sexta-feira, 30 de maio de 2008

Tributo ao Angra


A banda baiana TemplariuS fará amanhã (sábado, dia 31), no Café Teatro Sitorne (Rio Vermelho), às 19:00h, um show para homenagear um dos mais bem-sucedidos grupos do Heavy Metal nacional, o Angra. A apresentação, com duração aproximada de duas horas, percorrerá toda a discografia do quinteto paulistano em seus mais de 15 anos de carreira. Para tentar reproduzir fielmente toda a excelência instrumental do Angra, a TemplariuS contará com a participação do ex-guitarrista do Drearylands, Páris Menescal, e de músicos de outras bandas soterapolitanas, como a Andirá e a Dryad.

Os ingressos para o evento custam R$10 e estão à venda no Andarilho Urbano e no PhnX Atelier. A censura é de 16 anos. Para mais informações, ligar para (71) 8816-5696.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

He Brings You Rock N' Roll

Conforme noticiou o site Classic Rock, Lemmy Kilmister, vocalista e baixista do Motörhead e uma das maiores lendas vivas do metal, finalmente receberá uma homenagem à altura da sua importância e contribuição para a música: trata-se do documentário “Lemmy”, previsto para sair ano que vem. A película, que retratará a vida e a obra do Highlander do metal, terá depoimentos de astros do rock, como Alice Cooper, Dave Grohl, Steve Vai, Slash e Ozzy Osbourne.


Ian “Lemmy” Kilmister
, 62, já está há mais de três décadas à frente do Motörhead, uma das bandas mais barulhentas do mundo. Viciado em anfetaminas – daí o nome da banda que é, na verdade, uma gíria estadunidense para designar viciados em anfetaminas –, em Jack Daniel’s e em cigarros, Lemmy, ao contrário do que poderiam prever a lógica e a medicina, até hoje mantém a forma e paixão pela música, lançando, em média, quase que um álbum por ano e sendo reverenciado como uma verdadeira instituição do rock.

Para atingir tal patamar de respeitabilidade, não foi necessário “apenas” compor uma miríade de clássicos e se diferenciar com sua voz grave e roufenha e com seu baixo Rickenbacker tão distorcido que mais parece uma guitarra. Lemmy, que já foi até roadie de Jimi Hendrix, é, antes de tudo, um ferrenho defensor e entusiasta do rock n' roll. Vira e mexe, ele externa, sem medo de parece anacrônico ou ridículo, todo o seu amor por esse gênero musical. É o que fica demonstrado nestas declarações concedidas ao site Stuff em Outubro do ano passado.


“Alguém disse para mim recentemente que eu devia me aposentar e deixar espaço livre para os mais jovens: Que se foda! Eu não tenho visto ninguém melhor do que eu, então porque devo parar? As pessoas acham que Rock N’ Roll é só sobre rebelião adolescente, mas por que não podem existir velhos rebeldes também?

“Se as pessoas acham a visão de um cara mais velho tocando Rock N’ Roll irritante para os seus olhos, eles podem simplesmente não assistir. Algumas pessoas ficam melhores quando envelhecem, se eles realmente se importam com o que fazem, como eu. Certamente, eu nunca fiz isso pelo dinheiro, porque nós nunca vendemos muitos álbuns. Existem várias porcarias de bandas milionárias, mas não a gente”.

"Algumas pessoas às vezes afirmam que o Rock N’ Roll está morto, mas ele nunca vai morrer, porque é sempre empolgante ouvir uma música decente de Rock N’ Roll. Veja o AC/DC, cara. Eles ainda são bons para caralho, do mesmo jeito que eram quando eles começaram, há anos atrás. ZZ Top é outro. Eles continuam compondo grandes riffs. Existe uma coisa em um bom riff de guitarra que mexe tanto com seu corpo quanto com sua alma. Ele fala com algo profundo em você. Ele entra em você. Isso nunca vai mudar"

Certamente, o que nunca mudará é a admiração e o respeito que a grande maioria dos headbangers tem por Lemmy Kilmister, e este documentário, com seu incalculável valor histórico, só reforçará essa posição. Afinal, a história de Lemmy, a mais fiel personificação do metal, se confunde com a própria história do rock. Há, nessa relação, uma dependência recíproca.

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Abaixo, segue o vídeo, disponibilizado no site LemmyMovie, com trechos do documentário.



terça-feira, 27 de maio de 2008

Iron Maiden no Brasil - A matéria do Fantástico

O Iron Maiden esteve no Brasil no início de Março para fazer shows referentes à Somewhere Back in Time World Tour em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Como a passagem do sexteto inglês - sexteto, viu Sérgio Martins? - causou bastante rebuliço - todos os shows foram sold out -, a grande mídia não poderia fazer de conta que o Heavy Metal não existe, como costuma fazer. Quer dizer, das grandes redes de televisão, só a Globo e a Record produziram reportagens sobre a passagem da banda. A sucursal da Record em Porto Alegre produziu uma matéria para exibição em um telejornal local. Já a Globo produziu duas, ambas de alcance nacional: uma veiculada no Jornal da Globo e a outra no Fantástico. Analisemos esta última, a cargo do jornalista Álvaro Pereira Júnior.


Primeiro, o vídeo:






Agora, o primeiro equívoco da matéria.

"O mundo do rock se divide em dois. Um deles gira a toda velocidade, novidades surgem a cada segundo, está em renovação constante. Mas o outro mundo do rock está parado e é nesse mundo em que nada muda que reina absoluta uma banda inglesa de metal pesado: Iron Maiden"

É assim que, de forma bastante infeliz, Álvaro Pereira Júnior - pupilo de Sérgio Martins? - começa a sua reportagem. Bem, dizer que o heavy metal é um gênero musical estático e imutável só revela o despreparo, o desconhecimento e, principalmente, a preguiça do jornalista. O Heavy Metal é, possivelmente, uma das vertentes do rock que mais evoluiu desde o seu surgimento. Prova disso são as suas inúmeras segmentações - doom metal, thrash metal, metal neoclássico, metal tradicional, metal melódico, metal progressivo etc - que, apesar de terem uma essência em comum, apresentam características próprias. Além disso, os músicos de Heavy Metal estão, sem dúvida alguma, entre os mais inquietos do mundo do rock. Grande parte deles está sempre se aperfeiçoando e buscando novas influências para a sua música. O rock pesado já se fundiu ao jazz, à world music, à música clássica, a ritmos regionais brasileiros, a ritmos indígenas, ao hardcore, ao punk, ao progressivo e outros. Ou seja, é justamente o contrário do que afirma Álvaro Pereira Júnior.

Para completar, o jornalista ainda confronta o Heavy metal com um outro mundo do rock - segundo a reportagem, esse seria o mundo dinâmico e inovador - formado por bandas como Arctic Monkeys, Oasis e The Libertines. Ora, quem já escutou o som praticado por esses grupos sabe que até hoje eles não conseguiram expandir seus horizontes musicais para além de um rock básico e direto. Essas bandas é que são mais do mesmo. São, em termos musicais, muito mais conservadoras e antiquadas do que a maioria - claro que há exceções, vide o Motörhead - das bandas de Heavy Metal.

Por último, o segundo equívoco que, na verdade, é uma repetição localizada do primeiro.

"Muitos músicos entraram e saíram, mas o som [do Iron Maiden] não mudou : 100% metal."

Não é possível que uma pessoa, em sã consciência e que tenha uma discoteca minimamente considerável, não seja capaz de perceber diferenças ululantes entre álbuns como Iron Maiden (1980) e A Matter of Life And Death (2006) ou entre Powerslave (1985) e The X-Factor (1995). É realmente mais fácil homogeneizar, generalizar, estereotipar do que analisar as diferentes fases pelas quais a banda passou. Requer menos esforço e facilita a compreensão da reportagem. Aliás, será que antes de falar que o som do Maiden permaneceu parado no tempo - uma baboseira colossal -, o jornalista se deu ao trabalho de ouvir pelo menos dois álbuns do sexteto inglês?

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OBS: Há pouco tempo, a Globo transmitiu os shows do Rolling Stones, do U2 e do The Police quando essas bandas aqui estiveram. E por qual razão não transmitiu o show do Maiden em São Paulo se, como ficou comprovado ao final da matéria supracitada, filmou a apresentação?

