segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Bruce Dickinson


Por Igor Z. Martins

Texto publicado no Whiplash

Inquestionavelmente, a fama e reputação de Bruce Dickinson se devem aos anos em que esse inglês de 50 anos passou no Iron Maiden. Nada de errado com isso, afinal, “o Maiden” é considerado por muitos como “a maior banda de metal de todos os tempos”. Dizem também que o Iron Maiden fez bem ao Bruce Dickinson e que o Bruce Dickinson fez bem ao Iron Maiden. Pois a banda decolou de vez quando Dickinson se juntou à mesma em 1982, no álbum The Number Of The Beast. E o cantor, que antes disso atuava como vocalista do Samson, banda sem uma razoável notabilidade na cena (não se comparada ao “sacrossanto” Iron Maiden), ficou conhecido mundialmente e se tornou um ícone, um deus protetor dos cavaleiros defensores do metal após o lançamento de seu primeiro álbum na banda do magnânimo e igualmente adorado baixista Steve Harris.

O que é de se admirar é que a carreira solo de Dickinson, que teve início em 1990, com o álbum Tattooed Millionaire, não seja tão – ou mais (sim, ou mais) – enaltecida que o Iron Maiden. Enquanto o Iron Maiden passou mais de um quarto de século praticamente (sem entrar nas particularidades da imensa discografia da banda) na mesma, Bruce Dickinson, ao longo de seis álbuns, experimentou, inovou e mostrou ao mundo uma face criativa competentíssima que pouco aparecia no Iron Maiden. Ele foi do hard rock à lá Los Angeles ao hard rock pesado com influências de música latina. Do rock alternativo ao metal.

Tudo bem, ninguém está chamando de estúpido aqueles que preferem o Iron Maiden à carreira solo de seu principal vocalista. Afinal de contas, existe a conhecida, adorada e velha questão de gosto. E, além do mais, todo mundo sabe que é difícil competir com “o Maiden”. Bandas e bandas competentíssimas são superadas pela Harris and Associates, tanto no sentido de vendas, como no sentido de preferência unânime. Por que, então, alguém iria propor que apenas um simples e mortal homem (sim, mortal, pois Dickinson só é um deus absoluto no Maiden) batesse o Iron? Loucura.

A discografia solo da carreira de Bruce Dickinson é composta por seis álbuns de estúdio, dois álbuns ao vivo e uma compilação. O primeiro álbum é Tattooed Millionaire (1990), lançado paralelamente às atividades de Dickinson no Iron Maiden. Esse primeiro álbum e toda a experiência solo de Bruce surgiram quando o vocalista foi convidado a escrever uma música para a trilha sonora da 5ª parte do filme de Freddy Krueger, A Hora do Pesadelo (A Nightmare On Elm Street). Origina-se daí Bring Your Daughter To The Slaughter, que fora gravada pelo Iron Maiden numa versão alternativa no criticado No Prayer For The Dying (1990).

Tattooed Millionaire traz uma sonoridade absolutamente diferente da proposta pelo Iron Maiden até então. O álbum, com Janick Gers nas guitarras (que viria a substituir Adrian Smith no Iron Maiden mesmo ano), Andy Carr no baixo e Fabio Del Rio na bateria, traz um competentíssimo hard rock, semelhante ao feito pelas bandas que inundavam a cena hard no final dos anos 80 e início da década de 90. Os destaques do álbum, além da faixa título, que se tornaria um dos grandes hits da carreira de Dickinson, são Son Of A Gun, Born In ‘58, Gypsy Road, Dive! Dive! Dive! e a versão para All The Young Dudes, gravada pelo Mott The Hoople, em 1972.

A atmosfera de Tattooed Millionaire recupera o lado rock n’roll esquecido pela maioria das bandas da época. Jaquetas de couro e jeans azul tomaram de novo o seu lugar que fora roubado por toda a purpurina e colorido exagerado dos anos 80. Além disso, Bruce apresenta uma abordagem vocal diferente daquela que o fez famoso, cheia de tons altos e melódicos. Dickinson, agora, apostara em uma performance mais visceral, rasgada e agressiva. O Iron Maiden também se afastara daquela coisa de calças apertadas e coloridas. Seus primeiros álbuns dos anos 90, No Prayer For The Dying e Fear Of The Dark (1992), o último álbum de estúdio com Bruce Dickinson na banda, antes de sua saída em 1993, também trazem, tanto no visual, quanto na sonoridade, um espírito mais "rocker" e menos “espetaculoso”, que marcou os lançamentos e turnês astronômicas de álbuns como Powerslave (1984) e Seventh Son Of A Seventh Son (1988).

Em 1993, Bruce Dickinson deixa o Iron Maiden para se dedicar à carreira solo. Em 1994 é lançado seu segundo álbum, Balls To Picasso, com influências de música latina, certamente trazidas pelo grupo de rock latino que tocou com Dickinson neste álbum (e em outros dois), o Tribe of Gypsies, banda do famoso guitarrista e produtor Roy Z (Helloween, Judas Priest, etc.). Além de Roy, a nova banda de Bruce tinha Edward Casillas no baixo, David Ingraham na bateria e Doug Van Booven na percussão.

Balls To Picasso pode ser visto como um álbum de hard rock, porém diferente da proposta de Tattooed Millionaire. O disco é mais pesado e traz um clima mais obscuro, como nas canções Cyclops, Hell No e Change Of Heart. Outros destaques do álbum são Fire, 1000 Points Of Light e dois dos grandes hits da carreira de Bruce: Laughing In The Hiding Bush e Tears Of The Dragon. Não dá pra esquecer a ótima, pesada e emocionante Gods Of War, que traz uma performance impecável de Bruce Dickinson, que se mostra mais solto e consciente como músico.

