. Até porque ninguém se torna referência de um estilo apenas por tocar na velocidade da luz. Se não houver qualidade, isto é, boas melodias, arranjos e harmonias, a velocidade fica para trás.

Em outro infeliz excerto, o autor descontextualiza uma declaração de Dave Mustaine para passar a impressão de que o vocalista apóia o governo Bush e suas investidas militares no Iraque. Em resposta a Mark Leon Goldberg - jornalista de um blog ligado à ONU -, que o criticou por uma suposta confusão com os nomes de grupos terroristas em uma das músicas de United Abominations, Mustaine disse que o álbum poderia até conter erros, mas que refletia o sentimento "de um patriota que ama Deus, sua pátria e sua família".

Sérgio Martins faz, então, uma interpretação capciosa dessa declaração, deixando a entender que ela é mais uma prova da ortodoxia de Mustaine. Não, é justamente por amar Deus - Mustaine é cristão -, sua pátria e sua família, que ele repudia o militarismo exacerbado e a truculência do governo Bush. O United Abominations (Abominações Unidas), na verdade, tece críticas virulentas à política imperialista estadunidense e à postura passiva da ONU diante dessa prática yanque. Ou seja, é justamente o contrário do que Sérgio Martins tenta transmitir na sua matéria: a idéia de que Dave Mustaine é um chauvinista.

De duas, uma: ou o jornalista não tem a capacidade de ler em inglês ou ele é mais um adepto do jornalismo preguiçoso e não teve disposição suficiente para checar algumas informações.

Eu fico com a segunda opção, porque ficar com duas é desconfiar demais da impoluta e idônea Veja.

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OBS:Parece que "os ralos dotes intelectuais" do Dave Mustaine são contagiosos, não é Sérgio Martins?



Um comentário:

Giácomo Degani disse...

Gostei da abordagem!!
Mais uma vez a Veja dá furada!!!!!!!
Mas, qual é a intenção verdadeira da Veja????
Demonizar o Rock??Ligar-lo a uma ideoligia que não condiz??Rock+Bush?????
É complicado saber que são veículos como este, que possuem grande circulação nacional!!E são eles que contribuem para a formação de opinião de grande parte do público!!
É a propagação da ignorância!!