domingo, 29 de junho de 2008

Brasileiro é o melhor guitarrista do mundo


"Um desinibido e melódico guitarrista de rock. O brasileiro Gustavo Guerra possui grandes tons, timing, controle e sentimento – em resumo, o pacote completo". É assim que os jurados do Guitar Idol definem Gustavo Guerra, 29, músico curitibano que hoje ostenta o título de melhor guitarrista “desconhecido” do mundo.

Criado para descobrir novos talentos, o Guitar Idol é um concurso que reúne todos os anos guitarristas desconhecidos do mundo inteiro. Para participar, os candidatos disponibilizam no site da competição composições próprias em áudio ou em vídeo. As músicas são avaliadas pelo público - que participa votando pela Internet para escolher os dez finalistas - e por um júri formado por músicos profissionais que elegem o campeão.

O brasileiro, que derrotou mais de 700 concorrentes, recebeu mais de cinco mil votos pela Internet de fãs do mundo inteiro e viu seus vídeos com performances virtuosas no Youtube virarem uma verdadeira febre, totalizando mais de cinco milhões de acessos. Músico profissional desde os catorze anos - quando ainda tomava aulas de guitarra com seu pai Buby Guerra -, Gustavo finalmente teve seu trabalho reconhecido:

"Vencer o Guitar Idol é o reconhecimento por duas décadas de trabalho árduo e muita dedicação. Mesmo assim, sei que ainda tenho muito estudo pela frente e quero continuar desenvolvendo meu trabalho com seriedade e profissionalismo”, comentou o guitarrista.

Por ter conquistado o primeiro lugar no Guitar Idol, o músico faturou diversos prêmios. Além de ter aberto o show do renomado guitarrista Joe Satriani no The London International Music Show em 15 de Junho – um dia após o anúncio do vencedor – e de ter abocanhado uma cobiçada guitarra Paul Reed Smith e um amplificador Peavey, Gustavo terá uma de suas músicas incluídas na coletânea a ser lançada pela Lion Music com a presença dos doze guitarristas mais bem colocados no concurso. Ele participará ainda de workshops promovidos pela The Guitar Institute, uma das mais conceituadas escolas de guitarra da Inglaterra.

O anonimato, claro, já é coisa do passado.

-------------------------------------------------------------------------------------------

Confira abaixo alguns vídeos de Gustavo Guerra.


Gustavo Guerra tocando Summer Song de Joe Satriani.



Gustavo Guerra tocando Far Beyond The Sun de Yngwie Malmsteen.




Gustavo Guerra tocando For The Love Of God de Steve Vai.



Gustavo Guerra tocando Na Veia, música de sua autoria.



Gustavo Guerra no Guitar Idol.




Fontes:

Guitar Idol

Whiplash

Novo Metal

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Kerrang! homenageia Iron Maiden


A próxima edição da revista britânica Kerrang!, uma das publicações mais respeitadas no mundo do rock, chegará às bancas no dia 16 de Julho com um belo atrativo. Trata-se do CD Maiden Heaven, um tributo ao Iron Maiden em que bandas como Metallica, Dream Theater, Trivium e Machine Head tocam os principais clássicos do sexteto inglês.

Em entrevista à Kerrang!, Lars Ulrich, baterista do Metallica, revelou a admiração que a banda sente pela Donzela de Ferro:

"O Iron Maiden é 10% mais legal que qualquer outra banda. Da relação deles com os fãs, às capas dos álbuns, aos palcos, às apresentações ao vivo, às suas fotos - qualquer coisa que eles fizeram sempre foi mais legal que o que todos os outros fizeram! Eu sempre tive muito respeito e admiração por eles e obviamente ter a chance de fazer parte deste CD, me faz sentir completo. Nós tocamos Remember Tomorrow que é basicamente a idéia de músicas como Fade to Black e Welcome Home (Sanitarium), e algumas das baladas épicas que o Metallica fez depois. Nós nos divertimos muito nisso! Nós colocamos meio que uma introdução nela, para dar um pouco do toque do Metallica, e estamos bem satisfeitos com o resultado."

Robb Flynn, frontman do Machine Head, se mostrou bastante empolgado em fazer parte do projeto:

"O Iron Maiden foi uma grande influência para o Machine Head. Nós decidimos fazer o cover de Hallowed Be Thy Name para esse CD porque esta é uma grande música, um clássico de fato. Eu amo a forma como a linha vocal sobe e desce, tão dramática."

''Maiden é de longe a melhor banda ao vivo de todo o mundo. Suas músicas são atemporais", afirmou M Shadows, vocalista do Avenged Sevenfold.

Laurent Barnard, guitarrista da banda punk Gallows, também teceu grandes elogios a Steve Harris e cia:

''Alguns dos riffs do Maiden são bastante rápidos e Steve Harris definitivamente ganhou o seu lugar como uma lenda do baixo.''

A chegada do CD Maiden Heaven coincide com a perna européia da Somewhere Back in Time World Tour e com o recente lançamento da coletânea Somewhere Back In Time: The Best of 80-89.

Confira abaixo a tracklist completa do projeto:

1. Black Tide - Prowler
2.
Metallica - Remember Tomorrow
3. Avenged Sevenfold - Flash Of The Blade
4. Glamour of the Kill - 2 Minutes To Midnight
5. Coheed and Cambria - The Trooper
6. DevilDriver - Wasted Years
7. Sign - Run To The Hills
8. Dream Theater- To Tame A Land
9. Madina Lake - Caught Somewhere In Time
10. Gallows - Wrathchild
11. Fightstar - Fear Of The Dark
12. Machine Head - Hallowed Be Thy Name
13. Trivium - Iron Maiden
14. Year Long Disaster - Running Free
15.
Ghostlines - Brave New World.

Fonte: Kerrang!

terça-feira, 24 de junho de 2008

Kamelot - Ghost Opera


Ghost Opera segura o brilhantismo de Epica (2003) e The Black Halo (2005) – dois dos melhores álbuns lançados nos últimos dez anos na música pesada – e mantém incólume a carreira de uma banda que há algum tempo já se acostumou com a excelência. A multidimensionalidade artística – isto é, o entrecruzamento entre música e outros segmentos do campo artístico -, uma característica que impulsionou o Kamelot para vôos musicais mais altos, é, mais uma vez, o segredo da rica e original sonoridade do quinteto.

Ouvir um álbum do Kamelot significa vivenciar uma das experiências emocionais mais singulares que se pode ter. Talvez nenhuma outra banda – com exceção do Dream Theater – seja capaz de proporcionar ao ouvinte um leque tão vasto de sensações e emoções. O Kamelot transita com absurda naturalidade entre a mais raivosa agressividade e a mais pura delicadeza, entre o mais desesperado grito e o mais doce sussurro.

