sábado, 6 de setembro de 2008

Monotonia musical

Por Daniela Nunes
Fonte: Metal Clube

Já não é novidade para mais ninguém que a criatividade e a inovação estão, cada vez mais, perdendo espaço no cenário musical. Ambas estão sendo substituídas pela adoção dos mesmos estilos, mesmas referências, modelos prontos (conseqüentemente mais fáceis) e, principalmente, sendo condicionada às tendências mercadológicas.

Pouco se vê algo de realmente novo na grande mídia. Diante de várias bandas atuais, podemos concluir facilmente que as diferenças entre elas são ínfimas e que se ouvirmos uma delas será quase como se tivéssemos ouvido todas, seja pela constante e deturpada retomada de estilos, seja por uma praticamente unânime adoção de modismos musicais. Isso está acontecendo porque poucos, pouquíssimos estão se “arriscando” a fazer algo novo, fugir das receitas fáceis e entendendo que o que chama a atenção das pessoas e o que vale à pena é ter atitude e autenticidade. Talvez, a palavra mais certa não seja “entendendo”, mas, sim, “relembrando”, uma vez que já vimos em nossos ídolos de gerações anteriores, que fazer a diferença e marcar uma época é discordante, por estar em total oposição, a elementos como falta de personalidade própria e submissão ao mercado.

Nessa onda em que muitos artistas se deixam levar ou embarcam autonomamente, há aqueles que procuram copiar uns aos outros, e há também aqueles que não se contentam em apenas ser influenciados pelos grandes ícones da música e querem se passar pelos mesmos, imitando-os descaradamente. Dessa forma, essas pessoas que, inconscientemente, passam um atestado de falta de criatividade e de incompetência, deixam de ser quem são e ao mesmo tempo não são quem pretendem ser.

Complicado de entender? Nem Tanto. Para exemplificar, uma banda bem conhecida: Oasis. Sejamos racionas ao analisá-la. Ao extrair a sonoridade copiada dos Beatles, ou melhor, a dita “influência”, o que sobraria em termos de diferença musical? Talvez fosse melhor se eles, que fazem tanta questão de parecer com os Beatles, fossem covers. Isso, claro, desconsiderando suas composições, que ao menos são diferentes; o exagerado egocentrismo e o infundado complexo de superioridade dos integrantes da banda. Eles se intitulam como a segunda melhor banda do mundo (obviamente, a primeira nem é preciso citar de novo), mas não têm, ao menos, uma identidade totalmente própria, pretendendo ser os “novos Beatles”, porém, passando longe disso.


Outros exemplos mais amplos também ilustram claramente esse universo monótono que se instaurou na música, como acontece com muitas bandas que se dizem, em especial, roqueiras, punks, emos e por aí vai, mas que não fazem mais do que reproduzir um som batido, sem atitude, contrapondo a proposta do estilo que escolheram seguir. As bandinhas de pop rock, por sua vez, já tão comuns e iguais, repetem letras que contam historinhas de relacionamentos do tipo “era uma vez....” e não acrescentam em nada ao cenário. São apenas cifras pomposas no bolso de empresários que sabem investir na aceitação que o mercado e as pessoas de pouca exigência tem para com elas.

Muitas das bandas, sejam as “xerox’s” ou as pseudo-novas, estão na mídia não pelo fato exclusivo de o público as quererem lá, mas também porque ela (a mídia) e a indústria fonográfica selecionaram aqueles artistas que mais se enquadraram em seus pré-requisitos e investiram fortemente neles. Com isso, fica muito claro que o motivo do sucesso dessas bandas é originado pela super divulgação e pela grande influência que os meios de comunicação têm sobre as pessoas.

Contudo, se essas e outras pessoas querem continuar não tendo uma identidade própria e se valendo apenas da memória que o público tem de grandes ídolos antigos ou modismos para fazerem sucesso, o problema é delas. Daqui a algum tempo, quando elas não forem mais mercadologicamente interessantes, serão relegadas à “qualidade” de descartáveis. E convenhamos, o que colabora para que essa situação perdure por tempos é a passividade e a alienação do grande público, além da acomodação e falta de dignidade de uma parcela dos artistas.

Um comentário:

Emerson disse...

Caro Guilherme, encontrei seu blog essa semana, gostei bastante e estou lendo todas as matérias. Como um fã incondicional do Heavy metal e de algumas de suas vertentes, não pude deixar de comentar essa máteria, e fazer uma observação.. pode ser que eu esteja errado, mas como eu já vi que vc conhece profundamente o tema, eu gostaria de acrescentar o seguinte: O rock'n roll nasceu como uma atitude de rebeldia, um não ao sistema... o cenário do rock deveria sempre ser o underground...mas como a mídia se empenha sempre em "abocanhar" tudo o que a leva a ter muito lucro ( e isso ela faz com o rock, pq todo fã é normalmente fervoroso e idealista) vejo aqui uma inversão de valores. Não há mais bandas de "atitude", de verdadeira rebeldia pq todas são na verdade manipuladas pela mídia. Acho que o que acontece realmente hj no mundo é que o rock'n roll acabou se tornando um produto daquilo que ele nasceu para destruir : o sistema e a mesmice. Isso, na minha humilde opinião não acabará tão cedo, pois não há nada no cenário mundial que diga " foda-se mídia, foda-se capitalismo maldito" ou dizerem algo contra o governo ou as instituiçoes corruptas, são tratados imediatamente como TERRORISTAS, que é o termo mais fácil e eficiente que a mídia encontrou de assustar a sociedade.
Acredito que por essa razão o saudozismo dos antigos mestres continua... era uma outra época em que o dinheiro não era o motivo, era apenas um decorrente. Eu nasci em 1972 e comecei a ouvir o Heavy Metal em 1985 (Iron e Sabbath) e sou feliz porque acredito ter vivido a melhor época do rock. Hoje continuo ouvindo todo o "tradicional" e procuro alguma inovação nas vertentes do trash ( Heaven shall Burn,Caliban)
No momento é só isso.
Abraço e parabéns pelo Blog