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Helloween - Keeper Of The Seven Keys 1


Sem conseguir obter êxito nos papéis de vocalista e guitarrista do Helloween, Kai Hansen passa a se dedicar apenas à segunda função. Para o posto de vocalista é recrutado o jovem – com apenas 18 anos na época – Michael Kiske, peça que se mostraria fundamental no processo de reconstrução da banda. É a partir daí que a abóbora alemã começa a alçar vôos mais altos rumo ao estrelato mundial. É com o Keeper of The Seven Keys Part I (1987) que o Helloween abandona o irregular Thrash Metal Melódico do primeiro CD - Walls of Jericho (1985) - e inicia o desenvolvimento do que mais tarde seria alcunhado de Heavy Metal Melódico.

Se alguém me pedisse para definir esse álbum com uma só palavra, esta seria clássico. Muito clássico. Músicas extremamente sinceras, cheias de feeling, pegada e o que considero mais de meio caminho andado para se compor uma boa canção: riffs sensacionais. Tudo isso sem contar as letras, um dos maiores diferenciais do grupo na época. Quando o cenário metálico era dominado pela rabugice e pelo mau humor das bandas de Thrash, o Helloween surge como uma banda divertidíssima, alegre e até pueril, infantil. Suas letras, além de serem verdadeiros convites à felicidade e de serem mais eficientes que qualquer livro de auto-ajuda – para que ler Augusto Cury se Kai Hansen, principal compositor da primeira parte de Keeper of The Seven Keys, é bem mais poético e menos pretensioso? –, criam uma identificação imediata com os ouvintes mais sensíveis ao dialogar naturalmente com as melodias marcantes e cantáveis, marca registrada do quinteto.

Initiation é a breve introdução – quantas bandas de Metal Melódico começaram seus discos com introduções instrumentais? – que prepara o ouvinte para a sucessão de clássicos. A up-tempo I’m Alive abre o petardo com seu refrão deveras simples e contagiante e com os agradáveis solos melódicos, deixando claro que os alemães beberam bastante em fontes maidenianas, principalmente no que se refere à presença constante das twin guitars e dos vocais altos e cristalinos.

Segue-se A Little Time, a primeira contribuição de Kiske para a banda e a única nesse disco. Música bem direta, sem grandes variações e que tem na melodia vocal o seu diferencial criativo. Particularmente, prefiro a versão dessa canção no Live In The Uk (outro CD obrigatório), muito mais pesada e encorpada em termos guitarrísticos e sem os hiatos instrumentais da versão original.

Com Twilight of the Gods, começam a aparecer os ótimos riffs. Além deles, um dos grandes méritos dessa faixa é a soberba performance do tenor Michal Kiske, dono de um alcance altamente invejável e de uma tremenda facilidade em atingir notas altíssimas sem soar repetitivo, como acontece com muitos vocalistas (o James Labrie do Dream Theater em Images and Words, por exemplo) que acham que cantar em agudos o tempo inteiro é sinônimo de virtuosismo. Outro ponto bastante positivo dessa canção é a fantástica melodia vocal do bridge, que, além de ser bem melhor do que o cadenciado refrão, é a principal responsável pela excelência da música.

Como quase todo bom álbum de melódico que se preze, o primeiro Keeper também tem a sua belíssima balada. É A Tale That Wasn’t Right, cuja letra um tanto quanto depressiva e melancólica destoa do restante do álbum. Destaque mais uma vez para Kiske, que, como qualquer vocalista de alto nível, não apenas canta, mas também interpreta, conferindo maior densidade e dramaticidade à faixa. Sem pieguice, claro.

A seguir vem o melhor riff com o espetacular hit Future world, canção que deve obrigatoriamente constar em qualquer lista respeitável de melhores músicas de metal de todos os tempos. Sua letra, que flerta com a utopia socialista e, mais precisamente, com a obra-prima A Utopia de Thomas Morus, projeta um mundo futurístico em que o amor, a fraternidade e a solidariedade são os sustentáculos da sociedade. Em termos musicais, o destaque é, de novo, Kiske. Ouça e você perceberá que qualquer elogio é não só insuficiente, mas também incapaz de descrever o brilhantismo da sua performance.

Na épica e apoteótica Halloween, que dura mais de treze minutos, fica explícito o perfeito entrosamento entre os guitarristas Michael Weikath e Kai Hansen. Solos inspirados, duetos embasbacantes, arranjos de uma criatividade ímpar e variações climáticas impensáveis. Halloween tem tudo isso e mais um pouco. Tem o falecido Ingo Schwichtenberg em uma verdadeira aula de como aplicar a técnica e o virtuosismo em favor da música e não como trampolim para exibicionismos individuais. Ele, que sempre criou linhas de bateria pulsantes e ousadas, deveria servir de exemplo a tantos outros bateristas de metal melódico que têm contribuído enormemente para a banalização do bumbo duplo e do próprio estilo, cada vez mais preso a clichês e a fórmulas saturadas. Outro que se distancia (ou se distanciava) da geração de músicos robotizados do melódico é o baixista Markus Grosskopf. Não contente em ser apenas um coadjuvante, ele concebe linhas de baixo assaz inovadoras e forma, junto com o baterista supracitado, uma cozinha indefectível. Como é prazeroso escutar uma música que, mesmo sendo tão longa para os padrões radiofônicos, não soa burocrática em momento algum.

Com a primeira parte dos Keepers, o Helloween começou a moldar um estilo que, posteriormente, viria a perder a sua áurea e a sua essência não só por conta da incorporação da mecanização e da rabugice impostas pelas demandas mercadológicas – vide o The Dark Ride (2000), do próprio Helloween – , mas também em função das inúmeras cópias e imitações que surgiram com o passar dos anos. Se você quiser ouvir e apreciar um Heavy Metal Melódico autêntico, genuíno e sincero, é altamente recomendável começar pelas duas primeiras partes dos Keepers. Inevitavelmente, tudo que veio depois, em termos de Metal Melódico, foi incomensuravelmente influenciado por estas duas obras-primas.

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Curiosidades


Michael Kiske foi escolhido para ser o vocalista da banda depois de interpretar a música Queen Of The Reich, do Queensrÿche.

O primeiro Keeper vendeu cerca de 500.000 cópias até hoje.

Quase todas as canções do Keeper 1 são creditadas a Kai Hansen. O outro principal compositor da banda, o guitarrista Michael Weikath, estava com problemas psicológicos na época e não gravou sequer as bases – todas a cargo de Hansen –, participando apenas dos solos.

Keeper of the Seven Keys 1 tem duas versões. A mais simples e mais antiga tem um encarte pobre e conta com faixa Judas, originalmente gravada em Walls Of Jericho, mesmo que não haja nenhuma menção à existência dessa música no encarte. A outra versão é mais completa, batizada de Expanded Edition. Esta, além de possuir um encarte mais recheado com várias fotos da época e capas de singles, tem quatro faixas adicionais, entre elas as regravações com a voz de Kiske de Starlight e Victim Of Fate, ambas do álbum de estréia.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Cobertura do Show - André Matos

Review originalmente publicado em www.bahiarock.com.br

André Matos dispensa apresentações. Uma das maiores vozes do metal nacional e internacional, ele, agora em carreira solo, continua mostrando toda a versatilidade e a ousadia que o consagraram. Suas passagens pelo Viper, pelo Shaman e, principalmente, pelo Angra, elevaram o heavy metal nacional a novos patamares ao fundir o estilo com a música clássica e com ritmos regionais brasileiros. Foi esse artista multifacetado, inquieto e inovador que os headbangers soterapolitanos tiveram a oportunidade de conferir no domingo, dia 27 de Abril, na Concha Acústica.

O show, que estava marcado para começar às 17h, atrasou, e a primeira banda de abertura, a baiana Nomin, só entrou em cena por volta das 18h. O grupo, que faz um som mais calcado no hard rock com claras influências de Bon Jovi e Whitesnake, conquistou a platéia com um repertório empolgante que, entre outras canções, incluiu a bela balada Deep Inside My Heart do EP Secret Dreams e ótimos e eficientes covers da clássica Burn do Deep Purple, da dançante Jump do Van Halen e do hit Living on a prayer de Bon Jovi. Tecnicamente, a banda é bastante coesa, com claro destaque para os solos e bases precisos do guitarrista Hugo. Já o vocalista Lucas pecou por uma performance um tanto quanto exagerada e repleta de agudos desnecessários – cantar bem não é sinônimo de soltar agudos estridentes a cada segundo –, o que, no entanto, não chegou a comprometer a atuação do quinteto.