O sucesso desta multidimensionalidade é garantido por dois fatores: a combinação mágica entre música clássica e Heavy Metal – estilos que se complementam por conta de suas aparentes disparidades – e a mistura inovadora entre música pesada, teatro e literatura clássica, algo que, pelo que se tem notícia, nenhuma outra banda ainda foi capaz de fazer. Sem exagero, pode-se até dizer que o Kamelot está encabeçando a criação de um novo subgênero cuja principal característica é a convergência entre os três segmentos artísticos supracitados.

Nos primeiros minutos de Ghost Opera, já é possível identificar a proposta da banda de impactar e conquistar o ouvinte através das mais discrepantes sonoridades. Solitaire, uma pequena introdução, abre com o refinamento de um violino melancólico e choroso. A seguir, Rule the World, ao mesmo tempo em que despeja peso na guitarra distorcida do talentoso Thomas Youngblood e na pulsante bateria de Casey Grillo, é marcada também por uma delicadeza e suavidade dignas de nota.

É essa fórmula, que consiste na contraposição e na mescla entre o peso e a calmaria e entre o metálico e o clássico, que o Kamelot segue durante todo o álbum. E se ela não se esgota e nem mostra sinais de fadiga em nenhum momento, é porque a banda, além da interminável criatividade para compor refrões marcantes e de um aprimorado senso melódico, sempre inclui experimentações e novos elementos para enriquecê-la e alimentá-la. Exemplos não faltam: o piano clássico de The Human Stain e da belíssima balada Anthem – que lembra a igualmente bela Abandoned de The Black Halo -, os efeitos vocais de Blücher e os vocais femininos líricos de Amanda Sommerville em Love You To Death, Mourning Star e na faixa-título. Entretanto, nenhum desses elementos contribui tanto para manter a fórmula viva e indefectível quanto dois personagens: o vocalista Roy Khan e o tecladista Oliver Palotai.

Khan, que em certos momentos lembra bastante os vocais operísticos do mestre Geoff Tate, é o grande responsável pelo salto de qualidade iniciado em Epica e pela reputação que o Kamelot vem construindo nos últimos anos. Seu timbre invejável, sua versatilidade e sua capacidade interpretativa – ainda mais potencializada ao vivo com movimentos cênicos e efeitos visuais, como ficou explícito no DVD One Cold Winter’s Night – dão à música do Kamelot uma profundidade, uma dramaticidade – vide a beleza incomensurável das linhas vocais da faixa-título e de Anthem – e uma teatralidade que destacam o grupo em meio a uma miríade de bandas insossas porque pouco emotivas.

Se Khan, uma das melhores novidades da música pesada, é a carga emocional do quinteto, Oliver Palotai é o requinte e a sofisticação. Seu trabalho, que já era elogiável em discos anteriores, ganha proporções maiores em Ghost Opera, álbum em que a veia clássica da banda é mais explorada. Os teclados, em conjunto com as orquestrações a cargo do competentíssimo produtor Miro, sem nunca soarem pomposos demais, criam camadas que ora realçam o peso da cozinha formada por Glenn Barry e Casey Grillo e da guitarra de Youngblood, ora fazem uma contraposição, suavizando as canções.

Ghost Opera é uma aquisição obrigatória para todos que desejam estar a par do que há de mais moderno e inovador no mundo do metal. Mais do que isso, é a chance de conferir de perto a evolução até o ápice criativo de uma excelente banda. Daqui em diante, com pelo menos três álbuns extremamente elogiados por crítica e público, já não é mais possível falar dos grandes nomes da música pesada sem, no mínimo, fazer uma menção honrosa a este quinteto norte-americano. É por discos como Ghost Opera e por bandas como o Kamelot que o Heavy Metal ainda emociona, encanta, fascina e sobrevive.

Tracklist:
1. Solitaire
2. Rule The World
3. Ghost Opera
4. The Human Stain
5. Blücher
6. Love You To Death
7. Up Through The Ashes
8. Mourning Star
9. Silence Of The Darkness
10. Anthem
11. EdenEcho

Ano:2007

Duração: 43:48

sábado, 21 de junho de 2008

Satriani no Brasil


Joe Satriani, um dos mais respeitados guitar heros de todos os tempos e ex-professor de nomes consagrados das seis cordas como Steve Vai, Kirk Hammett (Metallica) e Alex Skolnick (Testament), se apresentará no Brasil entre os dias 27 de Julho e 2 de Agosto. O criador do G3 - projeto que reúne três guitarristas virtuosos para turnês mundo afora - e o compositor de melodias memoráveis - Summer Song que o diga - fará shows em Curitiba (27/07), São Paulo (29/07), Rio de Janeiro (31/07), Belo Horizonte (01/08) e Brasília (02/08). A atual turnê promove o ótimo Professor Satchafunkilus and the Musterion of Rock (2008), seu mais novo álbum.

Mais informações sobre preços de ingressos e locais dos shows no site Agenda Metal.


quinta-feira, 19 de junho de 2008

Novo álbum do Testament eleito melhor do ano


O Metal Hammer Golden Gods Awards, evento anual promovido pela revista Metal Hammer, elegeu o novo álbum do Testament - uma das bandas pioneiras do Thrash Metal da Bay Area -, The Formation Of Damnation, como o melhor do ano. O CD, lançado no final de Abril pela Nuclear Blast Records, vem recebendo elogios da crítica do mundo inteiro e já chegou a atingir o 59º lugar na BillBoard, lista norte-americana das bandas que mais venderam em um determinado período.

O evento, que ocorreu na segunda-feira (16 de Junho) em Londres, no O2 Arena, também premiou outros músicos e grupos. Destaque para Kerry King, guitarrista do Slayer, que recebeu a maior honraria da premiação - o Golden God, homenagem aos músicos mais influentes do Heavy Metal - para o Iron Maiden, eleita a melhor banda do Reino Unido, e para os irmãos Cavalera, premiados na categoria Spirit of Hammer.

Confira abaixo a lista completa dos premiados:

* Best Breakthrough: APOCALYPTICA
* Best Underground Band: THE BLACK DAHLIA MURDER
* Best UK Band: IRON MAIDEN
* Metal For The Masses: WILLIAM GLEDHILL
* Best Live Band: MACHINE HEAD
* Best Video: DIMMU BORGIR "The Serpentine Offering"
* Best Metal Label: Roadrunner Records
* Spirit Of Hammer: Max and Igor Cavalera (SEPULTURA, CAVALERA CONSPIRACY)
* Best Debut: AIRBOURNE "Runnin' Wild"
* Icon Award: Eddie
* Dimebag Darrell Shredder Award: Alexi Laiho (CHILDREN OF BODOM)
* Event Of The Year: Hard Rock Hell
* Riff Lord: Dave Mustaine (MEGADETH)
* Best Album: TESTAMENT "The Formation Of Damnation"
* Revolver Best International Band: IN FLAMES
* Golden God: Kerry King (SLAYER) (presented by Kat Von D)

Fonte: Blabbermouth

terça-feira, 17 de junho de 2008

Dream Theater - Falling Into Infinity



Não é possível compreender por que Falling Into Infinity é, ainda hoje, considerado o patinho feio da discografia do Dream Theater. É certo que ele é, dentre todos os álbuns da banda, aquele que apresenta o menor nível de complexidade nas composições. Mas desde quando rebuscamento e sofisticação são sinônimos de qualidade? Se assim fosse, o que seria do simplório e mais popular riff do Heavy Metal, o de Paranoid? Talvez, a única explicação para tal aversão é aquela já expressada no meu texto "Heavy Metal: Revolução feita por tradicionalistas?", ou seja, a de que boa parte do público headbanger é gente reacionária, contrária a inovações e capaz até mesmo de colocar obras-primas no ostracismo. Foi o que aconteceu com Falling Into Infinity.