No ano seguinte seria lançado Alive In Studio A. Um controverso álbum duplo ao vivo: o primeiro disco trazia versões das canções solo de Bruce gravadas ao vivo em estúdio; o segundo, com o repertório praticamente idêntico, trazia uma apresentação no famoso clube londrino The Marquee. As músicas que compunham o álbum eram em sua maioria extraídas de Balls To Picasso. O repertório de Tattooed Millionaire fora praticamente ignorado: apenas Tattooed Millionaire, Born in ‘58 e Son of a Gun foram tocadas. Ótimas canções como Dive! Dive! Dive! e Gypsy Road ficaram de fora. A banda que acompanhou Bruce era composta por Alex Dickson na guitarra, Chris Dale no baixo e Alessandro Elena na bateria.

Alive In Studio A é interessante se observarmos o modo como algumas músicas ficaram quando tocadas ao vivo. Cyclops e Son of a Gun, por exemplo, ficaram ainda mais pesadas. Além da performance de Bruce, que, sob certos aspectos (como a interpretação visceral e a tonalidade usada), nestas canções, ficou superior às versões originais. Shoot All The Clowns também merece ser destacada pela forma solta como ficou tocada ao vivo. As demais canções não tiveram nenhum ponto absolutamente notável.

Em 1996, Bruce lança Skunkworks, gravado com a mesma banda que o acompanhara em Alive In Studio A. Esse lançamento marca um proposital e (aparentemente) definitivo afastamento de Bruce do heavy-metal. Skunkworks é considerado por muitos como a pior coisa que Bruce Dickinson já lançou em sua vida. O álbum, composto praticamente inteiro por Bruce e Alex Dickson, foi taxado pela crítica como um álbum de Grunge, primeiramente em função de sua sonoridade e pelo fato do produtor do álbum, Jack Endino, ter trabalhado com o Nirvana, um dos grandes expoentes do movimento surgido em Seattle (EUA) no final dos anos 80 e início da década seguinte.

Skunkworks pode ser dito como o principal pilar de resistência de Bruce contra um mundo que dizia a que o lugar do cantor era no Iron Maiden, tocando o “glorioso” heavy-metal que o fez famoso. Além de essa rebeldia ter ficado explícita na sonoridade – próxima ao rock alternativo – de Skunkworks, completamente avessa a tudo já escrito pelo músico, Bruce aparece de cabelos mais curtos, com um visual mais leve e aproximado do pop. Na canção I Will Not Accept The Truth, aos berros, Bruce responde às críticas do mundo: “Você diz que eu nunca vou conseguir. Pois me aguarde!”.

I Will Not Accept The Truth, um dos principais destaques de Skunkworks, é uma declaração de resistência, interpretada por Bruce de forma magistral e surpreendentemente dramática e agressiva. Outros pontos fortes do álbum são Space Race, o hit Back From The Edge, Inertia, Dreamstate (comparada a Black Hole Sun do Soundgarden), Strange Death In Paradise, a agressiva Innerspace e a admirável Octavia, que levanta um interessante questionamento sobre vida após a morte. Tudo interpretado por uma banda competentíssima e pela voz de Bruce, ora melódica, ora agressiva.

Em 1997, Bruce Dickinson cede: retorna ao heavy-metal com Accident Of Birth, seu quarto trabalho solo. Nesta época, Steve Harris criticou o vocalista, dizendo que “Bruce tocaria Country Music se isso vendesse bem”. O fato é que, em questões de criatividade, Accident Of Birth traz um heavy-metal anos luz à frente do praticado pela maioria dos artistas considerados deuses do estilo, inclusive o Iron Maiden. É neste ano que Bruce, para o espanto do mundo, aparece com os cabelos totalmente curtos.

A banda que acompanhou Bruce Dickinson foi novamente o Tribe Of Gypsies de Roy Z. e companhia. Além disso, para ocupar o posto na outra guitarra, Adrian Smith, ex-guitarrista do Iron Maiden, que até então estava trabalhando com projetos solos e sua banda Psycho Motel, fora chamado. Mesmo sendo um autêntico álbum de heavy-metal tradicional e trazendo músicas absolutamente cheias de clichês do estilo, como Road To Hell e The Magician, Accident Of Birth, cuja arte de capa foi feita pelo famoso Derek Riggs, consagrado pelo Eddie do Iron Maiden, incorpora em sua sonoridade elementos que o fazem diferente das demais produções da cena. O álbum tem uma atmosfera forte, proporcionada pelo uso de teclados e guitarras com uma carga extra de peso e distorção.

Os destaques do álbum, além da faixa título, ficam por conta de Freak, que abre o álbum com toneladas de peso, Taking The Queen, as emocionantes Darkside Of Aquarius e Man Of Sorrows, além de Welcome To The Pit e Omega. Arc Of Space, arranjada com belas melodias de violão, fecha o álbum que facilmente pode ser enquadrado como um dos melhores discos de heavy-metal da década.

Em 1998, Bruce Dickinson supera Accident Of Birth e lança a sua obra de arte, seu ápice artístico: The Chemical Wedding, composto e gravado pela mesma formação do álbum anterior. Mais pesado, obscuro e maduro, The Chemical Wedding, é um álbum de metal ainda mais fantástico que Accident Of Birth. Afastado dos clichês do estilo, o disco é baseado nas obras do pintor e poeta inglês William Blake (1757 – 1827). Temas como alquimia e religião são embalados por um instrumental competente e assombrosamente pesado – segundo a lenda, os guitarristas usaram cordas de baixo para acentuar o peso das guitarras.

É uma injustiça destacar apenas algumas músicas de um disco composto por 10 obras de arte, mas, mesmo assim, da para se dizer que as que mais chamam a atenção são: King In Crimson, The Tower, Book of Thel, Jerusalem, Trumpets Of Jericho, Machine Man, The Alchemist e a bela faixa título. É em The Chemical Wedding que Bruce mostra o lado mais poderoso de sua voz, mesclando momentos absolutamente melódicos, com tons baixos, com momentos agressivos, viscerais, com tons altos e potentes.