A outra banda baiana encarregada de abrir o evento, a novata Face on Fact, noves fora buracos e erros gritantes em alguns covers clássicos, fez uma apresentação correta, mas que demorou mais que o necessário, deixando a audiência, principalmente aqueles que desde o início da tarde já se aglomeravam em frente aos portões da Concha, bastante impaciente. O grupo toca um Thrash Metal genérico, com uma grande quantidade de solos e riffs saturados e previsíveis. Desta forma, o ponto alto da perfomance, como não poderia deixar de ser, foram os covers de Peace Sells do Megadeth, Creeping Death do Metallica, Sole Survivor do Helloween e Caught Somewhere in time do Iron Maiden. Esses dois últimos covers, em particular, foram executados com um peso além do recomendável para músicas cujas principais características são as melodias marcantes e cantáveis. Individualmente, quem se destacou positivamente foi o vocalista, que cantou os covers e as composições próprias da banda – Kill By the Butcher, Abduction e Black and White - com muita segurança, originalidade e competência.

Quando os ponteiros já se aproximavam das sete e meia da noite, eis que, enfim, o carro-chefe da noite entra em cena para delírio do ansioso e sedento público. André Matos (vocal e piano), Hugo Mariutti (guitarra), André Hernandes (guitarra), Eloy Casagrande (bateria), Luis Mariutti (baixo) e Fábio Ribeiro (teclado) já sobem ao palco com o jogo ganho, tamanha é a qualidade das músicas que seriam executadas em uma noite que se mostrou inesquecível.De cara, ouve-se a faixa introdutória de Time To Be Free, a bela Menuett – uma valsa de Strauss –, escolha perfeita para aumentar ainda mais a expectativa e a ansiedade da platéia que, a esta altura, já estava em estado contemplativo, absolutamente hipnotizada. Em seguida, vem a apoteótica e pujante Letting Go, o mais novo hino do metal melódico nacional. Arrisco a dizer que, em função da recepção calorosa dos fãs e das evidentes semelhanças com a fase Angels Cry do Angra, essa música se tornará presença obrigatória em todos os shows que André Matos fizer daqui para frente. Distant Thunder, música do primeiro álbum do Shaman, o ótimo Ritual, foi a próxima a ser executada e cantada em uníssono, aumentando ainda mais o êxtase dos presentes e deixando claro que, caso continuasse, o Shaman ainda poderia dar bons frutos ao heavy metal nacional.

Ao fim da terceira canção, André cumprimenta a platéia e diz que a presença dos headbangers ali seria uma prova de que, ao contrário do que é alardeado pela mídia, também há espaço para o rock e o metal em terras baianas. Contudo, depois que se soube que apenas cerca de 1200 pessoas compareceram ao show – um público vergonhoso se considerarmos o cacife da atração – ficou claramente demonstrado que o cenário metálico em Salvador ainda se encontra em fase de gestação.

Depois desse breve ínterim, em que André também teceu comentários a respeito de um vindouro DVD que conterá imagens da apresentação em Salvador, os fãs foram agraciados com a agressiva e pesada Rio, outra boa música de Time to Be Free. Here I Am, uma das melhores composições do Shaman, veio a seguir e teve seu contagiante refrão cantado a plenos pulmões. Mais uma breve pausa. Agora, André pede desculpas pelo atraso aos que estiveram presente na desorganizada e mal planejada sessão de autógrafos do dia anterior na Saraiva do Shopping Salvador. Mea culpa à parte, o show prossegue com a clássica e comovente Living for the Night, uma das canções de maior sucesso do Viper e cujo início foi cantado apenas pelo público, deixando André Matos um tanto quanto surpreso e emocionado. Em seguida, é a vez do primeiro solo da noite. André Hernandes, que se mostrou bastante simpático durante toda a apresentação, sempre agradecendo o público, fez um solo bastante técnico e curto, sem soar cansativo em nenhum momento, o que, no entanto, não muda a minha visão de que solos são quase sempre desnecessários e servem, antes de tudo, para massagear o ego dos músicos.A banda retorna ao palco para executar Crazy Me?, música do Virgo, projeto de André e Sascha Paeth, um dos produtores de Time to Be Free. Essa música teve uma recepção bastante fria por parte da platéia, que demonstrou não conhecê-la. Mas, inteligentemente, o grupo retoma o domínio sobre o público com a mais do que clássica Nothing To Say, música de abertura do Holy Land, álbum que o próprio André Matos considera como o melhor do Angra. Em sequência, a banda esfria os presentes com duas baladas: Fairy Tale – o maior sucesso comercial do Shaman – e a comovente Lisbon, cujo refrão foi cantado por toda Concha Acústica. Mais uma breve pausa e é hora do segundo solo da noite, agora do jovem baterista Eloy Casagrande. Ele, que com apenas 17 anos fez um show indefectível, apresentou um solo pouco inovador, bem parecido com aquele executado por Aquiles Priester no disco Live in São Paulo, do Angra. Falta de criatividade à parte, o garoto tocou seu instrumento com uma fúria e um punch bem destacáveis.

Depois de uma pequena pausa, o sexteto retorna tocando Wings of Reality, faixa que abre o disco Fireworks do Angra. Mais uma vez, a resposta do pequeno público foi mais do que satisfatória. How Long (Unleashed Away), música que só se salva pelo empolgante refrão, foi prejudicada pelas constantes falhas no microfone de André, cuja voz desapareceu por vários momentos. Para loucura dos fãs, sai dos altos falantes a orquestração de Unfinished Allegro, anunciando a obrigatória Carry On, que, desde o início, já era pedida pelos mais pentelhos e apressados. Nem é preciso dizer que essa foi a música que causou maior empolgação no público.

Para finalizar, Endeavour, a música que fecha Time to be Free, é tocada. Como todos já estavam cansados e como essa canção foi uma péssima escolha para terminar a apresentação, não houve tanta comoção.

Emocionante, sim, foi o que veio depois: todos os integrantes saíram aos poucos até ficar apenas André Matos no teclado. Bela sacada para concluir o show de um dos maiores vocalistas que o mundo já ouviu. Como diria o velho e sábio ditado popular: Quem sabe faz ao vivo. E Andre executou fielmente aquilo que gravou em estúdio. Sua voz estava lá como sempre intocável e inabalável.

De uma qualidade desconcertante.

domingo, 18 de maio de 2008

Blaze Bayley : o homem que nunca morrerá


Blaze Bayley, o contestado ex-vocalista do Wolfsbane e do Iron Maiden, banda com a qual gravou os álbuns The X Factor (1995) e Virtual XI (1998), anunciou recentemente o lançamento do quarto disco de inéditas da sua bem-sucedida carreira solo. The Man Who Would Not Die, que tem lançamento previsto para sete de Julho, é mais uma tentativa de se desvincular da sua malfadada passagem - não por sua culpa, diga-se de passagem - pela Donzela de Ferro e de se firmar como bom vocalista e compositor que é. Da crítica, ele já recebeu amplos elogios por álbuns como Silicon Messiah (2000) e Tenth Dimension (2002). Agora, falta o público headbanger reconhecer, em peso, Blaze como um dos principais expoentes do metal tradicional inglês na atualidade.

As músicas de The Man Who Would Not Die são as seguintes:

01. The Man Who Would Not Die (ouça-a aqui)
02. Blackmailer
03. Smile Back At Death
04. While You Were Gone
05. Samurai
06. A Crack In The System
07. Robot
08. At The End Of The Day
09. Waiting For My Life To Begin
10. Voices From The Past
11. The Truth Is One
12. Serpent Hearted Men

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Além do novo disco, Blaze confirmou também uma longa turnê pelo Brasil no segundo semestre para divulgar The Man Who Would Not Die e o DVD Live In Poland.

As doze datas seguem abaixo:


Data: 14/08 (quinta-feira) - Belo Horizonte/MG
Local: Ainda não definido.

Data: 15/08 (sexta-feira) - Palmas/TO
Local: Tendencies Music Bar

Data: 16/08 (sábado) - Belém/PA
Local: Metrópole City Hall

Data: 17/08 (domingo) - Manaus/AM
Local: Ainda não definido.

Data: 21/08 (quinta-feira) - Campinas/SP
Local: Hammer Rock Bar

Data: 22/08 (sexta-feira) - Curitiba/PR
Local: Curitiba Master Hall

Data: 23/08 (sábado) - Pomerode/SC
Local: Clube Pomerode

Data: 24/08 (domingo) - Londrina/PR
Local: Joy Club

Data: 28/08 (quinta-feira) - Recife/PE
Local: Ainda não definido.

Data: 29/08 (sexta-feira) - Fortaleza/CE
Local: Ainda não definido.