Sempre que os críticos musicais não conseguem definir o som praticado por certa banda, rotulam-na como progressiva. Com o passar dos anos, esse estilo foi taxado de hermético, de excessivamente técnico, de exibicionista e de transmitir pouco feeling - o tal componente subjetivo que torna a música uma expressão artística extremamente inexata e individual. Para os Punks, Rock Progressivo não é Rock, já que, segundo eles, o verdadeiro Rock é aquele feito com muita raça, rebeldia, carisma e com pouca técnica.

Para mim, fã de progressivo, essas críticas, além de mera demonstração de inveja de quem tem preguiça de se aperfeiçoar naquilo que faz - e, por isso, tenta desqualificar os que se esforçam para alcançar a excelência -, são escudos dos entusiastas de uma limitada e superficial rebeldia. Exemplo maior que o Sex Pistols não há. Conhecida pela natureza anárquica e revolucionária de sua música, a banda não mediu esforços para se locupletar na sua volta em 1996, quando admitiu que tal reunião foi motivada, exclusivamente, por motivos financeiros.

Para o autor deste texto, que admira também o Heavy Metal, não há estilo mais belo e emocional do que o Metal Progressivo, uma junção do peso e da distorção do Heavy com a salada sonora e com a falta de limites do Progressivo. E não se tem notícia ainda de uma banda que tenha mesclado essas duas vertentes musicais de forma tão singular e primorosa quanto o Dream Theater. Quem ainda insiste em criticar a banda estadunidense, chamando-a de chata, de insossa e de pretensiosa, é porque nunca deve ter ouvido o Falling Into Infinity. Não que os demais álbuns do grupo sejam chatos, insossos e pretensiosos. Mas nenhum outro disco desse quinteto multifacetado tem uma carga emocional tão forte. Foi justamente por privilegiar o sentimentalismo – sem pieguice – e o experimentalismo em detrimento da mesmice, que o disco aqui resenhado atiçou a fúria dos fãs xiitas, aqueles que veneram única e exclusivamente a técnica massageadora de egos.

Falling Into Infinity
foi lançado em 1997, tendo que carregar o peso de suceder Images and Words e Awake, dois clássicos absolutos da banda. Além disso, era o primeiro disco (se desconsiderarmos o EP A Change of Seasons de 1995) com o tecladista Derek Sherinian, substituto do excelente Kevin Moore e conhecido até então por ter tocado com Alice Cooper e Kiss. Esses fatores, aliados à concepção musical do novo disco - mais melódica, simplista e menos agressiva se comparada com a do Awake -, serviram de subsídios para a banda ser taxada de comercial e de adjetivos afins. Essas observações, contudo, são desmanteladas com uma audição mais cuidadosa e com uma mente aberta à absorção de novas influências.

New Millenium
abre o disco com aquela viagem sonora típica das bandas progressivas. A atmosfera criada pelo teclado de Sherinian e pelo refinamento jazzístico do baixo de John Myung no início da canção é de extremo bom gosto. A música atinge seu ápice no agradabilíssimo refrão e na sua parte intermediária, em que Petrucci esbanja feeling em solos extremamente melódicos, o que é uma constante no álbum.

You Not Me encanta pelo ótimo desempenho vocal de James LaBrie e pelo refrão grudento e fofinho, que deve ter desagradado muitos conservadores à época. É uma power balada que começa um tanto quanto obscura e arrastada até desembocar no dinâmico refrão.

No início de Peruvian Skies, temos a falsa sensação de que se trata de mais uma balada. O começo é no mesmo estilo de You Not Me, ou seja, bem cadenciado e tranqüilo. Entretanto, a música vai evoluindo e ganhando consistência até nos surpreender com um riff sensacional e bem Hard Rock de Petrucci, que confere outra dimensão à composição ao incrementar o já excelente refrão. Sem dúvida, uma das melhores canções de toda a carreira do grupo.

Hollow Years, possivelmente a mais popular canção do quinteto, é, essa sim, uma autêntica balada. Conhecida até pelos que tratam a música de forma descartável (aqueles que se proclamam ecléticos, mas que só gostam das músicas mais palatáveis de determinadas bandas), Hollow Years é extremamente dispensável. É o único momento do disco em que o feeling descamba para a pieguice.

Burning My Soul é a mais pesada de Falling Into Infinity. Seu andamento mais Thrash lembra muito o de algumas músicas do Awake, principalmente Lie. As influências do Metallica são evidentes, mas sempre com a originalidade inerente ao Dream Theater. Ótima canção cujo destaque é o peso emanado pela guitarra de Petrucci e pela bateria de Portnoy.

A instrumental Hell’s Kitchen salta aos ouvidos, tamanha é a coesão e a técnica instrumental do grupo. Petrucci mostra por que é um dos mais venerados guitarristas da atualidade, arrancando frases e solos belíssimos da sua guitarra. Sherinian, por sua vez, cala a boca dos críticos ao criar uma aprazível atmosfera progressiva que arruma a casa para Petrucci solar.

Lines In The Sand é daquelas composições repletas de reviravoltas e de mudanças rítmicas características do progressivo. É uma verdadeira viagem sonora, uma homenagem à falta de limites e ao experimentalismo. Metal, Jazz, Pop, Progressivo. Lines In The Sand tem tudo isso em meio à marca registrada da banda: uma técnica embasbacante. Fica claro ainda que o grupo bebeu em fontes floydianas da época do Wish You Were Here nas passagens mais psicodélicas. Lines In The Sand poderia facilmente ser um resumo da carreira do Dream Theater. É uma obra-prima da banda mais arrojada da década de 90.

Take Away My Pain é outra balada que embeleza ainda mais Falling Into Infinity. O destaque é a linha de bateria deveras criativa de Portnoy e a interpretação correta e sem muita exaltação de LaBrie, que nesse disco optou por explorar menos o lado mais agudo da sua voz. Os que acham irritantes e enjoativos aqueles agudos estridentes do Image And Words agradecem. LaBrie é assim: quanto mais contido, melhor.