Infelizmente, The Chemical Wedding é o último álbum de estúdio de uma seqüência de lançamentos geniais do vocalista. Após isso, em 1999, Scream For Me Brazil, álbum gravado ao vivo no Brasil (sério?), é lançado, sendo o último álbum solo de Bruce antes de sua “incrível”, “fantástica” e “orgasmática” volta ao Iron Maiden.

Scream For Me Brazil foi gravado na turnê de The Chemical Wedding, marcando o fim da produtiva união de Tribe Of Gypsies com DickinsonBruce continuaria trabalhando somente com Roy Z. Scream For Me Brazil traz 12 canções oriundas de Balls To Picasso, Accident Of Birth e The Chemical Wedding. Canções de Tattooed Millionaire e Skunkworks foram deixadas de lado. Reclamar disso não é como o saudosismo fanático dos fãs do Iron Maiden, que crucificariam a banda caso não tocassem as músicas mais antigas. Bruce Dickinson solo, lançando seu segundo álbum ao vivo com algumas de suas mais clássicas canções, não é o mesmo que o Iron Maiden lançando o seu décimo álbum ao vivo com The Number Of The Beast e The Trooper. Estas duas músicas já bateram todos os recordes quanto ao número de apresentações e gravações ao vivo, além de já terem enchido o saco de todo mundo, ao contrário de Tattooed Millionaire, All The Young Dudes ou Inertia, por exemplo.

Neste mesmo ano, levando fãs de todas as faixas etárias – de garotos de 12 anos, ainda sem nenhum pêlo no corpo, a marmanjos barbados de 30 anos – às lágrimas e aos mais diferentes tipos de delírios, Bruce Dickinson volta ao Iron Maiden. Para aumentar ainda mais a êxtase e a euforia de toda a galáxia, Adrian Smith também volta de gaiato à banda.

A excelente carreira solo de Bruce é deixada em segundo plano. Em 2001 é lançada uma coletânea com os maiores hits da carreira solo do cantor e duas faixas inéditas: Broken e a ótima Silver Wings. As primeiras edições do álbum, chamado simplesmente de The Best Of Bruce Dickinson, traziam um disco bônus, com algumas músicas raras da carreira do vocalista, como a versão original de Bring Your Daughter To The Slaughter, Re-Entry, Ballad Of Mutt, etc.

Todas as grandes músicas da vida solo de Bruce, estão no álbum: Tattooed Millionaire, Book Of Thel, Darkside Of Aquarius, Back From The Edge, The Chemical Wedding, Accident Of Birth, The Tower etc. Um repertório satisfatório até mesmo para chatos que tenham pensando em reclamar a falta de Hell No ou Space Race ou qualquer outra grandiosidade que tenha ficado de fora.

Apenas em 2005 – sim, para quem lançava um álbum por ano, lançar um álbum inédito somente seis anos depois é o bastante para dizer “apenas” e constatar que uma brilhante carreira solo fora deixada de lado – Bruce lança Tyranny Of Souls, lançado em parceria com Roy Z, que compôs, tocou guitarra, baixo e produziu o álbum. Para a gravação do álbum, foram contratados os músicos: Juan Perez e Ray "Greezer" Burke no baixo, David Moreno na bateria e um enigmático tecladista que atende pelo pseudônimo de “Maestro Mistheria”.

Tyranny Of Souls, em momento ou outro, tenta recuperar atmosfera de The Chemical Wedding. Dá para se dizer isso em função de algumas abordagens instrumentais e principalmente pela capa, que traz Hell, pintura de 1485 de Hans Memling (1430 – 1494), que lembra bastante o estilo de William Blake.

O álbum traz um bom heavy-metal e um Bruce Dickinson em boa forma, entretanto, Tyranny Of Souls não se compara a Accident Of Birth ou The Chemical Wedding. Destacam-se no álbum Abduction, a balada Navigate The Seas Of The Sun, Kill Devil Hill e River Of No Return. Ao contrário dos dois álbuns anteriores, Tyranny of Souls é mais cru e direto, tanto na produção quanto na estrutura das músicas.

Estamos em 2008 e até agora não há sinal de um lançamento inédito de Bruce Dickinson em carreira solo. Em 2005, o catálogo de álbuns solo de Dickinson foi relançado em álbuns duplos que traziam material bônus. Em 2006 sai Anthology, um pacote com três DVDs que traziam material ao vivo e vídeos promocionais da carreira solo de Bruce. Belos e interessantes caça-níqueis – ele aprendeu a lição com “Mr. Harry”.

Existem aqueles que não gostam de Bruce Dickinson solo, que o preferem à frente de sua majestade, o Iron Maiden. Existem outros que apreciam tanto Iron Maiden quanto Bruce solo. E existem também aqueles que preferem com todas as forças que Dickinson saia do Iron Maiden e volte à sua carreira solo, mesmo que isso seja um desejo bastante utópico, pois, dificilmente, em pleno século XXI, alguém deixaria uma fonte de renda inesgotável como o Iron Maiden só por amor à música. Cabe a estes questionar a volta e permanência do vocalista no Iron Maiden, já que a banda, para dizer pouco, há anos não mostra sequer metade da criatividade que os álbuns solo de Bruce mostram. Cabe a estes lamentar que um projeto tão frutífero tenha sido deixado de lado por dinheiro. Sim, dinheiro, porque esta história sobre voltar ao Iron Maiden por amor ao heavy-metal já não cola mais.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Iron Maiden na harpa

Quem ainda pensa, equivocadamente, que Heavy Metal é só barulho, provavelmente ainda não escutou os principais ícones do estilo. Heavy Metal é, antes de qualquer definição, um estilo que consegue aliar de forma ímpar peso e melodia, duas coisas que para outros gêneros musicais parecem ser eternas inimigas.

S & M, soberbo CD/DVD do Metallica com a Orquestra Sinfônica de São Francisco, já provou que o Heavy Metal tem tudo a ver com a música erudita. Os dois vídeos abaixo reforçam ainda mais as duas teses mencionadas.

Ah, depois de vê-los, não esqueça de bater palmas.