Data: 30/08 (sábado) - São Paulo/SP
Local: Manifesto Rock Bar

Data: 31/08 (domingo) - Rio de Janeiro/RJ
Local: Ainda não definido.




quinta-feira, 15 de maio de 2008

Entrevista - André Matos


Introdução por Guilherme Vasconcelos
Entrevista por Guilherme Vasconcelos e Giácomo Degani


Consagrado como uma das maiores vozes do metal nacional e internacional, André Matos, 36, dispensa grandes apresentações. Responsável por trazer influências clássicas e de ritmos regionais brasileiros ao Heavy Metal nacional, ele elevou o estilo a novos patamares desde a gravação do seu primeiro álbum com o VIPER em 1987, quando tinha apenas 15 anos. Desde então, teve passagens bastante destacadas pelo ANGRA - banda em que obteve maior sucesso - e pelo SHAMAN. Agora em carreira solo, André Matos está em turnê para divulgar Time To Be Free, o seu mais novo álbum. Aproveitando a presença do músico em Salvador, o Universo Heavy Metal e o Nascedouro Musical foram até o Shopping Salvador, no dia 26 de Abril, para fazer esta curta - foi o que deu para perguntar em 7 minutos -, mas valiosa entrevista.


UHM E NM: Como e qual foi o seu primeiro contato com a música e, mais especificamente, com o Heavy Metal?

Matos: Com a música foi quando eu comecei a estudar música ainda criança. Eu tinha dez anos. Comecei a estudar piano e gostei. Segui estudando e não demorou muito tempo para eu ter contato com o rock não. Com onze, doze anos, eu já comprei o meu primeiro disco de rock, que foi o Fair Warning do VAN HALEN, e já quis montar a primeira banda. Com treze, eu já fiz o primeiro show com o VIPER.

UHM E NM: Já era uma turnê realmente? Ou um show isolado?

Matos: Não. Naquela época era muito difícil uma banda de moleque fazer um show, então a gente conseguiu assim numa sorte, numa data, em um festival que tava tendo. E a partir daí começou... E foi um começo muito legal. Era muito cedo para todos nós. Eu tinha treze e os outros catorze ou quinze. Na verdade, era quase uma brincadeira. Em vez de montarmos um time de futebol, montamos uma banda.

UHM E NM: E houve algum tipo de resistência por parte da sua família quando você decidiu seguir a carreira artística?

Matos: Não, não. Pelo contrário, a minha família sempre me apoiou bastante, incentivaram. Sempre quando eu ia fazer show eles estavam presentes, assistindo. Disso eu não posso reclamar. O apoio de minha família sempre foi total.

UHM E NM: Quais são suas principais influências musicais e em quais vocalistas você mais se inspirou?

Matos: Bem... Música Clássica que é minha formação. Eu sou formado em Música Clássica [N.T.: Ele é Bacharel em Regência Orquestral e em Composição Musical, além de possuir habilitação em Canto Lírico e em Piano Erudito]. Mas, fora isso, eu gosto muito de bandas como QUEEN, por exemplo. Para falar de bandas mais pesadas, talvez, a gente pode começar a mencionar o DEEP PURPLE, pode mencionar o IRON MAIDEN, o JUDAS PRIEST. Houve vocalistas que desde cedo influenciaram bastante na minha formação. Eu citaria o Rob Halford (JUDAS PRIEST), Freddie Mercury (QUEEN), Bruce Dickinson (IRON MAIDEN), Ian Gillan (DEEP PURPLE), o Dio (BLACK SABBATH, RAINBOW), o Ozzy, o Geoff Tate (QUEENSRYCHE), o Eric Adams do MANOWAR que eu gosto muito...

UHM E NM: Qual a sua opinião sobre o público Headbanger? Você acha que ele é ainda muito conservador? Por exemplo, o “Holy Land” [N.T.: Álbum do ANGRA de 1996 do qual André Matos participou] sofreu muita resistência por conta de fusões com ritmos regionais brasileiros.

Matos: Isso está mudando. Na época do Holy Land, que já tem mais de dez anos, a gente enfrentou uma grande resistência por tentar fazer uma coisa diferente. Curiosamente, hoje, o Holy Land é considerado por muitos, inclusive por mim, o melhor CD do ANGRA. Então eu acho que...

Entrevista é interrompida por uma garotinha de aparentemente três ou quatro anos que veio pedir autógrafo para o vocalista.

(Risos nossos e do vocalista)


Matos: Então eu acho que isso que também fez o SEPULTURA com o Roots [N.T.: Álbum lançado em 1996 e que também foi um tanto quanto incompreendido em razão da fusão do Heavy Metal com ritmos tribais, utilizando instrumentos como berimbau e tambores] provocou um choque na época, mas foi mudando um pouco a cabeça do pessoal. Hoje, eles são mais abertos. Convenhamos, até em função da internet e da globalização existe acesso a um número infinitamente maior de informações. Isso foi abrindo a cabeça das pessoas. Hoje, eles são, vamos dizer assim, menos pragmáticos em relação a isso. Mas, naturalmente, você tem que respeitar os limites do estilo. Não dá também para fazer qualquer coisa. É uma liberdade dentro daquilo que eu me propus até hoje.

UHM E NM: E a Internet? Como você vê essa nova ferramenta?

Matos: A Internet é, realmente, a mídia do futuro, do presente já e do futuro. É uma mídia muito atraente. Eu acho que pode ser um bom meio de divulgação. Na verdade, ela tem seu lado bom e seu lado ruim. O lado bom é que ela fornece uma boa divulgação a custo baixo, e o lado ruim é que ela incentiva a não-venda de CDs e a pirataria e essa coisa toda. Hoje em dia, a gente está vendo quais são as conseqüências disso, vendo que não é só uma brincadeira. Mas, no geral, acredito que haja muito mais aspectos bons do que ruins, pois é graças à Internet que se tem uma democratização muito maior na música, principalmente no que se refere a bandas iniciantes.

UHM E NM: Você ainda compra CD?

Matos: Eu não baixo nenhuma música. Eu não tenho nenhum programa de baixar música. Eu sou um cara mais tradicionalista nesse sentido. Eu nasci em uma geração que ainda tinha esse costume. Mas com as gerações mais novas eu já não sei como vai ser.

UHM E NM: Você, em recente entrevista ao site Metal Clube, disse que o VIPER prosperou em uma época em que nada era fácil no Brasil. E hoje, é mais fácil para uma banda de metal se inserir na indústria musical e obter reconhecimento?

Matos: De fato, não dá para comparar com a época do VIPER [N.T: Início dos anos 90]. Era muito difícil e muito raro, principalmente, em termos de Brasil. Mas já nas épocas do SHAMAN e do ANGRA houve uma melhora no mercado para este tipo de música. Eu acho que isso é uma coisa que sempre tem altos e baixos. O importante é a gente saber que o nosso estilo tem um público underground, um público fiel e é o que sempre sustenta as bandas. Eu não digo financeiramente, mas, sim, em termos de suporte e apoio. É isso que a gente tem, sempre, que prestar atenção e respeitar muito, independente do mercado estar mais aquecido ou menos aquecido para esse tipo de música.

Nova interrupção. Agora, a assessora de imprensa diz que só poderemos fazer mais uma pergunta por conta de compromissos do cantor. Nossa insistência em fazer mais duas ou três perguntas não surge efeito. A assessora se mostra irredutível.

UHM E NM: Para terminar. Quais novas bandas de metal você tem ouvido e quais delas você destacaria?

Matos: Olha, as bandas que eu gosto de Heavy Metal não são tão novas assim. Eu ouço muita coisa velha, discos antigos. Eu acho que tem certas coisas que são imbatíveis e atemporais. Das coisas mais recentes que apareceram, eu acho que os mais originais, que talvez nem sejam tão recentes, mas que fazem música mais atual, mais original é o RAMMSTEIN e o PARADISE LOST. Nada a ver com o que eu faço, mas eu tenho muito respeito por essas duas bandas.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Judas Priest - Painkiller



Sem dúvida, um dos cinco melhores CDs da década de 90.

Uma década dominada pela artificialidade musical, pelo caráter mercadológico e descartável da música mainstream e pela fácil manipulação exercida pelo "MTV way of life" sobre uma geração de jovens rebeldes sem causa. Com todos esses fatores e com a febre Grunge sendo capitaneada mais por mídia e gravadoras do que pela qualidade das bandas de Seattle - com exceção do Alice in Chains, a melhor e mais injustiçada banda daquele movimento -, formava-se então um cenário propício para o esquecimento do Heavy Metal, uma vertente do Rock ‘n’ Roll que, historicamente, foi marginalizada pela grande mídia e, conseqüentemente, pelo grande público. Mas, eis que contra toda essa desfavorável atmosfera, o Judas Priest, a banda que melhor encarna o espírito Metal (seja na indumentária, seja na música) e que na década de 80 passou por momentos de apatia com um ridículo flerte com o comercialismo barato para conquistar o mercado estadunidense, lança um álbum antológico e demonstra aos headbangers que estes ainda teriam inúmeros torcicolos.