Just Let Me Breathe seria perfeita se seu refrão fosse mais curto e menos cansativo. De resto, é outra ótima composição. LaBrie mais uma vez se destaca ao apostar numa voz mais agressiva e condizente com a letra da canção, uma ácida crítica à indústria musical e seus vícios. O instrumental, que tem um quê de Deep Purple, é, mais uma vez, impecável.

Anna Lee é mais uma linda balada. Única composição de LaBrie no disco, essa música tem grande parte de sua beleza calcada no clima criado por Sherinian e pela elogiável performance do vocalista. Há de se mencionar o solo mais emocional e choroso da carreira de Petrucci. Anna Lee abusa do direito de ser bonita. É daquelas para se ouvir ao lado da pessoa amada para quebrar a monotonia de um domingo chuvoso.

Trial of Tears, a maior música de Falling Into Infinity, fecha o disco magistralmente. Dividida em três partes It’s Raining/Deep In Heaven e The Wasteland, Trial of Tears é mais uma bela amostra de como o virtuosismo deve ser utilizado em favor da canção e não como ferramenta para shows individuais. É uma faixa em que o lado progressivo da banda aparece bem mais que o metálico.

Falling Into Infinity é altamente recomendável para quem não teme inovações e para quem, sobretudo, compreende o espírito de liberdade criativa do Rock Progressivo. Para esses, ouvir o disco será uma experiência ímpar, haja vista a riqueza de detalhes, de nuances e de influências que o permeiam. Caso você prefira algo mais acessível, coloque um CD do Ramones para tocar. Porque, ao contrário do que dizem seus detratores, Falling Into Infinity pode ser tudo, menos acessível.

domingo, 15 de junho de 2008

Novo álbum do Metallica já tem título

O Metallica, através do seu site oficial, anunciou ontem (sábado, 14) o título do novo álbum. O nono disco de inéditas do quarteto estadunidense se chamará Death Magnetic e deverá ser lançado em Setembro. Desde o início, a divulgação do título do novo CD esteve envolta em mistério. A partir do dia 9 desse mês, o site oficial do grupo foi sendo atualizado com misteriosas imagens que, especulou-se, poderiam ser a capa do novo disco. A cada nova atualização, o desenho - que no início parecia dois imãs atraindo quatro M's do logotipo clássico da banda - ia sendo modificado e novas letras iam sendo acrescentadas entre os supostos imãs até a formação completa do nome do novo álbum da banda, o que ocorreu ontem. Percebeu-se, então, que os possíveis imãs eram, na verdade, a primeira e a última letra de Death Magnetic, ou seja, um D e um C. Resta agora saber se a imagem definitiva será mesmo a capa do novo registro.


Confira a evolução do desenho.-------------------------------------------------------------------------------------------------
Espera-se que todo o suspense e a expectativa criadas por jogadas de marketing não se transformem em uma grande decepção. St. Anger (2003), disco também bastante promovido por estratégias mercadológicas e também prometido como uma volta às raízes, só serviu para macular uma carreira que até então se mostrara quase que irrepreensível. Death Magnetic segue, pelo menos até agora, os mesmos passos do seu pífio antecessor. Aguardemos as primeiras resenhas e o lançamento.



sábado, 14 de junho de 2008

Heavy Metal: Revolução feita por tradicionalistas (parte 2)


Há ainda tantos outros exemplos de experimentações que causaram aversão aos bangers. O próprio Metallica, quando lançou o Black Album - o mais bem concebido disco da carreira da banda, uma vez que representou a conciliação entre uma maior acessibilidade e o peso e a agressividade típicos do grupo -, em 1991, dividiu opiniões. Os admiradores de longa data, baseando-se na ótima repercussão mercadológica capitaneada pela famigerada MTV - emissora cuja característica principal é a necessidade mórbida e efêmera de eleger e descartar "superastros" de tempos em tempos de acordo com as suas convicções financeiras -, dizem que o declínio do quarteto da Bay Area começou nessa época. Estes fãs, que reprimem a ousadia ao mesmo tempo em que abraçam a segurança, quase nada têm de revolucionários. Por isso, não conseguem compreender que o Black Album foi um projeto extremamente arrojado, com o objetivo claro de expandir a sua legião de fãs e de, conseqüentemente, popularizar (termo odiado pelos conservadores elitistas) o Heavy Metal. Afinal, ser comercial nem sempre é sinônimo de produzir trabalhos ruins. Ser comercial honestamente é ter a capacidade de modernizar o seu som sem desprezar as suas raízes para, dessa forma, abrir espaço para o Metal na grande mídia, o que é, simultaneamente, o sonho e o pesadelo dos bangers. Quando, apesar da qualidade, determinada banda não consegue uma divulgação e reconhecimento razoáveis nos veículos de comunicação massificados - aqueles mesmos que, desonestamente, tiram onda de imparciais - logo os headbangers se “revoltam” contra essa discriminação. Mas, quando outra banda (como o Metallica, por exemplo) consegue ser valorizada e atinge o estrelato e um relativo sucesso comercial, então os mesmos insurretos torcem o nariz para o grupo em questão. Afinal, o que quer essa parte dos metaleiros?

O Slayer com o South Of Heaven, álbum da maior qualidade que foi criticado quando do seu lançamento apenas por ser menos veloz que o velocíssimo e revolucionário Reign In Blood. O Dream Theater com o “Pop” Falling Into Infinity, o Angra com o “demasiadamente batucado” Holy Land, o Helloween com o “excessivamente experimental” Pink Bubbles Go Ape, o Sepultura com o antropofágico Roots. Todos esses álbuns, apesar de suas qualidades ululantes, sofreram e ainda sofrem grande resistência. O que deixa claro que o importante para grande parte dos fãs não é o fato de uma banda conseguir inovar e se manter relevante, mas sim a sua capacidade de repetir fórmulas prontas que deram certo no passado.

Infelizmente, as intolerâncias supracitadas não são tudo: elas são apenas algumas gotas em um oceano de preconceitos. Ao visitar os paupérrimos fóruns metálicos, que servem para desconstruir a lenda de que a maioria dos headbangers é gente progressista e de idéias arejadas, é fácil perceber preconceitos relativos a especulações acerca da opção sexual de determinados músicos (quem não já ouviu comentários depreciativos sobre a possível homossexualidade do vocalista Andre Matos tão-somente por causa dos seus vocais cristalinos, altos e agudos? E a pejorativa transformação do nome Edguy em Edgay apenas por essa banda cultuar a irreverência e a alegria em suas músicas?), como se o caráter ou a competência profissional desses indivíduos dependesse de suas escolhas pessoais, as quais, numa sociedade que se pretende democrática, devem ser respeitadas e aceitas sem concessões. É a tão comum, ignorante e nociva inversão de valores.