Hallowed Be Thy Name




The Trooper



O Metallica está de volta




Por Ricardo Seelig, do Whiplash

Nota: 9

Eu não sou um crítico musical, muito pelo contrário. Sou apenas um fã de música que, como qualquer pessoa, tem preferência por esse ou aquele estilo, essa ou aquela banda. A única coisa que me faz, quem sabe, um pouco diferente da maioria, é o fato de que, além de fã, eu também escrevo para o Whiplash. Porque eu estou dizendo isso? Para que você, antes de ler essa resenha, saiba que ela não tem a menor pretensão de analisar tecnicamente o novo álbum do Metallica, mas sim apenas expressar a minha opinião pessoal, como fã e consumidor de heavy metal, sobre o novo trabalho do grupo.

Death Magnetic me soou como um tapa (bem dado , diga-se de passagem) na orelha. Pesado, repleto de riffs que são puro thrash metal oitentista, palhetadas em profusão, linhas vocais que lembram os melhores momentos de James Hetfield. Kirk Hammett está solando muito bem, a maioria das vezes usando o seu pedal wah-wah com a competência habitual. Robert Trujillo finalmente encontrou espaço para fazer o seu trabalho, e mostra que foi a escolha certa para o grupo, com linhas de baixo que acrescentam ainda mais peso às bases de Hetfield. E Lars Ulrich, apesar de ainda estar longe do fenomenal baterista que um dia já foi, entrega em Death Magnetic a sua melhor performance em anos.

A produção de Rick Rubin foi fundamental para o resultado final de Death Magnetic. O veterano e mítico produtor soube fazer a banda se reencontrar, fazendo-a soar novamente como Metallica, e não como um banda de veteranos deslocados no tempo que tentavam soar moderninhos mas só conseguiam ser patéticos (sim, estou falando do St Anger, caso você não tenha ligado o nome à pessoa).

Todo e qualquer fã que tenha acompanhado a carreira do Metallica se empolgará com as músicas de Death Magnetic. Isso é um fato, simples e claro. That Was Just Your Life abre o disco com o pé direito, com um dedilhado de guitarra que nos leva de volta aos anos mágicos do thrash metal. Seu riff principal já deixa claro que estamos diante de um trabalho especial. Há muito tempo, desde um passado muito, muito distante, James Hetfield não tocava bases tão empolgantes como as que saem dos alto-falantes. Agressiva, a música mostra um Metallica surpreendente, que em nada lembra o passado recente do grupo. Nem parece que estamos ouvindo a mesma banda que cometeu equívocos como St Anger e pretensões descabidas como Load. A parte final da música, mais precisamente a partir dos 5:50, arrepia qualquer fã de heavy metal, com grandes melodias de guitarra que fazem a esperança que sempre mantivemos em relação ao grupo se renovar.

The End Of The Line mantém o nível do disco lá em cima. Mais uma vez privilegiando as palhetadas de Hetfield, com um timbre pesadíssimo, essa música deve ser um das preferidas dos fãs, principalmente por conter linhas vocais muito semelhantes a clássica Master of Puppets, de 1986. Ouça, comprove e, por favor, não se contenha, saia batendo cabeça mesmo!!!

Broken, Beat & Scarred
é densa e traz guitarras muito bem trabalhadas, como há um bom tempo o Metallica não fazia. Com uma levada cativante, soa refrescante, deixando evidente o quanto o grupo estava afiado durante as gravações de Death Magnetic. Mais uma vez as bases de Hetfield ganham destaque, soando pesadíssimas e preenchendo o som do Metallica como nos bons tempos. Sabe aquelas músicas em que você acompanha os riffs sem nem mesmo perceber? Isso acontece aqui, e a razão é uma só: eles estão tão ligados a essência do heavy metal (que Hetfield e Hammett foram fundamentais no seu desenvolvimento, diga-se de passagem) que é como se você estivesse reencontrando aquele velho amigo que não via há anos, mas que, mesmo assim, sabe exatamente o que vai falar e como vai se comportar. E, sinceramente, é muito bom ouvir o Metallica soando novamente como o Metallica.

A banda tira o pé do acelerador em The Day That Never Comes, balada muito bem feita e que tem uma estrutura que segue a fórmula desenvolvida com brilhantismo ímpar pelo Metallica em clássicos como Fade To Black e Welcomo Home (Sanitarium). O arranjo vai crescendo até o seu ápice, onde o grupo engata uma quinta, entregando riffs e solos em sequência. Aliás, notem como lá pelos quatro minutos, The Day That Never Comes torna-se muito semelhantes a Welcome Home (Sanitarium), inclusive no timbre das guitarras. Mais para frente, mais precisamente nos 4:55, a banda faz uma referência a si mesma, com uma base que é totalmente One, do álbum … And Justice For All. Ou seja, como você já deve ter imaginado, The Day That Never Comes é uma das melhores faixas de Death Magnetic.

All Nightmare Long é uma das composições mais agressivas do álbum. Seu riff e sua estrutura tem um clima bem Kill´Em All, mais crus e diretos. Pedrada, soco no estômago, dona de um grande refrão, é um daquelas músicas que abrem rodas nos shows, com os fãs chocando-se uns contra os outros.

Por outro lado, Cyanide vem gerando algumas discussões entre os fãs mais radicais, principalmente por causa da sua estrutura mais “pop”, se esse termo for possível de ser encaixado aqui. Na verdade, Cyanide se difere das outras músicas de Death Magnetic por não ter características thrash metal, mas sim por investir naquele hard rock tipicamente Metallica, pesado, com bases e melodias matadoras, bem on the road. Fazendo uma comparação, ela é uma composição na linha da ótima I Disappear, gravada pelo grupo em 2000 para a trilha do filme Missão Impossível 2. Como curiosidade, preste atenção na linha de baixo tocada por Robert Trujillo aos 4:50 e identifique mais um clássico oitentista do grupo.