O clássico álbum atende pelo nome de Painkiller, um guerreiro fictício criado pela imaginária mente de Rob Halford (provavelmene viciado em analgésicos), cujo objetivo principal é desembarcar na Terra para salvar a humanidade de suas mazelas através do Heavy Metal. É nesse campo, ou seja, no campo lírico, que reside o único ponto fraco do álbum, já que predomina a abordagem de temas supérfluos. A música, como qualquer outro tipo de arte, deve ser analisada sob dois aspectos. O primeiro diz respeito ao conteúdo da arte, àquilo que ela procura transmitir, sua ideologia. O segundo ponto é tratar a arte como sendo uma pura e simples diversão, um meio de relaxamento e de evasão de idéias sem qualquer importância apenas para se desligar do atribulado cotidiano. Ao considerar tais aspectos, esse álbum e toda a discografia do Judas deixa muito a desejar no primeiro quesito, já que retrata majoritariamente assuntos irrelevantes. Por outro lado, é um prato cheio para aqueles que encaram a arte como diversão ou ainda para aqueles que a consideram uma mescla de senso crítico com frivolidades, como é o caso desse que vos fala.

Antes de partir diretamente para a análise musical do CD, há de se ressaltar a belíssima arte gráfica criada por Mark Wilkinson, que explicita basicamente o conceito que gira em torno do guerreiro Painkiller. Logo ao apertar o play do aparelho de som, o ouvinte rapidamente se surpreende com a rapidez, com o peso e com a maestria da bateria de Scott Travis, que introduz a clássica faixa-título, sem dúvida alguma a melhor música de Heavy Metal dos anos 90.

Há também os vocais ensandecidos e de extremo alcance de Rob Halford, as furiosas e melódicas guitarras, com pesados riffs e com solos milimetricamente calculados, o que é uma constante no álbum e o que denuncia o virtuosismo de uma das mais entrosadas duplas de guitarristas do Metal: Glen Tipton e K.K. Downing. O tímido e correto baixo de Ian Hill também sobressai em uma produção extremamente limpa (como é de praxe nos grandes clássicos do estilo) comandada por Chris Tsangarides. Outras músicas que se destacam são: Hell Patrol (que mistura o peso da bateria com uma cativante melodia vocal), Leather Rebel e Metal Meltdown (com todas as características já mencionadas) e a dramática Touch of Evil, que conta com uma performance soberba de Rob Halford, deixando claro o porquê da Rainha do Metal ser um dos vocalistas mais respeitados da história do rock.

Por fim, faz-se necessário lembrar que foi na turnê do Painkiller que os pioneiros do Heavy Metal moderno visitaram o Brasil no segundo Rock In Rio. Foi nesse álbum também que o Judas reuniu sua formação mais talentosa e foi com ele ainda que a banda voltou a ser respeitada como um dos principais grupos do estilo, evidenciando que não é difícil fazer esse tipo de música. Basta apenas que se tenha um vocalista com uma voz potente e um ar de teatralidade, uma dupla de bons guitarristas, um competente e pesado baixista e um criativo baterista. Acha complicado? Ouça Painkiller e comprove como os Deuses do Metal fazem tudo isso fácil, fácil.


Nota: 10

domingo, 11 de maio de 2008

Megadeth confirma shows no Brasil


O site oficial do Megadeth confirmou, há poucos dias, as datas das apresentações que a banda fará no Brasil como parte da Gigantour 2008, que divulga o mais novo disco da banda, o polêmico United Abominations. O grupo volta ao Brasil depois de três anos.

Seguem as datas abaixo.

03/06 - Goiania, Brazil - Jao-Av. Quitandinha
05/06 - Curitiba, Brazil - Helooch
06/06 - Sao Paulo, Brazil - Credicard Hall
07/06 - Rio de Janeiro, Brazil - Citibank Hall
08/06 - Belo Horizonte, Brazil - Chevrolet Hall
15/06 - Manaus, Brazil - Arena Amadeu Teixeira

OBS: Os ingressos para o show de Curitiba já estão à venda. Para mais informações, ligar para (41) 3013-3374.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Nevermore - O nascimento, as características, a obra-prima e algumas curiosidades.



O som de algumas bandas exige um certo recolhimento, uma certa fisiologia e uma certa discoteca. Isto é, não é possível escutá-las distraidamente, em qualquer posição, sem um rico repertório musical e encará-las somente como mais uma simples diversão. Exigem, sobretudo, dedicação exclusiva e um comprometimento prévio do ouvinte, sob a pena de não se compreender completamente a proposta musical exposta e de se fazer interpretações erradas e incompletas porque precipitadas.

O Nevermore é uma dessas bandas e já dava pistas, desde seu início, que moldaria sua música para atingir uma sonoridade mais complexa e sofisticada. Quando a gravadora do Sanctuary, no final dos anos oitenta, começou a pressionar a banda para que ela mudasse seu direcionamento musical, abandonando o Heavy Metal e abraçando o Grunge (estilo que, na época, era o queridinho da mídia), o vocalista Warrel Dane e o baixista Jim Shepperd decidiram abandonar o grupo. Nesse instante, já era possível prever que onde quer que esses dois colocassem suas idéias, nasceria uma grande banda. Assim, após o recrutamento do baterista Van Williams e do guitarrista Jeff Loomis, nasceu o Nevermore.


O som dessa banda de Seattle é um Thrash Metal intrincado que passeia por andamentos acelerados e lentos, com influências de Black Sabbath e com pitadas de progressividade. Além disso, seus álbuns sempre apresentam uma atmosfera sombria, melancólica, sorumbática e tétrica. As letras, outro trunfo do grupo, freqüentemente versam a respeito do lado negro e macabro da personalidade humana. Desvios de caráter, ganância, egoísmo, angústias existenciais, desejos mórbidos, insanidade, religião, política e mídia são alguns dos principais temas abordados com um quê sociológico pelo crítico e reflexivo letrista Warrel Dane, que é formado em Teologia e em Sociologia.

Essa intelectualidade acadêmica, contudo, não traz apenas benefícios. Apesar de contribuir decisivamente para a composição de letras inteligentes e diferenciadas, ela, em alguns momentos, chega a imobilizar Dane. Explico: na ânsia de conceber canções herméticas por excelência e de demonstrar todo o seu potencial intelectual, o vocalista, às vezes, escorrega e cria letras prolixas e hiperbólicas que, quer queira quer não, alongam em demasia determinadas composições. Isso, felizmente, é uma exceção. Na maioria das vezes, essa particularidade só enriquece a música do Nevermore.

É o que acontece em Dreaming Neon Black, álbum em análise. Nele, todas as características positivas supracitadas dão as caras. Esse disco, lançado em 99 e tido até hoje como uma das obras-primas do grupo ao lado de Dead Heart In a Dead World de 2000, é conceitual e conta a história da gradual decadência de um homem rumo à loucura depois de ter perdido a sua namorada para uma seita religiosa que pregava o uso de drogas pesadas. Curiosamente, essa história é baseada em um episódio verídico e o homem e a mulher nele envolvidos foram Warrel Dane e sua ex-namorada, que, depois do envolvimento com a tal seita, nunca mais foi vista.



A bela capa do álbum, inspirada nos pesadelos do vocalista em que sua ex-namorada o chamava enquanto se afogava, e a arte gráfica do encarte já deixam bem claro o que ouvinte encontrará ao apertar play: um clima asfixiante e angustiante em razão da grande quantidade de músicas soturnas que compõem Dreaming Neon Black. Tais canções – como, por exemplo, a faixa-título, The Death of Passion, The Lotus Eaters, All Play Dead, No More Will, Cenotaph e Forever, balada depressiva de beleza ímpar – se caracterizam, basicamente, pelas vocalizações ecoantes, pela sobreposição de vozes que exploram toda a extensão vocal de Dane e pelos andamentos arrastados e melancólicos.

Há, entretanto, outras canções que não seguem completamente esse modelo de formatação musical. Beyond Within, Deconstruction e Poison Godmachine, que têm, respectivamente, o refrão mais poderoso, a melhor a mais pessimista letra e o melhor riff de guitarra, notabilizam-se também pelos instrumentais meticulosamente trabalhados que destacam não só a força e a solidez das bases construídas por Jim Sheppard e Van Williams, mas também o peso e a distorção das guitarras de Jeff Loomis e Tim Calvert.