As discriminações acima mencionadas tem como uma de suas causas o culto à seriedade, à sisudez e ao mal humor, perniciosas características que uma grande parte do Heavy Metal absorveu com o passar dos anos. De um tempo pra cá, o Metal tem sido movido por uma necessidade mercadológica de parecer mal, de rejeitar o sentimentalismo diante da racionalidade - como se essa binearidade não fosse altamente preconceituosa e reducionista -, mesmo sendo um dos estilos mais emocionais que já existiram. É por isso, certamente, que até hoje os instrumentistas roboticamente virtuosos e frios são mais valorizados do que aqueles que priorizam o feeling à velocidade, o experimentalismo à mesmice. É também por conta dessa exigência financeira que bandas como Helloween e Gamma Ray, que no início das suas carreiras veneravam o bom humor e até a utopia socialista (lembra-se de Future World?), tiveram que passar por um processo de mecanização com o passar dos anos, o que resultou em discos mais introspectivos e pessimistas e o que, em última instância, jogou no lixo a originalidade ideológica desses grupos (basta comparar a capa antiga do Helloween, a que abre o texto, com a mais recente que está abaixo).

O Heavy Metal nasceu nos subúrbios ingleses e se transformou numa expressão artística de pessoas marginalizadas pela sociedade, oriundos da base da pirâmide social. Hoje, pelo menos no Brasil, é um estilo musical consumido e muitas vezes tocado pela classe média. Como não poderia deixar de ser, esse estrato social transfere para a música todo o seu conservadorismo e seu falso moralismo. Boa parte do público headbanger alimenta uma revolta fútil e localizada, que se expressa apenas no campo emocional. Como seria bom se esse descontentamento oco fosse canalizado para quebrar a inércia dessa classe social.

É por todas as limitações impostas pelos fãs e, conseqüentemente, pelo mercado, que o Metal tem se tornado um estilo excessivamente carrancudo e sem fantasias. As minhas, cultivadas desde os primeiros anos de headbanger, só não enfraquecem por conta de bandas que insistem em desafiar regras e modelos consagrados e por uma minoria verdadeiramente preocupada com os rumos que este fascinante estilo de música e de vida tem tomado. Por sorte, essa minoria é a maioria do headbangers com os quais convivo. Mas é só visitar alguns asquerosos fóruns metálicos espalhados por aí para perceber que o Heavy Metal, gênero musical revolucionário por natureza, tem cada vez mais se tornado objeto de consumo de tradicionalistas da pior espécie.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Heavy Metal: Revolução feita por tradicionalistas (parte 1)

O Heavy Metal é, em todas as suas subdivisões, um dos mais preconceituosos e herméticos estilos musicais. São vários os fãs que se acham revolucionários e dotados de senso crítico diferenciado apenas por escutar um estilo tido como marginalizado pelo sistema (denominação genérica típica de posers revolucionários). Claro que a última afirmação tem seu fundo de verdade – basta verificar a programação da mídia musical jabazenta e a paupérrima divulgação de shows do estilo para constatar que o Metal nunca foi um chamariz comercial. Porém, é verdade também que o preconceito e o conservadorismo dentro dessa vertente do Rock se equiparam à discriminação fomentada contra ele. Ou seja, grande parte dos headbangers é hipócrita: combate a intolerância ao mesmo tempo em que a pratica, muitas vezes de forma bem mais radical.

Ao longo dos anos, são vários os exemplos dessa prática perniciosa. O Iron Maiden, maior ícone do Rock pesado depois do Black Sabbath, sofreu ataques tanto da mídia especializada (?) quanto dos fãs mais xiitas quando lançou, em 1986, o hoje clássico Somewhere in Time. Diziam, os arautos da verdade absoluta – que esquecem o caráter extremamente emocional e, portanto, individual da música – que a Donzela estava mais comercial (outra nomenclatura supérflua e genérica que se tornou um escudo para os fãs mais tradicionalistas quando suas bandas preferidas inovam) por usar guitarras sintetizadas e por incluir o teclado de forma mais contundente nas canções. Não compreendiam que a banda procurava uma válvula de escape para, simultaneamente, renovar-se e manter sua essência. Muitos dos que criticavam a banda à época são os mesmos que hoje classificam o álbum supracitado como item obrigatório na discografia básica de qualquer headbanger que se preze.

Outra polêmica carregada pelo grupo até hoje é o guitarrista Janick Gers. Tido pela maioria ortodoxa (e aqui eu me incluo nela) como um instrumentista inferior aos inquestionáveis Dave Murray e Adrian Smith por, em apresentações ao vivo, assassinar solos originalmente compostos pelo último e por, em estúdio, utilizar timbres mais sujos e agressivos do que aqueles consagrados na fase oitentista do grupo, ele é, ainda hoje, o patinho feio do sexteto. Toda essa aversão reside na formação musical de Janick, que é mais calcada no Hard Rock simples do que no Heavy Tradicional. Por isso, essa repulsa deve ser depositada em quem o escolheu para integrar uma banda cujo estilo não combina perfeitamente com a sua concepção musical mais despojada, típica de um Rock ‘n’ Roll descompromissado.

Mais um exemplo explícito do tradicionalismo inerente ao estilo é a incapacidade dos headbangers de aceitar a radical mudança de ares de um dos melhores vocalistas da história, o ex-Helloween Michael Kiske. Após ter deixado a banda alemã em 1993, no qual já tentava incluir a sua nova mentalidade musical, Kiske colocou a sua vontade e a sua liberdade musical acima das conveniências mercadológicas do Heavy Metal. Ousou mais do que uma boa parcela de bandas do estilo, tocando um Pop Rock honesto, oriundo da alma, sem amarras. Por meio de declarações sinceras e, consciente do seu papel como músico, Kiske revelou toda a sua decepção com uma indústria musical dominada pelo capitalismo selvagem, que consagra bandas robóticas e fabricadas e despreza aquelas que valorizam o sentimento e a liberdade artística.

Para Kiske, são raros os fãs que verdadeiramente valorizam a criatividade e que compreendem as suas inovações musicais. Ainda segundo ele, grande parte dos metaleiros é gente de cabeça fechada, que não consegue apreciar outros estilos musicais. Assim, esse extraordinário músico e ser humano reacendeu uma discussão ao mesmo tempo antiga e atual: o que é mais desonesto e comercial? Construir uma carreira sem inovações dentro de um estilo um tanto quanto marginalizado ou ser versátil e passear por estilos diferentes e mais acessíveis? Fico com a primeira opção. Quando uma banda constrói uma carreira respeitável, mas burocrática porque carece de arrojo (como o AC/DC e o Motörhead), ela se acomoda numa base de fãs formada ao longo dos anos que, inevitavelmente, comprará tudo o que a banda lançar, independente da qualidade do trabalho. Além disso, o grupo corre um sério risco de estuprar sua criatividade em nome da segurança financeira, o que a torna engessada e vai de encontro ao propósito de ser músico, ainda mais de Heavy Metal.