The Unforgiven III
dá início à parte final de Death Magnetic. Introduzida por um piano bem climático, amparado por sutis arranjos de cordas, mantém a característica sinfônica das duas primeiras partes de Unforgiven, assim como deve tocar bastante nas rádios, já que parece ser uma canção composta com o firme propósito de promover o disco nos mais diversos canais disponíveis. Pra falar a verdade, achei uma faixa bem fraquinha, deslocada do restante do álbum, isso sem falar que forçaram a barra com o título, tentando fazer uma ligação com o passado em uma música que não tem nenhum elemento que justifique essa ponte.

A pesadíssima The Judas Kiss tem um belo riff e uma estrutura quebrada, que se completa com um refrão repleto de melodia e bastante dramático. Hetfield canta como nos velhos tempos, com tesão e raiva, mas o principal destaque desta faixa são as guitarras, tanto as bases animais de James quanto o solo característico de Kirk, repleto de wah-wah, com Hammett debulhando tudo.

A instrumental Suicide & Redemption traz um título que soa como um sinal de tudo que a banda passou nos últimos anos. É como se, ao invés de imagens que dispensam palavras, em seu lugar fossem colocadas notas musicais que falam por si só. Longa, com praticamente dez minutos de duração, é uma das minhas faixas prediletas de Death Magnetic, soando como uma inspirada jam de estúdio entre os integrantes do grupo. É digna de nota a belíssima passagem que acontece a partir dos 3:40, onde a música fica mais lenta e Kirk Hammett toca um simples mas lindo solo.

Death Magnetic
fecha com a sua melhor música. My Apocalypse é irmã gêmea de Damage Inc., faixa que encerra Master of Puppets, de 1986. Sabe aquele seu amigo que vive dizendo que o Metallica está morto há tempos? Pois bem, tranque ele na sala, amarre-o no sofá, coloque os fones de ouvido no indivíduo e dê play em My Apocalypse. Total mescla de thrash de meados dos anos oitenta com toques atuais, mostra que o Metallica está vivo, forte, inspirado e ainda pode ser relevante para o metal.

Gostei muito do álbum. É, com sobras, o melhor trabalho do grupo deste o Black Album, de 1991. Um grande e cativante disco, que agradará todo e qualquer fã que cresceu junto que o grupo e que esperou longos dezoito anos para ver a banda soar novamente como Metallica.

Ia dar uma nota oito, mas esse retorno aos trilhos merece mais, por isso a nota que Death Magnetic ganha é um estrondoso e enorme 9, resultado de suas ótimas composições e do caminho promissor que aponta para o futuro do grupo.

O Metallica acordou. Saiam do caminho.

Faixas:

1. That Was Just Your Life
2. The End Of The Line
3. Broken, Beat & Scarred
4. The Day That Never Comes
5. All Nightmare Long
6. Cyanide
7. The Unforgiven III
8. The Judas Kiss
9. Suicide & Redemption
10. My Apocalypse

Symphony X volta ao Brasil com turnê de Paradise Lost; Salvador, por enquanto, fica de fora


Press-Release
Fonte: Whiplash

O grande nome do heavy metal progressivo está de volta. Os norte-americanos do SYMPHONY X chegam ao Brasil na segunda quinzena de outubro para diversas apresentações pelo país, pouco mais de um ano após sua última turnê por aqui. Dessa vez, novas cidades estão inclusas no roteiro da banda, que divulga o álbum Paradise Lost, lançado em 2007.

A nova turnê do SYMPHONY X passará por Porto Alegre, Curitiba, São Paulo e Recife, com novas datas ainda a serem confirmadas. Salvador, que chegou a ser anunciada como uma das paradas da banda norte-americana no Brasil, até o momento está de fora. Confira as datas:

21/10 – Porto Alegre (Prog Metal Fest)
22/10 - Curitiba
24/10 - Recife
26/10 - São Paulo

História

Com quase 15 anos de carreira, o SYMPHONY X teve início em 1994, em New Jersey, quando o guitarrista e fundador Michael Romeo uniu-se a Thomas Miller, Jason Rullo, Michael Pinella e Rod Tyler. Gravaram seu primeiro álbum Symphony X, lançado no Japão em dezembro do mesmo ano, tornando-se muito popular entre os fãs de metal progressivo e hard rock melódico de todo o mundo.

No começo de 1995, o vocalista Rod Tyler abandonou a banda durante as gravações de The Damnation Game. Russel Allen assume então os deveres vocais, com sua voz grave, harmonia vocal e influência da música clássica. Até hoje, Russel permanece na banda, e gravou o que é considerado pelos fãs o melhor álbum da carreira do SYMPHONY X: The Divine Wings of Tragedy. Faixas como Of A Sins And Shadows, The Accolade e a faixa-título com seus vinte minutos de duração tornaram-se clássicas deste estilo.

De lá pra cá, a banda lançou mais quatro trabalhos de estúdio, sempre mantendo sua linha progressiva e clássica. Após cinco anos longe dos estúdios, o SYMPHONY X brinda seus fãs com o seu sétimo álbum, Paradise Lost, com faixas pesadas e agressivas como Set The World on Fire e a faixa homônima.

Line Up

Michael Romeo – guitarra
Russell Allen – vocal
Jason Rullo – bateria
Michael Pinnella – teclado
Michael LePond – baixo

Off-Topic: Morre tecladista fundador do Pink Floyd


Por Edson Rocha 15/09/2008

O tecladista Richard Wright, um dos fundadores do Pink Floyd, morreu de câncer hoje, segunda-feira dia 15 de setembro, aos 65 anos de idade. "A família de Richard Wright, membro fundador do Pink Floyd, anuncia com grande tristeza que Richard morreu hoje após uma curta luta contra o câncer. A família pede que tenha sua privacidade respeitada nesta época difícil", comunicou o site oficial da banda.