Individualmente, o principal destaque é Warrel Dane, o coração e o cérebro da banda. Além de ter escrito todas as letras de Dreaming Neon Black e de ter idealizado o seu conceito, ele não se limita a cantar com uma técnica e sensibilidade impecáveis, mas também interpreta e transmite um feeling fora do comum, passando ao ouvinte toda a angústia e sofrimento do eu-lírico a partir das variações que impõe à sua voz.

Dreaming Neon Black é, sobretudo, um CD bastante coeso e harmônico, isto é, suas faixas se complementam. Não há, aqui, uma composição sequer descartável, rasa, superficial, direta e deslocada. Há, sim, música complexas que pedem uma disposição à contemplação. Aliás, essa é, na verdade, uma condição básica para se ouvir qualquer álbum do quinteto estadunidense, e não apenas o Dreaming Neon Black.

Para os que buscam prazer instantâneo, recomenda-se distância. Para os que estão dispostos a mergulhar no mundo do Nevermore e a explorar essa recompensadora jornada musical, Warrel Dane dá as boas-vindas: "welcome to the fall".

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CURIOSIDADES


Desde o lançamento do seu primeiro full length em 95 pela Century Media, uma das maiores gravadoras de rock pesado do mundo, o grupo obteve reconhecimento do público e recebeu críticas positivas da mídia especializada. Entretanto, esse relativo sucesso não foi suficiente para garantir a independência financeira dos músicos, que só recentemente, depois de 13 anos de carreira, passaram a viver exclusivamente da música.

Antes, precisavam de um ganha-pão para se sustentar. O vocalista e líder Warrel Dane e o baixista Jim Sheppard atuavam como chefes de cozinha. O guitarrista Jeff Loomis trabalhava no mesmo restaurante que os dois companheiros e também acabou aprendendo a cozinhar. O baterista Van Williams, por sua vez, era designer gráfico da multinacional japonesa Nintendo em Seattle.

Em entrevista ao portal Terra, Dane declarou: "Finalmente estou podendo viver da minha música, que é o que eu sempre quis. Passei dez anos me dividindo em dois empregos para chegar até aqui. Muitos param antes disso. Diria que uns 95% desistem depois de tanto tempo tentando. Mas eu amo tocar e foi essa dificuldade que me estimulou". Bem humorado, o vocalista finaliza: "Cozinhar é muito bom. Vou lhe dar uma dica: se você fizer um jantar para uma mulher, com certeza ela irá para a cama com você. Comigo sempre deu certo".

terça-feira, 6 de maio de 2008

O Heavy Metal em frases

Korn é apenas moda. Ouça o primeiro álbum do Black Sabbath. Este nunca estará ultrapassado. Agora ouça um álbum do Korn. Eu me pergunto o que as pessoas vão pensar dos trabalhos deles daqui a 20 anos. Serão eles, realmente, o futuro do rock n roll ou eles são a cinderela do ano 2000? - Bruce Dickinson, IRON MAIDEN


A frase "Tattoed Millionaire" é uma referência aos caras que enchem o rabo de grana, se entopem de drogas e se esquecem da música. Pessoalmente não tenho nada contra milionários nem contra tatuados, pois trabalho com três caras que são tatuados até o pescoço (Steve Harris, Nicko MacBrain e Dave Murray), mas eu jamais faria uma, nem daquelas removíveis. - Bruce Dickinson, IRON MAIDEN

Sobre estar em uma banda com um poder persistente: “Somos muito diferentes e também existimos fora do que você poderia chamar de mainstream da musica pop. Existimos também fora do que você poderia chamar de mainstream do que é metal. IRON MAIDEN é uma banda criada das ruas, e as pessoas coçam a cabeça e não entendem porque pouquíssimas bandas são criadas nas ruas hoje em dia. A maioria das bandas são criadas pela "Industrial Light andMagic" [NT:empresa de efeitos especiais] em estúdios. Até mesmo os músicos, reconhecem que se quiserem viver nesses dias e nessa era, tem que moldar o que fazem, tem que ter um corte de cabelo certo, vestir as roupas certas, todas essas coisas. O MAIDEN é fantástico porque não damos a mínima pra isso.“BRUCE DICKINSON, IRON MAIDEN

Nós somos melhores que eles. Somos músicos superiores aos do Metallica. Dessa forma, eles podem TENTAR entrar no camarim depois de um show do Iron Maiden, se eles quiserem. - Bruce Dickinson

O Sabbath foi uma reação contra aquela merda toda de paz, amor e felicidade. Era só olhar em volta e ver que bosta de mundo a gente vivia. - Ozzy Osbourne, Black Sabbath, 1970

Não achava legal cantar sobre paz quando eu vivia numa bosta de cidade (Birmingham), poluída e violenta, onde todo mundo ganhava mal e passava as noites enchendo a cara. Nossa música refletia nossa raiva. Depois que misturamos temas de bruxaria e satanismo, o som da banda mudou para uma coisa totalmente nova, que foi chamada de Heavy Metal. - OZZY OSBOURNE

Eu frequentei um psiquiatra por algum tempo. Ele fazia jogos com minha mente. Ele perguntava coisas como você se masturba? E eu perguntava você respira? - Ozzy Osbourne, Black Sabbath, 1975

Enquanto houver garotos chateados o heavy metal continuará existindo. -OZZY OSBOURNE

Um monte de garotos não consegue se expressar por si mesmo, desta forma, mas lendo nossas letras eles pensam, porra, eu não sou o único esquisito por aí, outro cara pensa como eu, ou sei lá, e isso relaxa o botãozinho dentro do seu cérebro. Então você não fica tão nervoso. A vida não é tão ruim assim. Pelo menos na maior parte do tempo. - James Hetfield, METALLICA

Adoro música. Me sinto feliz ouvindo boas canções. Se estou na merda, ponho Tom Waits, BobMarley ou alguma coisa assim, e funciona como mágica. Nada se compara com o que você sente quando ouve música que te agrada. É um fenômeno único. - Jason Newsted, ex-baixista do METALLICA

Metal Edge: Quando você assumiu que era homossexual e nos anos depois disso, você ouviu de fãs de metal que eram capazes de se assumir também?

Halford: Sim, todo o tempo, e isso é algo que você não pensa a respeito, quando você tem esse tipo de feedback. Isso só deixa mais aparente que pessoas de todos os tipos de vida estão no metal, de todos os tipos de trabalho, diferentes religiões, diferente etnias, e diferentes orientações sexuais. Não foi uma grande surpresa para mim descobrir que há outros gaysheadbangers, isso é um fato. Eu recebi alguns dos emails mais legais, especialmente de headbangers mais jovens lutando com sua identidade sexual, dizendo "por causa do que você fez, eu pude contar aos meus amigos da escola, ou à minha família, e eles me aceitaram." E você não espera isso, então é uma coisa maravilhosa de se ver e ouvir. Porque eu vivi com esse problema por toda a minha vida, e não é mais um problema para mim. Mas há pessoas que estão passando por essa situação pela primeira vez, talvez alguns leitores da Metal Edge, que podem estar passando por essa dificuldade. O que eu sempre digo às pessoas é que você não está sozinho nessa situação, que há muitos de nós nisso, e a coisa mais libertadora que você pode fazer é se assumir e deixar todo mundo saber quem você é. Para mim essa é a definição de amor incondicional. Se as pessoas tem amor incondicional, elas podem se importar menos com esse lado de sua sexualidade. Eles vão te amar e te aceitar por quem você é. Se você entender que não está sozinho, que há pessoas para te ajudar, mesmo se você estiver passando por dificuldade de fazer tipo de exposição para você mesmo, há pessoas que você pode conversar, diferentes organizações e todo tipo de recursos. Porque é de cortar o coração quando você ouve sobre adolescentes que são explusos de casa, ou são forçados a sair de casa porque não conseguem encaram as condições - rejeição, ódio, e etc - e isso infelizmente é parte do mundo em que vivemos. Mas se você é capaz de fazer essa declaração, é como se libertar. Todo o medo e rejeição que você experimenta de todo tipo de lugar diferente desaparecem quando há a verdade. E a partir do momento que a verdade está aí, você não pode mais ser atacado, as coisas não podem mais ser direcionadas a você. Pessoas dizem coisas com ódio sobre mim às vezes em foruns, blogs, etc, mas isso não tem mais efeito em mim, porque não estou mais me escondendo e é ridículo dizer essas coisas. Não há absolutamente nenhum valor. Então, eu encorajo as pessoas, se puderem, a encarar esse momento e dizer: "Este sou eu, é pegar ou largar." ROB HALFORD, JUDAS PRIEST