Outra banda que causou “indignação” no meio Heavy foi o Metallica, com o lançamento do Load e do Reload. A banda havia mudado não só no quesito musical, mas também na indumentária e no logotipo, que já não transmitia a agressividade de outrora. Os bangers mais afoitos logo os chamaram de traidores e se perguntavam se aquele era mesmo o Metallica que havia concebido a obra-prima Master of Puppets. E era sim. Para falar a verdade, os dois álbuns mencionados são bastante honestos e refletem fielmente o momento conturbado que a banda vivia. Drogas, bebidas, problemas familiares e o sucesso repentino contribuíram para a formação da atmosfera sombria presente nos discos. Musicalmente falando, Load e Reload (que deveriam ser um álbum duplo) são discos pesados, cheios de feeling e mais experimentais. E essa última palavra, junto com a supervalorização da questão estética – que, para muitos, tornou-se mais crucial do que a música em si – incomodou os batedores de cabeça sem causa que não se dão ao trabalho de pensar o Heavy Metal.

------------------------------------------------------------------------------------------------

Continua no sábado.

terça-feira, 10 de junho de 2008

A indigência do rock e a volta dos dinossauros

Por Diogo Salles

Texto publicado no site Digestivo Cultural

A princípio era só um flashback. Depois vieram os costumeiros ataques à onda saudosista e turnês caça-níqueis. Mas era algo maior do que uma simples celebração passageira de uma época remota. Sim, o rock de arena está de volta ― e com força. Ainda que algumas arenas sejam bem menores hoje, os últimos shows que recebemos aqui no Brasil corroboram a tese: Bob Dylan, Iron Maiden, Ozzy Osbourne, Rod Stewart e, mais recentemente, Whitesnake. Mesmo com preços obscenos, infra-estruturas lamentáveis e cambistas fazendo a festa, na maioria desses shows os ingressos se esgotaram rapidamente. Mas de onde vem essa sede saudosista? Por que o público venera tanto fórmulas que se esvaíram com o tempo? A resposta é uma somatória de dois fatores: por sua indiscutível qualidade e pela total ausência de herdeiros.

Assim como aconteceu na arte, a música também se dissolveu como forma de expressão artística. Impulsionados pelo hype, a "atitude" e o desejo de causar "impacto" tomou conta do cenário musical. Mesmo que esse fenômeno não seja totalmente novo, antes o talento nunca deixava de ser reconhecido. Em outras palavras, por mais que existisse a MTV, era evidente quais artistas construíam uma carreira sólida e quais eram meros subprodutos daquela geração. Após a diluição de seus atos a partir dos anos 1990, os velhos rockers entravam para a posteridade. Com a saída de cena do grunge e a decadência das majors, o mercado se tornou mais homogêneo. E, coincidentemente ou não, mediocrizou-se de maneira aterradora.

Todo o conceito do rock, desde os primórdios, foi moldado em torno da guitarra. Mais que do um mero instrumento, ela ajudou a conceber a linguagem do rock, assim como já havia feito com o pai do próprio rock, o blues. Não por acaso, a guitarra se tornou objeto de culto entre os roqueiros, impulsionando a figura do guitar hero aos holofotes. Os riffs e os solos duelavam com a voz, fazendo um mágico diálogo musical dentro da banda. Assim, ter um guitarrista com identidade própria era igualmente importante a ter um vocalista carismático. Existiam, claro, outras facetas, mas toda a chave de uma banda bem sucedida residia ali, naquela simbiose.
Exemplos não faltam: Mick Jagger e Keith Richards; Robert Plant e Jimmy Page; Bono Vox e The Edge; Steven Tyler e Joe Perry; David Lee Roth e Eddie Van Halen.

Com a chegada dos anos 2000, a sensação é que todas as fórmulas já tinham sido esgotadas e iniciou-se um processo de desconstrução do rock. Mais especificamente, da guitarra. Todos os riffs antes festejados, todos os solos antes cultuados, foram jogados no museu do esquecimento. Em seu lugar, difundiu-se uma idéia de que a guitarra era apenas um acessório como qualquer outro e não haveria razão para se preocupar com melodias, harmonias e arranjos mais complexos. O resultado disso é que, hoje, agonizamos entre o indie e o emo.

O indie (corruptela de "independente") é o arquétipo do rock insípido e sem imaginação, que caberia mais adequadamente no rótulo de "indiegente". Seus adeptos gostam de cinema europeu e literatura cult. Os cabelos são providencialmente ensebados e milimetricamente desarrumados. As roupas largadas, bem ao estilo punk de butique, completam o perfil pseudo-intelectual blasé. A música segue mesma toada e é puro recalque, com letras melancólicas e soturnas. As guitarras? Mal e porcamente tocadas. Timbres hediondos, riffs constrangedores, acordes ordinários e solos balbuciados evidenciam o completo estado de penúria do rock atual.

Não muito longe dali, encontramos aquela turminha que fracassou na tentativa de ser hardcore e foi chorar no colinho da mamãe. E não é que o queixume deu certo? Surgia o emocore. Com frases vagas, letras acéfalas, rimas vulgares e um amontoado de clichês dignos de livros de auto-ajuda, os emos derramam suas lágrimas e melindres em sua sarjeta existencial. Coitadinhos deles. Mas ao mesmo tempo em que choram, morrem de rir, engordando seu caixa e alimentando um mercado cada vez mais sôfrego e cada vez menos exigente.

O pior de tudo é ver que a fragilidade dos "neoroqueiros" virou objeto de veneração. Ser ruim hoje é considerado cool. É hype. Imagine o punk do Sex Pistols sendo reverenciado em pleno 1977 como um símbolo iconográfico de qualidade musical. Pois isto está acontecendo hoje com bandas muito piores que o Sex Pistols. Eu achava que esta seria apenas mais uma onda neopunk, fugaz como todas as outras, mas parece que vieram para ficar. Tudo é muito lamuriento, auto-indulgente e chato, mas reconheço que isso é uma opinião. Porém, uma opinião que não se opõe ao fato: o rock de hoje é apenas medíocre. Sua "qualidade" é sofrível. Sua "mensagem" é débil. O rock conseguiu, enfim, atingir seu anticlímax.

Em meio a esse vazio musical que observamos hoje, os dinossauros despertaram de suas aposentadorias e voltaram à cena, lançando discos e lotando shows pelo mundo. Tomemos de volta o exemplo do Whitesnake. Um dos ícones da cultura kitsch e do "metal farofa" dos anos 1980, o Whitesnake obrigou até mesmo seus críticos mais ferozes a reconhecê-lo como uma das grandes bandas da época. E sua volta prova que a assinatura deixada por David Coverdale nunca foi esquecida. Quem esteve no Credicard Hall (SP) no último dia 9 percebeu este sinal dos novos tempos. E se engana quem acha que o público era composto exclusivamente por roqueiros quarentões. Dividiam o espaço, junto a eles, adolescentes que preferiram não aderir ao asfixiante vácuo musical de indiegentes e emorróidas.