Richard William Wright, nascido em Londres (ING), a 28 de julho de 1943, foi educado na Haberdashers’ Aske’s School e na Regent Street Polytechnic College Of Architecture, sendo que nesta última encontrou Roger Waters e Nick Mason, se tornando membro fundador do The Pink Floyd Sound (Pink Floyd) e das empreitadas anteriores, o Sigma 6, The Screaming Abdabs (The Abads) e The Tea Set.

No início do Pink Floyd, Wright era tido como uma das principais forças motrizes na parte musical da banda, apesar de exercer uma influência menor que o principal compositor e vocalista na época, Syd Barrett. O tecladista compôs e cantou várias músicas entre os anos de 1967 e 1968. Como cantor, teve participações em Astronomy Domine, Matilda Mother, Scarecrow e Chapter 24, enquanto entre suas primeiras composições estão Remember A Day, Paint Box e It Would Be So Nice. Entretanto, Wright voltava mais o seu foco para músicas instrumentais mais longas, como Interstellar Overdrive, A Saucerful Of Secrets, Careful With That Axe, Eugene, One Of These Days e trilhas sonoras de filmes. Dentre suas obras e contribuições mais cultuadas ao lado do Pink Floyd encontramos Atom Heart Mother, Echoes, Shine On You Crazy Diamond, The Great Gig In The Sky, Us And Them, Breathe e Time.

Wright lançou o seu primeiro álbum solo Wet Dream em 1978 e na mesma época, durante as gravações do The Wall (1979), começou a ter problemas com Roger Waters (vocalista e baixista) e acabou sendo forçado a passar de membro a "tecladista contratado" do Pink Floyd. The Final Cut (1983), foi o único álbum da banda sem o tecladista, que em 1984 formou o Zee ao lado do guitarrista Dave Harris (Fashion) e lançou o álbum Identity. Após a saída de Waters, no final de 1985, Wright retornou ao Pink Floyd e três anos mais tarde era novamente membro da banda contratualmente. Em 1994 o tecladista ajudou na composição de cinco músicas, e cantou em Wearing The Inside Out, no aclamado álbum The Division Bell.

O tecladista lançou mais um registro solo, Broken China (1996), e participou de três trabalhos recentes de David Gilmour, vocalista, guitarrista e colega de Pink Floyd: David Gilmour In Concert (DVD, 2002), On An Island (2006) e Remember That Night (DVD, 2007).

"Fico triste em dar a notícia que Richard morreu após uma batalha contra o câncer", escreveu Gilmour no blog do seu site oficial. "Realmente não sei o que dizer a não ser que ele era um amável, gentil e genuíno homem e que deixa terrível saudade para tantos que o amavam. E não muitas pessoas. Não foi ele que teve o aplauso mais alto e longo no final de cada show em 2006?", finaliza.

"Menos é mais para o Motörhead", diz o baterista Mikkey Dee, que lança o álbum Motörizer



MARCUS MARÇAL

Da Redação


Motörizer, o novo álbum do grupo britânico Motörhead, é uma aula de rock'n roll básico. Em seu 17º disco de estúdio, a banda dá uma roupagem atual ao som pesado com o qual se notabilizou em álbuns clássicos como Overkill (1979), Bomber (1979), Ace of Spades (1980) e Iron Fist (1982), entre outros.

Junto aos Ramones e Stooges, o Motörhead é um dos melhores exemplos de como o rock'n roll pode soar poderoso com poucos acordes e muitos decibéis. E, embora seja uma banda com décadas de estrada marcadas por excessos de todo tipo, o Motörhead ainda impressiona pelo vigor de seu repertório novo -- uma constante em seus 33 anos de existência.

De Columbus, Ohio (EUA), o baterista Mikkey Dee falou ao UOL sobre o novo disco e os planos do grupo. Junto aos álbuns Inferno (2004) e Kiss of Death (2006), Motörizer retrata sonoramente o que o Motörhead representa hoje, conforme destacou o músico. "Nossos três últimos discos de estúdio salientam a versatilidade de nossa música, dentro do que se espera da banda. Não é fácil manter o padrão de qualidade com o qual o Motörhead se notabilizou, mas não é algo que pensemos muito a respeito. Simplesmente escrevemos nosso material novo e considero que estamos à altura do que se espera da banda e sua história", avalia.

Motörizer apresenta 11 faixas distribuídas em aproximadamente 40 minutos. Apesar da curta duração, o disco contém variedade musical suficiente para representar diferentes facetas do Motörhead --do punk ao metal, com destaque para as nuances de hard rock e blues.

"Acho que não seria válido destacarmos qualquer tema do disco em especial, pois ele é suficientemente variado dentro das referências com as quais a banda se popularizou. E Motörizer tem todo tipo de música --desde canções lentas, rápidas ou mesmo gêneros variados. No entanto, é a mistura desses elementos característicos de nossa história que faz este álbum o melhor retrato do que o Motörhead é hoje em dia", diz.

Veteranos do rock pesado

Desde sua criação em 1975, a banda é capitaneada por Lemmy Kilminster, 63 (baixo e voz), e foi a primeira a misturar heavy metal e punk rock, até então estilos antagônicos. Uma das figuras mais legendárias da história do rock'n roll, o baixista e vocalista é também a alma do Motörhead.

Na ativa oficialmente desde 1992, a atual formação da banda também conta com Phillip Campbell (guitarra), além de Mikkey Dee.

Sobre o processo de composição de faixas do novo disco, como Runaround Man, English Rose, Time is Right e The Thousand Names of God, Dee afirma: "Lemmy é o responsável pelas letras e temos muita confiança em seu trabalho. Ele é muito criativo e geralmente faz uso de muito sarcasmo e até mesmo maldade em suas composições. Isso às vezes não funciona no primeiro momento, mas aí damos nossa opinião, e Lemmy faz os devidos ajustes”, explica.

No decorrer das décadas, o Motörhead se notabilizou por ser simples e direta. "Menos é mais em se tratando desta banda. Se hoje complicássemos muito nosso trabalho com aparatos de produção, isso seria ruim e indigno à história do Motörhead. É justamente a simplicidade da obra que inspira tanta gente interessante. E no que isso nos diz respeito, esse é apenas modo como nos expressamos e fazemos nosso trabalho", avalia.