Sobre seu amor pelo Rock e pelo Metal:

“É o que faz me sentir vivo. Realmente é isso. Metal é único apenas por causa da sua força, de seu volume. É uma agressão. É uma coisa espetacular para se ouvir, se ir ver ao vivo. Há uma coisa primordial sobre isso: Você observa o 'mosh' ele parece realmente violento mas não é. É apenas muito tribal”. ROB HALFORD, JUDAS PRIEST

“Se você não gosta de Metal, se você não o entende, você nunca entenderá. Você apenas não captará. É muito difícil converter alguém para o Metal se eles não entendem o que ele significa”.ROB HALFORD, JUDAS PRIEST

Sobre religião: "Eu não sou religioso. Sou ateu. Tudo bem as pessoas acreditarem em Deus, é a natureza da América, mas eles não estão felizes até que você se converta. Você concorda comigo ou não." Kerry King, Slayer

Eu já vi Deus quando tomei ácido e posso garantir: o cara é bem mais forte que eu. - Lemmy, Motörhead

O mundo das gravadoras é o mais podre que eu conheço. Um dia elas vão colidir e eu vou estar rindo. - Igor Cavalera, Sepultura

Nossos fãs gostam de nós porque não somos estrelas. Não somos pelo glamour como o Guns N Roses. Não agimos como deuses. Estamos nisso pela música, não por drogas, dinheiro ou mulheres. - Max Cavalera, Sepultura

Temos sido acusados de fazer o mesmo álbum uma dúzia de vezes. Mas isto é uma mentira suja.
A verdade é que fizemos o mesmo álbum 14 vezes. - Angus Young, AC/DC

Quando você toca um acorde, um monte de garotos no meio do público está tocando com você. - Angus Young, AC/DC

domingo, 4 de maio de 2008

Kiko Loureiro em Salvador


Conforme noticiado pelo site whiplash, o guitarrista do Angra, Kiko Loureiro, estará em Salvador amanhã (segunda-feira, 5 de Maio) para ministrar aula às 18h, na Loja 3º Ton, no bairro da Barra. Para participar, é necessário ir a uma das lojas credenciadas (Andarilho Urbano do Shopping Iguatemi e 3º Ton), pagar a taxa de inscrição no valor de R$ 50 e incluir o nome na lista de convidados. Cada participante receberá um KIT que inclui um CD a ser autografado na hora e uma paleta. O número de participantes é limitado em 40 vagas.


sábado, 3 de maio de 2008

Iron Maiden – Live After Death


É fato: não se faz mais show como antigamente. São poucas as bandas (o Dream Theater é uma delas) que ainda hoje conseguem inovar nas apresentações ao vivo. Antes, por conta do grande número de improvisações, cada show era uma nova experiência. Hoje, devido aos repetitivos setlists e à falta de experimentações, basta assistir a um show e você já terá visto toda a turnê. Para efeito de comparação, é só lembrar que os principais discos ao vivo foram gravados nas décadas de 70 e 80. Made in Japan do Deep Purple, Unleashed in the East do Judas Priest e Live and Dangerous do Thin Lizzy são algumas das pérolas dessa época.

O Iron Maiden, que hoje é mais exato do que um relógio britânico, um dia fez parte do seleto grupo supracitado com este Live After Death, considerado um clássico absoluto e tido por unanimidade como o melhor disco ao vivo da Donzela. Sua grande qualidade é ter captado o maior expoente da New Wave of British Heavy Metal em seu ápice técnico e criativo, isto é, desde o álbum Iron Maiden de 1980 até o Powerslave de 1985. Além disso, a produção do mestre Martin Birch (apelidado de Live Animal no encarte) é não menos que espetacular, transportando o ouvinte de volta a 1985 ao Long Beach Arena em Los Angeles, onde o disco foi gravado em quatro apresentações.

Outro ponto a favor desse petardo é o setlist. Há quanto tempo, caro leitor, o Maiden não tocava a frenética Aces high, a punk Running Free ou a épica Rime of the Ancient Mariner? Com o leque de clássicos que a banda já possuía, não seria necessário fazer mais nada para conquistar a platéia do que o “simples” ato de tocar. Mas é impossível não se impressionar com a beleza e a magnitude do palco montado para a lendária World Slavery Tour que, inclusive, passou pelo Brasil no primeiro Rock in Rio. Todo esse cuidado com a estética tornava (repare como o verbo está no passado) a experiência de ver o Maiden ao vivo não apenas um espetáculo musical, mas também visual.

Live After Death começa com o inflamado apelo nacionalista do estadista e Primeiro-Ministro britânico na época da Segunda Guerra Mundial, Winston Churchill, conclamando os ingleses a resistir aos sistemáticos bombardeios alemães sobre Londres. É com esse discurso que se inicia a já mencionada Aces High. Escolha mais do que perfeita para abrir um show de forma incendiária, essa é, facilmente, uma das maiores obras-primas de toda a história do Heavy Metal. A sua cativante e belíssima melodia, que ficou mais veloz ao vivo, ainda impressiona, tamanho é o feeling emanado pelas sincrônicas e entrosadas guitarras de Adrian Smith e Dave Murray. Bruce Dickinson, talvez por não conseguir fazer ao vivo aquilo que gravou em estúdio, aposta, durante todo o show, em tons mais graves, deixando a sua voz mais agressiva e até um tanto rouca. E é justamente a performance do Air Raid Siren que é apontada por muitos como o único ponto fraco desse clássico. Admito que causa estranheza não ouvir um agudo sequer daquele que era mestre nesse quesito, mas sou daqueles que acha que as apresentações ao vivo não devem ser meras cópias daquilo que se fez em estúdio. Caso contrário, não faria sentido pagar ingressos caros para ouvir aquilo que você já tem em casa gravado e eternizado e faria menos sentido ainda pagar por um disco ao vivo que, no fundo, não tem nada de ao vivo.

Show, para este que vos escreve, é o momento de o músico extravasar, de deixar um pouco de lado o tecnicismo e apelar para a emoção e para as improvisações. É, enfim, o momento de surpreender a platéia. Por isso, mesmo que o Dickinson tenha usado o artifício mencionado para esconder uma possível fragilidade e não como uma experimentação, não acho que sua performance tenha sido comprometedora ou abaixo da média. As canções, cantadas de forma mais grave, ficaram com uma roupagem mais dramática e menos teatralizada. Assim sendo, prossigamos sem mais delongas.

2 Minutes to Midnight ficou bem mais energética e pesada em Live After Death. Destaque para o baixo gritante do mestre das cavalgadas Steve Harris, para a linha de bateria variada e criativa e para o riff singelo, dançante e extremamente eficiente. Costumo comparar o Maiden a um time de futebol bem estruturado, no qual os talentos individuais destacam-se naturalmente, sempre apoiados numa sólida base tática. É o que acontece em 2 Minutes to Midnight. O ponto forte é o conjunto solidificado que, por osmose, realça as qualidades de cada integrante.

The Trooper é outra música que também ficou mais encorpada e pesada do que sua versão original. Os duetos e os solos executados ao vivo ficaram ainda mais belos e emotivos do que em Piece of Mind. E essa é uma das características que tornaram Live After Death tão memorável: a banda conseguiu melhorar o que já era estupendo. Várias canções têm aqui suas versões definitivas. The Trooper é uma delas.

Revelations é, indubitavelmente, a música mais bonita e emocionante do Maiden. Transitando com singular polivalência entre o peso e a leveza e dona de uma melodia formidável, a banda desmoraliza o argumento dos preguiçosos de plantão que afirmam ser o Heavy Metal um estilo barulhento e nada mais. A interpretação e a carga emotiva conferidas por Bruce Dickinson também são dignas de nota.

Uma curiosidade: Foi durante Revelations no primeiro Rock In Rio que Bruce Dickinson, utilizando uma guitarra (não me pergunte o porquê), atingiu seu rosto com o instrumento e saiu do palco durante os solos. Quando voltou, o sangue escorria de um corte próximo ao olho. Foi aí que a mídia tupiniquim denunciou todo o seu despreparo para lidar com o assunto. O jornalista Celso Freitas, da Globo na época e hoje na Record, soltou a seguinte pérola: “Atenção! É agora que Bruce Dickinson sofre o acidente com a guitarra. Tire suas conclusões. Sangue ou apenas um truque para dar mais clima ao show?”. É, esse nunca deve ter visto um show da Donzela na vida. Até porque o Maiden não precisava dessas armações para convencer quem quer que fosse em 1985.