A formação atual da banda é a usual do rock genuíno. Baixo, bateria e teclados fazendo um pano de fundo para duas guitarras e os vocais rasgados de Coverdale, formando uma trepidante parede sonora que reverberava dentro da concha acústica. Todos os elementos do velho rock de arena estavam lá: o duelo de guitarras, o solo de bateria, o público cantando a sucessão de hits em uníssono, o momento acústico com The deeper the love e o massacre sonoro de Still of the night.

Mesmo que o veterano vocalista já não atinja todas as notas desejáveis, era revigorante vê-lo comandar o show. Mais do que isso, era uma espécie de antídoto contra toda a presunção, a preguiça e a insignificância dessa nova geração de pseudoroqueiros de hoje. O set foi fechado de forma brilhante com o medley Burn/Stormbringer, dois dos mais celebrados clássicos que Coverdale cantava em seus tempos de Deep Purple. E para quem ainda não entendeu o que é um riff de verdade, sugiro começar pela audição de Burn.

Muitos dirão que isso tudo é uma mera questão de gosto musical. Outros objetarão dizendo que ninguém é obrigado a reconhecer o Whitesnake ou qualquer banda classic rock como música de qualidade. Não, não se trata de gosto. Trata-se apenas de distinguir um vocal bem postado de um berro desafinado. Trata-se de separar um riff inventivo do barulho cheio de "atitude". Trata-se de separar um arranjo bem trabalhado de um garrancho porco disfarçado de "música". A volta do classic rock foi importante não apenas para lavar a alma de roqueiros incautos, mas também para tentar corrigir essas anomalias.

-------------------------------------------------------------------------------------------

A opinião de Diogo Salles, no que se refere aos aspectos musicais é, sem tirar nem pôr, a opinião deste blog. Em relação a este quesito, o texto está impecável. Já os julgamentos estéticos foram preconceituosos e desnecessários.

domingo, 8 de junho de 2008

Workshow de Eduardo Ardanuy



Eduardo Ardanuy, um dos mais virtuosos guitarristas brasileiros, estará na capital baiana na próxima sexta-feira (dia 13) às 18h no BondCanto (Rio Vermelho) para realizar mais um workshow de sua turnê mundial. No evento, além de apresentar as suas principais técnicas e de tirar dúvidas do aprendizes e dos curiosos, o músico tocará alguns clássicos do Dr.Sin, banda que o projetou no cenário internacional. Os ingressos, cujos preços variam entre R$20 e R$30 a depender do lote disponível, estão à venda no Andarilho Urbano (Shopping Iguatemi), na Rangel Tattoo e no Athelier PHNX.

Mais informações pelos telefones : 8874-7900 e 8762-1462.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Os CDs que vêm por aí

Além do Judas Priest, cujo novo álbum - Nostradamus - já foi notícia neste blog, outras bandas consagradas anunciaram novos CDs para o segundo semestre deste ano ou para o início do ano que vem. Vamos a eles.

SEPULTURA

A banda mineira entrou em estúdio no começo de maio para iniciar as gravações do seu novo trabalho, ainda sem capa e título definidos. O disco será baseado no romance Laranja Mecânica do escritor britânico Anthony Burgess e no célebre filme homônimo de Stanley Kubrick. Segundo o baixista Paulo Júnior, o processo de gravação já está bem encaminhado:

“Dolabella [Jean Dolabella, o baterista] gravou 20 músicas em dois dias, uma máquina! Com isso, estamos adiantados na nossa agenda. Agora vamos para o próximo passo: as guitarras!”

O álbum, o primeiro sem os idealizadores da banda - os irmãos Cavalera - deverá chegar às lojas em Outubro via SPV.

MOTÖRHEAD

Conforme noticiou o Blabbermouth, o 20º disco de inéditas do power trio mais rock n' roll de todos os tempos já tem nome e previsão de lançamento. Motorizer, sucessor de Kiss of Death (2006), sairá no final do ano via SPV Records. A capa e os detalhes do processo de gravação ainda não foram divulgados.


AC/DC

Depois de oito anos de férias, o AC/DC finalmente voltou aos estúdios. O sucessor de Stiff Upper Lip (2000), que ainda não tem capa e título, levou pouco mais de cinco semanas para ser gravado. Agora, o irmãos Malcom e Angus Young, juntamente com os produtores Mike Fraser e Brendan O' Brien, estão em Vancouver, Canadá, finalizando o processo de mixagem. Segundo declarou o vocalista Brian Johnson a uma rádio estadunidense, o álbum deverá ser lançado no final do ano.


KREATOR

O grupo alemão de thrash metal entrará em estúdio no dia 20 de Julho para começar a gravar o aguardado sucessor do excelente Enemy of God (2005). Ainda sem título, o álbum será produzido pelo alemão Moses Schneider. “A pré-produção em nosso estúdio de ensaio foi realmente tranquila”, diz o líder do grupo, Mille Petrozza. “O jeito de Moses trabalhar com as bandas leva-as para um estado mais emocional e a um nível mais técnico, significa que o álbum vai soar mais cru e direto. Estamos tentando captar a energia do Kreator ao vivo e será usado equipamento vintage analógico para as gravações. Esperem um massacre!”

O álbum será lançado em Janeiro de 2009.

SAXON

Um dos maiores expoentes da NWOBHM (New Wave Of British Heavy Metal) junto com o Iron Maiden, o Saxon está em estúdio trabalhando em um novo disco, ainda sem título e capa, que deverá sair em Outubro. O último álbum do grupo britânico foi o bom Inner Sactum (2007).


METALLICA

Depois do pífio St.Anger (2003), uma aula de como não se fazer um disco de heavy metal, o quarteto norte-americano está há meses em estúdio gravando o tão esperado nono álbum de inéditas que sairá em Setembro. Produzido pelo renomado Rick Rubin (System Of A Down, AC/DC, Slayer), o novo disco, segundo afirmou o baterista Lars Ulrich, deverá ser uma volta às raízes oitentistas do grupo uma vez que Master of Puppets (1986) e Ride The Lightning (1984), dois dos principais clássicos da banda, foram usados como parâmetros para a composição das novas canções.

Recentemente (27 de Maio) o Metallica, para saciar a curiosidadedos fãs, colocou no ar o site Mission Metallica, que disponibiliza downloads de shows históricos, fotos e vídeos de estúdio e três pacotes de compra para o novo álbum. O mais barato custa 25 dólares e permite que o associado - é necessário fazer um cadastro rápido e gratuito - tenha todas as faixas do disco em MP3 a 320kbps. Já no pacote premium, o mais caro de todos (125 dólares), além dos MP3s e do acesso a áreas restritas do site, estão inclusos o CD e uma caixa com cinco LPs.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Sepultura - Chaos A.D.