Parte de Motörizer foi produzida no 606 Studios, em Los Angeles, EUA. O estúdio pertence a Dave Grohl, líder do Foo Fighters e notoriamente um grande fã da banda. Considerado um dos músicos mais simpáticos e prestativos do universo roqueiro mainstream, Grohl se notabilizou por inúmeras participações em projetos alheios (Backbeat Band, Queens of the Stone Age, Cat Power, entre outros) e eventualmente chega a oferecer seus préstimos de baterista para suas bandas prediletas, como já aconteceu com o Led Zeppelin, por exemplo.


Documentário

Músicos de uma banda com mais de 30 anos de estrada certamente têm muitas histórias boas para contar. E, além do disco novo, os fãs do Motörhead têm muito o que comemorar: um documentário sobre a vida do líder do grupo está sendo finalizado, com previsão de lançamento para 2009. Lemmy: The Movie conta a história de Lemmy Killminster desde os anos 60 até os dias de hoje e inclui entrevistas com integrantes do Motörhead, colegas e fãs como Slash, Dave Grohl, Mick Jones (The Clash), Alice Cooper, Steve Vai e o profissional de luta livre Triple H, entre outros.

Dirigido por Greg Olliver e Wes Orshoski, o filme foi registrado em alta definição e Super 16mm, mas não é um projeto da banda. Segundo Mikkey Dee, o trio apenas liberou acesso da equipe de filmagem aos bastidores das turnês do Motörhead durante dois anos. "Não conhecíamos os caras e particularmente não temos muito a adiantar sobre esse trabalho. Os caras da equipe de filmagem simplesmente nos seguiram em nossas turnês pelo mundo e, do pouco que sei, o filme está 90% pronto", conta.

Um acordo de distribuição ainda não foi assinado, mas um vídeo promocional pode ser visto no site oficial do documentário. O trailler contém imagens da banda em cena, além de alguns segmentos em que Lemmy Kilmister testa alguns amplificadores de baixo em volumes ensurdecedores e conta piadas impróprias para menores.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Em Death Magnetic, Metallica faz o verdadeiro 'novo metal'


Trabalho é digno de ser considerado o verdadeiro 6º álbum da banda.
Em contraposição a experimentos chatos, disco é agressivo e rápido.

Review publicado no G1

Foram quase 18 anos esperando, mas finalmente o Metallica lançou um disco para suceder o já clássico álbum preto. Para ser bem direto, Death Magnetic é digno de ser considerado o verdadeiro sexto álbum da banda, dando continuidade a Kill 'em all, Ride the Lightning, Master of Puppets, ...And justice for all e o já mencionado disco da capa preta sem nome. Load, Reload e St. Anger, todos lançados nesse ínterim, têm lampejos de criatividade pesada e seriam grandes discos de um grupo iniciante, mas nada perto do que "a maior banda de metal do mundo" é capaz.

Depois de uma leve decepção com as primeiras versões de algumas músicas que vazavam na internet, ou eram gravadas ao vivo e iam para o YouTube, o álbum completo surpreende positivamente. Em primeiro lugar, por uma produção impecável: a banda voltou a ter uma bateria de verdade (com bumbos duplos, e não aquele som de lata de St. Anger), voltou a ter solos bem pensados, as músicas são longas, variadas e muito trabalhadas do começo ao fim – trabalho de Rick Rubin, que substituiu Bob Rock.

E surpreende pela pegada pesada das canções e pelas dezenas de novos grandes riffs, daqueles que caracterizaram a carreira da banda e que todo mundo começou a imitar. Ninguém vai conseguir comparação melhor que a edição americana da revista Rolling Stone: Death Magnetic é o equivalente musical da invasão da Geórgia pela Rússia, diz a revista, "um repentino ato de agressão de um gigante adormecido".

Nada de agressividade e peso anacrônicos, entretanto. Não que eles revolucionem o Thrash Metal que eles mesmos ajudaram a criar, mas é como se a violência de Battery, ou de The frayed ends of sanity, dos anos 80, ganhassem uma roupagem mais contemporânea, mais atual. Rápido, distorcido, agressivo: o verdadeiro "novo metal" em contraposição a experimentos chatos de grupos como Linkin Park e Korn.

As três primeiras músicas: That was just your life, The end of the line e Broken, beat and scarred quase não deixam respirar. Em seguida vem The day that never comes parecendo que vai ser uma balada, mas batendo quase tanto quando a Unforgiven original quando chega no refrão. E a pancadaria continua a toda velocidade dali por diante.

Por falar daquela "semibalada" do começo dos anos 90, ela reaparece aqui em sua terceira edição: The unforgiven III. Introdução em tom épico, pianinho, e depois mais pancada – uma versão muito mais criativa e diferenciada de que a segunda, do Reload.


Catarse

Quem um dia já gostou de Metallica sem dúvida ficou preocupado com a crise existencial que o grupo mostrou no documentário Some kind of monster, e que descambou no mal-falado St. Anger, mas parece que a terapia funcionou. O disco soa bem- resolvido, como se a banda estivesse de volta a sua perfeita forma.

Os membros originais do grupo elogiaram a colaboração criativa do novo baixista, Robert Trujillo, no disco e nessa nova fase da banda. Se em Death Magnetic não se nota tanto a participação dele, em vídeos de shows recentes que podem ser vistos na internet, vê-se que ele está à vontade, e que ajuda a banda a reler até mesmo os clássicos, "ousando" reinterpretar até mesmo a introdução de For whom the bell tolls - e dá certo.

O problema da banda pode ser ter demorado 18 anos para lançar um bom disco em um estilo em que a faixa etária média dos ouvintes circula em torno dos 15 anos. Neste caso, vale lembrar o que diz o antropólogo Sam Dunn, diretor do documentário Metal: A Headbangers Journey: todo mundo que já gostou de metal mantém vivo em si o garoto de 15 anos que já bateu cabeça ouvindo as músicas mais barulhentas do mundo - é hora de acordá-lo.