As novidades da versão ao vivo de Flight of Icarus são, além da maior dramaticidade por conta dos vocais mais graves, os backing vocals de Steve Harris e Adrian Smith que deixam o refrão ainda mais pujante e marcante. Sem contar os esplêndidos solos cheios de pegada e que, apesar de serem velozes, são repletos de feeling. Uma aula de como usar o virtuosismo em favor da canção e não como um mero massageador de egos.

A seguir vem a maior e mais épica canção da Donzela. Não obstante a enrolação lá pela metade da música, Rime of the Ancient Mariner é deveras embasbacante. O instrumental é tão técnico, coeso e sincopado que deixa qualquer terráqueo boquiaberto. Os duetos são de uma beleza ímpar e de um bom gosto de fazer inveja. Há ainda a poética letra muitíssimo bem escrita por Steve Harris, contando em pouco mais de 13 minutos uma história com início, meio e fim baseada em um poema de Samuel Taylor Coleridge e inclusive com trechos do próprio. Mais uma vez, a grande diferença da versão ao vivo é o peso.

Powerslave é a prova de que Bruce Dickinson não é apenas um vocalista incomum e um dos melhores frontmen do rock, mas é também um compositor de mão cheia. Não só a letra, que versa sobre um faraó que não aceita a morte por acreditar ser um deus (Bruce é egiptólogo, daí a sua afinidade com o tema), é um primor. O instrumental bastante climático - totalmente relacionado com a temática da música - também é fantástico, com um show particular da cozinha e, particularmente, de Steve Harris. Ele dá uma verdadeira aula de cavalgada no baixo (ainda mais alto do que na versão original), tocando seu instrumento com uma raça impressionante. O refrão longo que a princípio poderia soar cansativo ao vivo, ficou extremamente poderoso.

Sobre The Number of The Beast, tenho a mesma opinião que o Carlos Eduardo Corrales (dono do site Delfos) expressou na sua resenha sobre o disco. Como ele, acho que essa faixa se tornou famosa muito mais pela polêmica que causou frente aos grupos religiosos conservadores nos EUA por conta da sua temática do que por sua qualidade propriamente dita. Noves fora a voz do Bruce Dickinson e o inimitável grito à Godzilla da versão em estúdio, ao vivo essa canção não apresenta grandes variações.

Hallowed Be Thy Name é daquelas músicas que você tem que ouvir algumas centenas de vezes antes de morrer. Como em Powerslave, seu instrumental também está diretamente relacionado à letra, que fala sobre os últimos momentos de um inocente condenado a morrer na forca, levando-o a questionar a existência de Deus num dos momentos mais sublimes da música pesada. O destaque, além dos cativantes duetos, vai para a interpretação ao mesmo tempo agressiva (característica ausente na gravação de 1982), dramática e emocionate do Bruce, que encarna o eu-lírico e transmite ao ouvinte, sem pieguice, toda a sua angústia. Como ocorreu em Aces High, a melodia ao vivo de Hallowed ficou bem mais veloz. Os solos, por sua vez, ficaram com ainda mais pegada e feeling. Essa é também uma das canções cuja versão definitiva se encontra em Live After Death.

Mais uma curiosidade: a Globo aprontou mais uma das suas no Rock in Rio I justamente numa das canções mais clássicas da Donzela. Antes mesmo de Bruce Dickinson cantar os primeiros versos de Hallowed Be Thy Name, a emissora dos Marinhos simplesmente subiu os créditos e encerrou a transmissão num dos momentos mais empolgantes de qualquer concerto do Maiden. Quando será que a grande mídia hegemônica irá tratar o Heavy Metal com o mínimo de respeito?

Iron Maiden, a única música tocada em todos os shows da Donzela, não tem ao vivo a mesma pegada punk e crua evidenciada no primeiro registro da banda. Contudo, seu refrão ficou muito mais marcante com a inclusão dos backing vocals. Em suma, é um hino que mesmo depois de tanto tempo não perde sua magia e força.

Um dos melhores e mais cativantes refrões do Heavy Metal é o que faz de Run to the Hills uma canção tão especial. Em Live After Death, o grande diferencial é o riff e o próprio refrão, que ficaram ainda mais melódicos do que no registro original. O lado negativo dessa execução ao vivo é a interpretação um tanto quanto preguiçosa de Bruce Dickinson, que só empolga quando chega o refrão.

A música que encerra o primeiro CD de Live After Death é Running Free. Assim como em Iron Maiden, Running Free perdeu em agressividade e em crueza, mas ganhou em melodia. Ah, é em Running Free que Bruce Dickinson resolve fazer aquela brincadeira clichê de gritar alguma coisa e pedir para o público repetir. Isso pode até ser divertido para quem está no show, mas é um saco para quem ouve o disco. Ainda mais por que eles interrompem a música por cinco intermináveis minutos para fazer essa brincadeirinha de mau gosto. Assim, Running Free que originalmente tem pouco mais de 3 minutos, aqui toma desnecessários oito minutos. Tempo suficiente para tocarem Invaders, por exemplo.

Originalmente, a versão CD de Live After Death acabava aí. A versão em vinil conta com um segundo disco com algumas músicas extras. Em um dos mais recentes relançamentos da discografia da banda, esse segundo disco foi incluído na versão CD e é dele que vou falar agora.

O segundo disco começa com Wrathchild. Essa canção já denunciava o som mais elaborado que o Maiden viria a praticar em álbuns posteriores (ela é do Killers, seu segundo trabalho). Aqui a música perdeu grande parte da sua pegada e da sua energia muito por conta da falta de punch do Nicko McBrain. Além disso, a melodia vocal de Wrathchild definitivamente não se encaixa no estilo de Bruce Dickinson. A versão original é bem superior.

Ao contrário do Corrales, acho 22 Acacia Avenue bastante burocrática. O riff não me empolga e a exagerada melodia vocal emperra a música. As qualidades são os ótimos solos e a divertidíssima letra, que dá continuidade à história da prostituta Charlotte, iniciada no primeiro álbum. Essa é uma das poucas canções que o Maiden não conseguiu melhorar ao vivo.

Children of the Damned ficou formidável em Live After Death. Sua gravação original, que já era bastante melodiosa, conseguiu ficar ainda mais grudenta. Os solos deixaram de ser tão cadenciados e as linhas vocais que já eram fantásticas, tornaram-se mais emotivas. E como a maioria das músicas presentes aqui, ficou mais pesada, caracterizando-se de vez como uma power ballad, o que a Donzela parece ter esquecido como se faz.

Adrian Smith e Dave Murray arrumam a casa para Steve Harris detonar mais uma das suas infinitas linhas de baixo deveras criativas. Die With Your Boots On (algo como morra com dignidade) é mais uma daquelas músicas perfeitas com um instrumental muito coeso. Em Live After Death, Die With Your Boots On é mais acelerada e o baixo está no talo, quase falando por si próprio. É impressionante a velocidade com que Harris toca seu instrumento. Mais uma gravação definitiva.

A música derradeira dessa versão de Live After Death é a grandiosa Phantom of the Opera. Sua letra, baseada na história francesa homônima escrita por Gaston Leroux, versa acerca de um assassino deformado que esconde sua deficiência física por trás de uma máscara e que se apaixona por uma garota, sem, no entanto, ter seu amor correspondido por conta da sua aparência nada aprazível. Instrumentalmente falando, Phantom of the Opera é possivelmente a canção mais virtuosa de toda a carreira do Maiden. As bruscas transições rítmicas, o baixo impecável e as guitarras dobradas (ainda mais técnicas aqui devido à presença de Adrian Smith, que não gravou a versão original) ditam o andamento de mais um clássico.

Existe ainda uma versão limitada lançada em 1995 que substitui esse segundo disco resenhado acima por um outro que tem versões ao vivo da instrumental Losfer Words (Big ‘Orra), e as mais antigas Sanctuary e Murders in the Rue Morgue. Essa versão é quase impossível de encontrar hoje em dia e não deve sair muito barata para aqueles completistas que querem ter tudo da banda.

Live After Death é isso: um desfile de vários clássicos executados de forma única e espontânea, algo que o Maiden não faz mais atualmente. Ouça essa preciosidade e você entenderá porque não se faz mais show como antigamente.

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Abaixo você confere o vídeo de Aces High do DVD Live After Death, recentemente lançado.