Review também publicado no site Whiplash


Rupturas, inovações, quebra de paradigmas. Qualquer pessoa ou quaisquer grupos de pessoas, em qualquer campo social, que ousem desafiar regras e modelos já bem estabelecidos e consagrados sofrem, obrigatória e inevitavelmente, resistência e reações adversas. É da própria natureza humana abraçar o velho e sua segurança e repudiar o novo e suas mudanças e incertezas. Entretanto, não é e nunca foi do DNA do Sepultura, banda cuja música é, por definição, explosiva e contestatória, se acomodar e se prender a fórmulas bem-sucedidas. A ousadia e a inquietude sempre foram marcas registradas do quarteto mineiro.

Em 1993, depois do sucesso retumbante de Beneath the Remais (1989) e Arise (1991), álbuns calcados em um thrash/death metal vigoroso e visceral com explícitas influências de Slayer, o Sepultura resolveu arriscar em Chaos A.D. E, apesar da polêmica inicial, a aposta foi exitosa. Ao misturar a brutalidade e selvageria metálicas, características que notabilizaram o grupo desde os seus primórdios, com percussão, batidas e ritmos tribais, os belohorizontinos criaram uma linha musical de vanguarda. Em uma verdadeira antropofagia musical, o Sepultura apimentou e incrementou um gênero musical estadunidense – thrash metal da Bay Area, em San Francisco – com influências próprias da cultura tupiniquim, tornando-se, ao mesmo tempo, uma banda de fácil identificação e de difícil classificação e rotulação.

Em Refuse/Resist e em Territory, músicas que soberbamente abrem Chaos A.D., o grupo já deixa claro aos mais desavisados e xiitas que os andamentos mais acelerados e os riffs palhetados, apesar de ainda darem as caras em significativa quantidade, não são mais os principais ingredientes de sua música. Em contrapartida, se uma boa parcela dos riffs está mais técnica, cadenciada e trabalhada, a agressividade – emanada principalmente dos vocais guturais absurdamente poderosos de Max Cavalera –, o peso e a crueza, para alegria dos fãs mais puristas e para desespero dos ouvidos mais delicados de porcelana, continuam lá, inabaláveis e intocáveis. É nessa composição/mescla de novas nuances com elementos já tradicionais que reside o grande mérito e o grande trunfo de Chaos A.D. Prova disso é que, em um mesmo álbum, convivem harmonicamente canções tão díspares quanto Kaiowas – música instrumental, de acentuado caráter tribal, em homenagem aos índios brasileiros da tribo homônima que, segundo consta no encarte, “cometeram suicídio em massa como protesto contra o governo que estava tentando se apropriar de suas terras e de seus costumes” – e Biotech is Godzilla, faixa thrash/hardcore raivosa que poderia facilmente fazer parte de Arise ou de Beneath the Remains.

Individualmente, os principais destaques são, obviamente, os irmãos Cavalera: o coração, o cérebro e a alma do Sepultura. Max, além da já elogiada performance vocal, foi o grande responsável por trazer elementos tribais ao som do Sepultura – fato que ficou inteiramente corroborado após a sua deserção em 1996, quando esses traços foram progressivamente desaparecendo até serem totalmente eliminados em Roorback (2003) e em Dante XI (2006) – e escreveu quase todas as letras de Chaos A.D., com menção especial a Refuse/Resist, uma crítica à proliferação de conflitos e guerras mundo afora, e a Manifest, um protesto contra a truculência governamental e policial no episódio conhecido como massacre do Carandiru, uma verdadeira chacina de presidiários.

Já Igor Cavalera, por sua vez, mostrou em Chaos A.D. que não era “apenas” um baterista pesado, rápido e preciso, como ficou evidenciado nos primeiros trabalhos do grupo, mas era também dono de um arsenal bastante variado e intrincado. As linhas de bateria de Territory, Slave New World – outro petardo thrash – e Kaiowas, por exemplo, além de memoráveis, inventivas e antológicas, elevaram Igor a um patamar de respeitabilidade internacional, sendo considerado até hoje como um dos melhores bateristas do Brasil e do mundo.

Romper barreiras e quebrar paradigmas é, via de regra, uma tarefa complicada e, por vezes, traumática. Gera insatisfações e pode deixar seqüelas irreversíveis. Se foi em Roots (1996) – outro álbum altamente recomendável – que o Sepultura aprofundou e levou ao extremo as influências tribais, foi em Chaos A.D. que essas novidades vieram à tona e revolucionaram tudo aquilo que era conhecido como metal no início da década de 90. O Sepultura mostrou, enfim, que, apesar do abismo histórico que os separa e da barreira imposta pelos headbangers mais conservadores, o moderno e o plugado – o heavy metal – e o antigo e o desplugado – a cultura e a música indígenas – poderiam conviver pacificamente em uma simbiose cultural e musical altamente enriquecedora. Foi assim que o quinteto mineiro rompeu, inovou, quebrou velhos paradigmas e assegurou seu lugar na eternidade.

Indispensável.

-------------------------------------------------------------------------------------------------
Curiosidades

A introdução da música Refuse/Resist é o batimento do coração de Zyon, filho de Max Cavalera, ainda no útero da mãe.

O clipe de Territory, gravado em Israel, foi eleito o melhor do ano (1994) pela MTV Brasil.

Chaos A.D. foi o álbum que internacionalizou o Sepultura. Na sua turnê, a banda se apresentou para um público de 50 mil pessoas em um dos mais importante festivais de heavy metal do mundo, o Monsters Of Rock. Além disso, os mineiros foram o primeiro grupo brasileiro a tocar na Rússia.

Chaos A.D. já vendeu mais de meio milhão de cópias.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Roadie Crew - Edição de Aniversário



A Roadie Crew, a melhor revista de Heavy Metal e Rock Clássico do Brasil, completou dez anos mês passado (Maio). E para comemorar uma década de vida, nada melhor que lançar uma edição comemorativa dedicada exclusivamente à guitarra e aos guitarristas, dois dos principais protagonistas da música pesada.

Além de uma pequena biografia dos 50 maiores mestres das seis cordas de todos os tempos - eleitos por guitarristas do mundo inteiro por um processo de seleção estabelecido pela própria Roadie Crew -, a revista traz também entrevistas com nomes consagrados do instrumento, como Alvin Lee (ex-Ten Years After), Michael Schenker (ex-UFO e Scorpions e atual MSG), Uli Jon Roth (ex-Scorpions), Peter Frampton etc. Há, ainda, a análise da quilométrica discografia do multifacetado Frank Zappa na seção Roadie Collection, pôster de Randy Rhoads, review do show de Ozzy em São Paulo, biografia completa de Jimi Hendrix e a história da Fender Stratocaster e da Gibson Les Paul, os dois modelos mais tradicionais de guitarra.

Enfim, a edição especial de aniversário da Roadie Crew é uma aquisição obrigatória não só para headbangers - principais destinatários da publicação - ou para guitarristas, mas para todos os fãs de rock que querem ampliar seus conhecimentos sobre o estilo. É para ler, reler e guardar para consultas futuras. Muito mais do que um gasto, é um belo investimento.

Altamente recomendável.