Nota:8,5

sábado, 6 de setembro de 2008

Monotonia musical

Por Daniela Nunes
Fonte: Metal Clube

Já não é novidade para mais ninguém que a criatividade e a inovação estão, cada vez mais, perdendo espaço no cenário musical. Ambas estão sendo substituídas pela adoção dos mesmos estilos, mesmas referências, modelos prontos (conseqüentemente mais fáceis) e, principalmente, sendo condicionada às tendências mercadológicas.

Pouco se vê algo de realmente novo na grande mídia. Diante de várias bandas atuais, podemos concluir facilmente que as diferenças entre elas são ínfimas e que se ouvirmos uma delas será quase como se tivéssemos ouvido todas, seja pela constante e deturpada retomada de estilos, seja por uma praticamente unânime adoção de modismos musicais. Isso está acontecendo porque poucos, pouquíssimos estão se “arriscando” a fazer algo novo, fugir das receitas fáceis e entendendo que o que chama a atenção das pessoas e o que vale à pena é ter atitude e autenticidade. Talvez, a palavra mais certa não seja “entendendo”, mas, sim, “relembrando”, uma vez que já vimos em nossos ídolos de gerações anteriores, que fazer a diferença e marcar uma época é discordante, por estar em total oposição, a elementos como falta de personalidade própria e submissão ao mercado.

Nessa onda em que muitos artistas se deixam levar ou embarcam autonomamente, há aqueles que procuram copiar uns aos outros, e há também aqueles que não se contentam em apenas ser influenciados pelos grandes ícones da música e querem se passar pelos mesmos, imitando-os descaradamente. Dessa forma, essas pessoas que, inconscientemente, passam um atestado de falta de criatividade e de incompetência, deixam de ser quem são e ao mesmo tempo não são quem pretendem ser.

Complicado de entender? Nem Tanto. Para exemplificar, uma banda bem conhecida: Oasis. Sejamos racionas ao analisá-la. Ao extrair a sonoridade copiada dos Beatles, ou melhor, a dita “influência”, o que sobraria em termos de diferença musical? Talvez fosse melhor se eles, que fazem tanta questão de parecer com os Beatles, fossem covers. Isso, claro, desconsiderando suas composições, que ao menos são diferentes; o exagerado egocentrismo e o infundado complexo de superioridade dos integrantes da banda. Eles se intitulam como a segunda melhor banda do mundo (obviamente, a primeira nem é preciso citar de novo), mas não têm, ao menos, uma identidade totalmente própria, pretendendo ser os “novos Beatles”, porém, passando longe disso.


Outros exemplos mais amplos também ilustram claramente esse universo monótono que se instaurou na música, como acontece com muitas bandas que se dizem, em especial, roqueiras, punks, emos e por aí vai, mas que não fazem mais do que reproduzir um som batido, sem atitude, contrapondo a proposta do estilo que escolheram seguir. As bandinhas de pop rock, por sua vez, já tão comuns e iguais, repetem letras que contam historinhas de relacionamentos do tipo “era uma vez....” e não acrescentam em nada ao cenário. São apenas cifras pomposas no bolso de empresários que sabem investir na aceitação que o mercado e as pessoas de pouca exigência tem para com elas.

Muitas das bandas, sejam as “xerox’s” ou as pseudo-novas, estão na mídia não pelo fato exclusivo de o público as quererem lá, mas também porque ela (a mídia) e a indústria fonográfica selecionaram aqueles artistas que mais se enquadraram em seus pré-requisitos e investiram fortemente neles. Com isso, fica muito claro que o motivo do sucesso dessas bandas é originado pela super divulgação e pela grande influência que os meios de comunicação têm sobre as pessoas.

Contudo, se essas e outras pessoas querem continuar não tendo uma identidade própria e se valendo apenas da memória que o público tem de grandes ídolos antigos ou modismos para fazerem sucesso, o problema é delas. Daqui a algum tempo, quando elas não forem mais mercadologicamente interessantes, serão relegadas à “qualidade” de descartáveis. E convenhamos, o que colabora para que essa situação perdure por tempos é a passividade e a alienação do grande público, além da acomodação e falta de dignidade de uma parcela dos artistas.

Fãs de música clássica e heavy metal são parecidos, diz estudo

Da BBC Brasil.com


Um estudo que analisa a relação entre gosto musical e personalidade sugere que há semelhanças entre fãs de música clássica e aqueles que gostam de heavy metal.


A pesquisa, realizada na Universidade Heriot Watt, em Edimburgo, na Escócia, entrevistou 36 mil pessoas. Os pesquisadores fizeram perguntas sobre características da personalidade de cada participante e pediram para que os voluntários avaliassem 104 estilos musicais.

Os resultados sugerem, por exemplo, que fãs de jazz são criativos e extrovertidos, enquanto aqueles que gostam de música pop tendem a ter pouca criatividade.

Segundo o professor Adrian North, que liderou o estudo, a surpresa foi descobrir semelhanças na personalidade de fãs de música clássica e heavy metal. "São pessoas muito criativas, introvertidas e de bem consigo mesmas, o que é estranho. Como você pode ter dois estilos tão distintos com grupos de fãs tão parecidos?", afirmou North.

Ele ressalta que uma das explicações pode ser o “aspecto teatral desses estilos, que são dramáticos”.

"As pessoas em geral têm um estereótipo sobre os fãs de heavy metal, acham que eles têm tendência suicida, são deprimidos e representam um perigo para si e para a sociedade em geral. Na verdade, são pessoas bem delicadas", afirmou

Relação

De acordo com North, a pesquisa pode ser muito útil para a indústria fonográfica e para quem trabalha com marketing.

"Se você sabe a preferência musical de uma pessoa, pode dizer que tipo de personalidade ela tem e para quem deve vender", disse North.

"São implicações óbvias para a indústria da música, que está preocupada com a queda da venda de CDs."